CINEINSITE
Comédia de costumes traz Woody Allen na pele de um cafetão
Por João Carlos Sampaio

O ator John Turturro, bastante identificado com o cinema independente norte-americano, vez por outra também experimenta a função de diretor, também em obras autorais, filmes baratos.
É o que fez, por exemplo, em Romance e Cigarros (2005) e Passione (2010). Agora repete a dose na comédia Amante a Domicílio (2013), contando com grande elenco.
A obra parece muito com o tipo de comédia de costumes, que o prestigiado cineasta Woody Allen costuma fazer. Não por acaso, ele próprio topou atuar sob a batuta de Turturro e vivendo um personagem que se assemelha a muitos que já interpretou em sua longa e bem sucedida carreira.
Amante a Domicílio é uma fábula moral que parte de uma situação fértil para o desenvolvimento de todo o tipo de enganos e tropeços, alicerces fundamentais das chamadas "comédias de erros".
Na trama, o veterano livreiro Murray, encarnado por Woody Allen, está triste com a decadência de seus negócios.
Está prestes a fechar a livraria especializada em usados (sebo), já que as pessoas parecem não se interessar mais por livros velhos.
Sexo
É quando ouve uma solicitação nada comum de sua médica, a Dra. Parker, interpretada por Sharon Stone, atriz que foi musa do cinema nos anos 1980.
A personagem está disposta a tentar experiências sexuais diferentes, inclusive com a concordância do marido. Ela pensa numa noite a três, o famoso ménage à trois.
Murray garante para ela que vai encontrar o parceiro sexual perfeito, em troca de algum dinheiro. Ou seja, ele pretende agir como cafetão e daí procura o amigo "Fioravante", pacato florista, homem dedicado à jardinagem, que é vivido pelo próprio roteirista e diretor deste filme, John Turturro.
Nem é preciso dizer que a proposta assusta o personagem. Aliás, da mesma maneira que desconcerta o espectador. Turturro tem 57 anos e está longe do physique du rôle de um amante profissional, um "prostituto".
Aliás, seus personagens, ao longo de sua carreira, passaram longe da ideia de galã, mesmo em sua juventude.
Assista ao trailer de Amante a Domicílio:
Cafetão
Por sua vez, Woody Allen, atualmente com 78 anos, está igualmente bem distante do porte avantajado, do jeito malandro e safo, que costumam ter os cafetões do cinema.
Na prática, a simples visão dos dois atores escalados para estes papéis já constitui uma piada. Ainda mais intensa, quando a mulher a ser saciada é uma ex-musa do cinema, como Sharon Stone.
Antes do tal ménage à trois é marcado um encontro e, a partir dele, surge o inigualável Fioravante. Um amante gentil, senhor do timing para o sexo, homem viril e doce ao mesmo tempo, uma espécie de variante do latin lover.
Claro que há graça nisto, mas também o tom exato para a história não virar uma sátira aos moldes que talvez o cinema de Allen gostaria.
Turturro segura as rédeas. Cria situações para que esta persona que emerge do seu tipo vá se consolidando, inclusive no papel de amante de outras mulheres.
Claro que o amoral Murray adora o progresso do seu produto e incentiva o amigo com justificativas tolas e uma verve falante, que lembra os melhores diálogos dos filmes do próprio Woody Allen.
Surpresas
Não cabe apresentar mais detalhes do argumento do filme, sob pena de diminuir o prazer do espectador em se surpreender com a história.
No entanto, há de se ressaltar que o voraz Fioravante vai encontrar uma cliente desafiadora, capaz de tirá-lo de sua zona de conforto. Trata-se da recatada Avigal, uma viúva judia, interpretada pela atriz Vanessa Paradis.
Entre observações morais e situações divertidas, Amante a Domicílio cria uma crônica urbana e sentimental muito cativante. Maduro trabalho de Turturro, que se desdobra nas funções de roteirista, ator e diretor, com notável desenvoltura.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes