DIA DA CAPOEIRA
Documentário sobre Môa do Katendê semeia esperança e amor pelo Brasil
Filme "Môa, Raiz Afro Mãe" estreia hoje, no Dia da Capoeira, e instiga amor pelas tradições culturais da Bahia
Muitas pessoas em Salvador e pelo Brasil só ouviram falar sobre o mestre Môa do Katendê após ele ter sido assassinado na madrugada que terminou resultando no primeiro turno das eleições de 2018. O mestre da capoeira foi vítima de intolerância política. Mas o documentário “Môa, Raiz Afro Mãe” não é tanto sobre o passado, quanto o é sobre indicar caminhos para o futuro.
A obra cinematográfica, que começou a ser produzido meses antes do assassinato que chocou o Brasil, representa um sonho do próprio Môa de contar sua história e a dos movimentos que criou e fortaleceu. Numa sessão de estúdio, gravando as primeiras versões do que viria a se tornar um álbum musical que compartilha o mesmo nome do filme, o capoeirista, cantor e compositor traçou as orientações de como ele gostaria que contassem sua história. Conversaram sobre o projeto, gravaram algumas primeiras entrevistas e anotaram em um papel a lista de pessoas indicadas por Môa para serem entrevistadas pela equipe de produção do filme.
Assim, se iniciou um processo de quatro anos de produção, atravessados por uma pandemia, que resultou neste filme, que hoje, no Dia Nacional da Capoeira, chega a cinemas ao redor do Brasil, permitindo que mais pessoas entrem em contato com a história deste mestre da cultura do nosso país.
Em entrevista ao Cineinsite A TARDE, Gustavo McNair, diretor e roteirista do filme, comentou sobre o “poder transformador” gerado pelo contato com a história e a arte de Mestre Môa. “A gente sente que as pessoas que não conheciam ficam muito impressionadas com a história dele e transformadas mesmo, inspiradas.”
O documentário oferece uma oportunidade de conhecer a vida e obra de Môa do Katendê — compositor, percussionista, artesão, educador, frequentador do candomblé e mestre de capoeira — e, através de Môa, o filme desvenda a história de Salvador no candomblé, na capoeira, na música e no carnaval, passando pelos blocos de índio e afro, os cortejos folclóricos e as rodas de capoeira nas praças e ruas.
“O Môa é uma porta de entrada para quem não tinha conexão com essa cultura”, comentou McNair. “Você sai do filme intrigado e com vontade de amar o Brasil, vendo caminhos possíveis para um futuro melhor”, afirma o realizador.
O mestre aparece muito vivo no filme. Enquanto escutamos sua voz nas entrevistas e os relatos de artistas como Gilberto Gil e Lazzo Matumbi que recontam a história do capoeirista, sentimos que Môa segue cantando e dançando nas rodas de capoeira entre Salvador, São Paulo e Paris. São nos breves instantes quando a voz e o olhar dos entrevistados entregam saudade, que somos relembramos que o filme é uma composição de memórias póstumas.
Mas como afirma Russo Passapusso em entrevista no próprio filme, quando se pensa nos grandes mestres que já faleceram, não deve ser no sentido de “olha eles lá atrás”, mas sim enxergá-los no futuro, apontando caminhos para continuarmos a seguir.
O documentário conta ainda com depoimentos de figuras como Gabi Guedes, Luedji Luna, Chico César, Márcia Short, Letieres Leite, Fabiana Cozza, Mestre Plínio, Negrizu, e muitos outros que também estão presentes nas músicas do disco “Raiz Afro Mãe”, disponível em diversas plataformas digitais de música.
Ao refletir sobre a vida do mestre e o filme, McNair afirmou que “todo o ensinamento de Môa está em volta de trazer a ancestralidade projetando para o presente, futuro e de uma reconexão com nossa identidade brasileira, com a nossa cultura originária que é vinda da África, se materializa aqui, se mistura com a indígena, a portuguesa e faz essa cultura tão própria, tão única.”
O próprio projeto do filme e do disco “Raiz Afro Mãe” começou dessa intenção do compositor de colocar uma roupagem moderna no tradicional ritmo do Ijexá para chegar em novas pessoas e atingir os jovens que estão distantes da tradição. Assim, o que Katendê abre são caminhos de reconexão em um Brasil que anda distante de sua própria cultura e origens. “A raiz africana do Môa, sua raiz afro mãe, se abre em vários galhos que apontam para caminhos de futuros que podem ser semeados pelo Brasil todo.”
“Môa manteve um amor, uma esperança e acreditava no Brasil com muita força e a gente tem que aprender com isso muito. Ele abria caminhos possíveis e múltiplos com a nossa cultura originária que podem ajudar a gente a ter um futuro mais unido, de amor ao Brasil, de empatia com o próximo, da gente se identificar de novo como brasileiro", concluiu McNair.
“Môa, Raiz Afro Mãe” está em cartaz no Cine Glauber Rocha e na Saladearte CineMAM, em Salvador. Confira as sessões disponíveis no Cineinsite A TARDE.
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