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Novo suspense do diretor de "O Sexto Sentido" embarca nos perigos do tempo
Por Bianca Carneiro

Em tempos modernos, Lulu Santos canta que o tempo voa e escorre pelas mãos, mesmo sem se sentir. Aliado em alguns casos, vilão em outras situações, o tempo e seu impacto é o tema do mais novo filme de suspense do indiano M. Night Shyamalan, um dos mais celebrados diretores da cultura pop, responsável por sucessos como “O Sexto Sentido” e “Corpo Fechado”.
Inspirado na graphic novel francesa Sandcastle, de Pierre Oscar Lévy e Frederik Peeters, publicada originalmente em 2011, o thriller “Tempo” (Old), que estreia nesta quinta-feira, 29, conta a história da família Cappa. De férias em um resort tropical luxuosíssimo (e de procedência duvidosa, claro), o casal Guy (Gael Garcia Bernal) e Trisca (Vicky Krieps), junto com os filhos Maddox (Thomasin McKenzie) e Trent (Alex Wolff), se veem diante de um pesadelo ao descobrirem que a praia isolada onde eles estão relaxando por algumas horas está de alguma forma os fazendo envelhecer rapidamente. A cada meia hora no lugar, eles perdem um ano de suas vidas.
É até curioso um filme com esta premissa estrear durante a pandemia de Covid-19. Com a exigência de isolamento social em casa, muitas vezes a percepção é de que o tempo não passa em meio à mesmice do dia-a-dia. Por outro lado, há quem diga que o tempo agora está passando rápido demais, sobretudo em função do maior tempo conectado à internet, onde tudo é instantâneo. Porém, nos dois casos, a impressão é de que o tempo está sendo desperdiçado e de que a vida, ameaçada pelo vírus que já matou milhares de pessoas, é curta demais e pode acabar a qualquer instante.
Esta é a ideia principal de Tempo. Com o envelhecimento extremamente acelerado, os personagens enfrentam questões cruciais da existência humana como o valor da família, a relevância de determinados conflitos pessoais, a efemeridade da beleza, o adoecimento do corpo e o amadurecimento. Na discussão sobre o que é envelhecer, cada um desenvolve sua própria noção do que é ver o tempo passar, enquanto experimenta sentimentos novos e lida com a morte iminente.
Embora a trama se passe em uma ilha paradisíaca e totalmente ensolarada, Shyamalan não deixa de lado o seu suspense característico. A chave para isso é o som e a sequência de acontecimentos bizarros que dão o tom ao terror psicológico. Outro ponto são os enquadramentos da câmera, que evita fazer movimentos panorâmicos para deixar o espectador tão preso na ilha quanto os personagens. A câmera, inclusive, funciona de forma independente, como testemunha da história e sendo também a responsável por mostrar o tempo passando, entre um movimento e outro.
No entanto, apesar do tema central ser o drama do tempo, Shyamalan deixa claro que o objetivo do filme é explorar o suspense e a ação, assim, é bom não esperar um roteiro reflexivo, que explore com afinco as questões envolvendo o envelhecimento. Em prol da tensão que marca o longa, por vezes ele deixa de desenvolver alguns personagens e se torna menos criativo ao longo do filme, deixando a cargo do espectador fazer a leitura sobre o amadurecimento de cada personagem.
De qualquer modo, a provocação sobre o que é tempo e como devemos gastá-lo, pano de fundo do longa, é válida, especialmente nestes tempos onde uma doença mortal limitou as experiências tidas como significativas para a sobrevivência emocional da humanidade. Uma das maiores lições é que o tempo é incontrolável, embora se tente domá-lo. É a experiência do tempo e da iminência da morte em conflito com a ideia do tempo que se tem e daquele que se sonha em ter.
Tempo já está disponível nos cinemas de Salvador. Confira os locais e horários das sessões no Cineinsite A TARDE.
Assista ao trailer de Tempo:
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