"O Brasil nunca viveu sem a escravidão", diz diretor de "Pureza" | A TARDE
Atarde > A TARDE + > CINEINSITE

"O Brasil nunca viveu sem a escravidão", diz diretor de "Pureza"

Cineasta está em Salvador para sessão do filme mais bate-papo na Saladearte Cinema do Museu

Publicado terça-feira, 21 de junho de 2022 às 17:01 h | Atualizado em 21/06/2022, 17:11 | Autor: Da Redação com informações de Lucas Franco
Renato Barbieri também falou sobre suas perspectivas para o cinema brasileiro nos próximos anos
Renato Barbieri também falou sobre suas perspectivas para o cinema brasileiro nos próximos anos -

Em meio às comemorações pelo Dia do Cinema Brasileiro, celebrado no último domingo, 19, o audiovisual ainda precisa de muita ajuda para resistir, segundo o cineasta Renato Barbieri. Diretor de “Pureza”, que segue em cartaz por todo o país, ele esteve em Salvador para sessão especial do filme acompanhada de bate-papo na Saladearte Cinema do Museu e conversou com o Cineinsite A TARDE sobre suas perspectivas para o setor nos próximos anos.

Em Pureza, Barbieri conta a história real de Pureza Lopes Loyola (vivida por Dira Paes), brasileira que se tornou símbolo do combate ao trabalho escravo no país enquanto procurava seu filho Abel, desaparecido após partir para o garimpo na Amazônia. No decorrer das buscas, ela acaba encontrando um sistema de aliciamento e cárcere de trabalhadores rurais.

Ressaltando a importância das políticas públicas de fomento à cultura e ao cinema, o diretor conta que o filme nunca teria saído das páginas do roteiro se não fosse o incentivo. Para o diretor, o sucateamento de entidades do audiovisual, sobretudo da Agência Nacional do Cinema (Ancine), representa uma perda de conhecimento que enfraquece a produção nacional.

“Pureza só existe graças a políticas públicas de apoio ao cinema, da Ancine, do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Eu acho que de 2017 para cá houve um corte na Ancine e isso foi lamentável porque muitas produtoras fecharam. É um conhecimento que se perde, quando você dispensa uma equipe, ela detém um conhecimento de como fazer cinema, que é uma atividade muito complexa (..) Esperamos que de 2022 pra frente nunca mais tenhamos um retrocesso no cinema como nesses últimos anos”, afirmou ele, na noite da segunda-feira, 20. 

Deixar de fazer cinema no Brasil é também perder a chance de abordar importantes temáticas que cercam o país, como é o caso de Pureza e o trabalho análogo a escravidão. A Bahia, por exemplo, registrou em 2021 o maior número de pessoas nestas condições dos últimos sete anos. Conforme a Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo da Bahia (COETRAE/BA), 188 vítimas foram resgatadas em todo o estado.

Sobre isso, Barbieri diz que, mesmo com a abolição, o Brasil nunca viveu verdadeiramente livre da escravidão. “Eu vejo que a escravidão contemporânea começou no dia seguinte de 14 de maio de 1988. O Brasil nunca viveu sem a escravidão, nunca foi um país livre”, reflete.

“Pureza traz isso, essa triste verdade brasileira de que nós somos um país escravagista, nós temos centenas de milhares de escravizados, isso neste momento. Então o filme Pureza é um grito, um grito de amor dessa figura inspiradora que é dona Pureza Lopes Loyola e também é um grito de horror desse Brasil profundo e escravagista que lamentavelmente tem seus tentáculos, a sua mente central nas grandes cidades, nos lugares de decisão”, acrescenta.

Ligação com a Bahia

Renato participou da exibição especial na Saladearte Cinema do Museu, na capital baiana. A iniciativa, que conta com sessão mais bate-papo, também acontece nesta terça-feira, a partir das 19h30. 

O diretor diz que é muito ligado à Bahia e que Salvador foi uma das cidades que mais acolheu Pureza. No estado, ele filmou o documentário “Atlântico Negro - Na Rota dos Orixás”, além de uma minissérie documental sobre a Guerra da Independência da Bahia. 

“Pureza não é uma produção baiana, não tem atores e atrizes baianas, e no entanto, Salvador se ligou pelo humanismo do filme, pelo tema, pela sua sensibilidade, sou muito grato por isso (..) Tenho uma ligação forte com a negritude e ancestralidade da cidade e fico muito feliz que uma pessoa inspiradora como Pureza esteja inspirando os baianos”, agradeceu. 

Confira sessões de Pureza no Cineinsite A TARDE.

Publicações relacionadas