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Praça Paris é um inquietante confronto de realidades
Por Vinícius Marques*
Praça Paris, nova longa de Lucia Murat, é um suspense que consegue ser perturbador por nos colocar frente a situações tão próximas de nossa realidade. O cotidiano entra em cena e toma a tela diferenciando o filme de outros do gênero, que costumam apelar para sustos gratuitos.
O filme, que já está em cartaz, conta a relação que se desenvolve entre Camila (Joana de Verona), uma psicóloga portuguesa que está realizando pesquisa numa universidade carioca, e Glória (Grace Passô), que trabalha como ascensorista na mesma universidade.
Glória cresceu sofrendo abusos do pai. Na vida adulta tem sua vida controlada pelo irmão Jonas (Alex Brasil), que mesmo dentro da prisão exerce poder sobre a comunidade em que vivia. Sobre o pretexto de protegê-la, Jonas decide quem deve ou não se aproximar dela através de métodos sempre violentos. Durante as sessões de terapia que realiza com Glória, Camila vai descobrindo o universo de sua paciente e passa a se sentir insegura. Com o passar do tempo, Camila sente que essa violência, que de certa forma acaba sendo naturalizada por Glória, pode chegar à sua rotina.
“É uma ideia que eu tenho tem mais de 10, 15 anos. No momento que tive a ideia, lembro que foi uma época de violência muito grande no Rio”, lembra Lucia Murat em conversa com A TARDE. “Uma amiga, coordenadora de um centro de atendimento de uma universidade, me contou que tinha feito um trabalho com alunas e uma delas estava num processo de transferência, porque rolou algum tipo de paranoia em função do contato com pessoas que sofriam algum tipo de violência”.
Elenco
Praça Paris dá voz ao povo afro-brasileiro através de uma jovem negra da favela, presa entre a violência interminável de seu ambiente e o flerte progressivo com o desastre na sua relação com sua psicoterapeuta estrangeira, branca e de classe média. Uma dicotomia estabelecida entre a paranoia da mulher branca e a negra sem privilégios. O destaque aqui fica para a forte atuação de Grace Passô.
“Eu estava procurando uma pessoa que não fosse muito clichê quando encontrei a Grace. Quando começamos a fazer o teste de elenco, ela era a minha primeira opção”, conta Lucia. Escolha certa. “Quando eu decidi que a personagem da Camila seria estrangeira, foi para poder mostrar de forma exacerbada a questão do convívio cultural, do estranhamento”, explica.
As interações entre as duas mulheres são o ponto alto de Praça Paris, principalmente quando se trata de apertar o nó entre elas. Ainda há mal-estar suficiente para manter o público intrigado após a exibição do filme.
*Sob a supervisão da editora Márcia Moreira
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