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"Traz uma história que ficou injustiçada", diz Fabrício Boliveira sobre Simonal
Por Bianca Carneiro e Natália Figueiredo*

Quando Wilson Simonal estreou nas paradas de sucesso da música brasileira, lá nos anos 60, o Brasil pôde assistir pela primeira vez um negro apresentar sozinho um programa de TV. Porém, anos depois da ascensão, veio o declínio: acusado de delatar outros grandes artistas como Gilberto Gil e Caetano Veloso à ditadura, Simonal amargou a queda da sua carreira e a fama de “dedo-duro do governo”.
Dedicada a convencer o público da inocência do intérprete de "Nem vem que não tem", a cinebiografia “Simonal” do diretor Leonardo Domingues, faz um apanhado da vida do cantor desde o seu início na música, como integrante do grupo “Dry Boys”. Com uma longa lista de trabalhos na televisão e no cinema, fica a cargo do baiano Fabrício Boliveira dar vida ao artista, que, em 2012 foi eleito o quarto melhor cantor brasileiro de todos os tempos pela revista Rolling Stone Brasil.
Apesar de não ser fisicamente parecido com Simonal, Fabrício consegue trazer grande parte das características mais conhecidas do artista. O “swing”, o carisma, a presença de palco e a “boa praça” foram alguns dos elementos chaves na interpretação do baiano. Quem gostou de ver Boliveira ao lado da também global Ísis Valverde, em “Faroeste Caboclo” (2013) terá um motivo a mais para conferir o filme. A atriz encarna a esposa do cantor, Tereza Pugliesi, em um relacionamento repleto de reviravoltas e claro, muita química.
Porém, talvez, ao tentar fazer com que Simonal seja conhecido por um público mais jovem, o filme peca em narrar tão minuciosamente todos os detalhes da transformação do ex-Dry Boy em estrela nacional. O ritmo acaba se arrastando um pouco, e acelera demais ao mostrar o fatídico dia do depoimento que o cantor deu à polícia e suas consequências para a carreira dele.
Trazendo as figuras de Gil e Caetano como alguns dos delatados no depoimento, e com isso, motivadores da revolta popular, quem assiste pode sentir falta de uma melhor contextualização dos dois na trama, principalmente porque não faltaram as figuras de artistas famosos como Elis Regina, Erasmo Carlos e Luis Carlos Miele, em uma espécie de universo cinematográfico da música brasileira.
No entanto, isso não tira o mérito de debater a contribuição musical do artista e sua música de “pilantragem”, além de mostrar o outro lado de uma história que até hoje tenta ser recontada pelos familiares do músico. Além de fazer refletir, “Simonal” também convida todo mundo a se apaixonar pela trajetória do carioca e entender o porque dele cantar com propriedade “mamãe passou açúcar em mim”.
Dando vida a Simonal
Em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, o ator Fabrício Boliveira falou um pouco sobre a importância de trazer essa história para o cinema brasileiro e como foi sua preparação para o papel.
Mesmo contando uma história que se passa nos anos 60/70 e sendo gravado em 2016, o filme trata de temas extremamente atuais, como fake news e racismo. "Eu acho que traz uma história que ficou injustiçada, que está no imaginário das pessoas e criou uma lenda, uma mentira, uma fake news e poder dar nitidez pra essa história, eu acho que é o mais importante disso”, diz Fabrício.
“Eu fiz esse filme em 2016, ainda não tinha o perigo da ditadura, se falássemos nisso naquela época seria uma piada. Foi uma sincronicidade esse filme chegar nesse momento. A fake news ainda ganhou outra proporção agora com um presidente eleito a partir disso”, acrescenta Fabrício.
Para o ator, o filme deixa a trajetória de Simonal mais nítida não só ao mostrar sua inocência. “O filme deixa um pouco mais nítido que realmente ele foi injustiçado em ter sido acusado de ser um delator e culpado por ter pedido pra dar uma “prensa”, por isso ele pagou com a justiça. Eu acho, analisando toda a história e sendo um homem negro, que o caso dele tem haver com racismo”.

Fabrício também conta que a preparação para dar vida ao personagem foi intensa. “Então, eu caí nas biografias que foram escritas sobre o Simonal e outras de amigos dele. Fui montando o personagem, estive muito próximo da família, acompanhei alguns shows dos filhos dele Max e Simoninha, e também tem a Patrícia (filha de Simonal) que dividiu muita coisa da vida dela”.
“Nós resolvemos que eu ia dublar, então tive que jogar por um outro lado, eu resolvi fazer a sedução do Simonal presente. Eu investi nos shows e fiz aulas de canto, tinha fonoaudióloga, eu não cantaria de verdade, mas a minha cara tinha que estar na nota certa que ele cantaria, até para criar essa ilusão de quem está cantado”, acrescenta ele.
Simonal é uma das principais estreias da semana e já está em cartaz na maioria das salas em Salvador. Confira todos os horários e locais de exibição aqui no Cineinsite.
*Estagiárias sob supervisão da editora Maiara Lopes
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