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ENTREVISTA

Uma história de paixão, perseverança e mudança positiva na Alfândega Brasileira

Confira a entrevista com a Sandra Magnavita, delegada da Alfândega de Salvador

Por Da Redação

09/11/2024 - 10:54 h
Sandra Magnavita, delegada da Alfândega de Salvador
Sandra Magnavita, delegada da Alfândega de Salvador -

A Série World Customs Organization (WCO - Organização Mundial das Alfândegas) sobre Mulheres de Sucesso na Alfândega traz à tona as experiências de mulheres que moldaram o futuro da Alfândega por meio de sua dedicação e liderança. Este mês, conversamos com Sandra Aparecida Magnavita Castro, uma figura notável na Alfândega Brasileira, na Bahia, cuja carreira é marcada pela resiliência, liderança transformadora e paixão pela mudança social. Desde enfrentar desafios da infância até liderar projetos significativos como o novo Projeto Exportação baseado no sistema de Janela Única, a jornada de Sandra reflete um profundo comprometimento com a inclusão e um desejo de fazer a diferença. Sua história nos lembra que por trás de cada profissional talentoso existe um caminho pessoal de aprendizado e determinação.

WCO: Sandra, sua carreira deu algumas voltas interessantes. Como você se encontrou na Alfândega? Era algo que você sempre planejou fazer?

Sandra Aparecida Magnavita Castro: De forma alguma. Na verdade, comecei como engenheiro civil, mas, em 1994, o Brasil passou por uma crise econômica, e isso me fez repensar minhas opções. Meu pai, que era servidor público, me encorajou a considerar uma carreira no setor público. O vestibular para a Receita Federal foi bastante desafiador, então passei um ano me preparando, estudando direito, contabilidade e outras matérias. Quando passei no exame em 1996, fiquei emocionado, embora não soubesse muito sobre Alfândega naquela época, então, não surpreendentemente, meu primeiro emprego na Receita Federal envolveu uma curva de aprendizado íngreme.

Comecei minha carreira no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, o segundo mais movimentado do Brasil, trabalhando em operações de exportação. Foi lá que me apaixonei pela área. O mundo da Alfândega era dinâmico, em constante evolução - não havia dois dias iguais. Eu me vi ansioso para aprender e melhorar, e essa paixão permaneceu comigo desde então. É o que me mantém em movimento; sempre há um novo desafio para enfrentar, e eu prospero nisso.

WCO: Você desempenhou um papel significativo na liderança do Projeto de Exportação no programa Janela Única. Pode compartilhar mais sobre essa experiência?

Sandra Aparecida Magnavita Castro: A Janela Única, ou “Portal Único”, foi um dos projetos mais ambiciosos dos quais participei. Tudo começou em 2014, quando fui convidada para gerenciar o Projeto de Exportação devido à minha experiência em exportações aduaneiras. Nós nos propusemos a simplificar e agilizar os procedimentos aduaneiros em todo o Brasil, seguindo os princípios de simplificação, harmonização e previsibilidade da Convenção de Kyoto Revisada e as diretrizes delineadas no Acordo de Facilitação de Comércio da OMC.

No início, o projeto era pequeno, mas rapidamente cresceu além do que havíamos previsto. Liderei uma equipe de 80 pessoas e coordenei com 22 partes interessadas, incluindo do setor privado e de vários departamentos governamentais. Definitivamente, houve conflitos ao longo do caminho; quando você está lidando com tantos interesses diferentes, os desacordos são inevitáveis. Mas eu acreditava no potencial do projeto, e essa crença me fez seguir em frente.

O ponto de virada foi quando a equipe começou a perceber que não estávamos apenas mudando processos para nossas próprias instituições – estávamos construindo algo para o país inteiro. Ver essa mudança de mentalidade, com todos se unindo por uma causa comum, foi incrivelmente gratificante.

WCO: Liderar uma equipe tão diversa deve ter trazido seus próprios desafios, especialmente em um campo dominado por homens. Como você lidou com isso?

Sandra Aparecida Magnavita Castro: Sempre trabalhei em ambientes dominados por homens, primeiro em engenharia e depois na Alfândega, então acho que já estava acostumada quando cheguei aqui. Estudar engenharia definitivamente me ajudou nesse sentido – me preparou para a realidade de estar em um campo onde as mulheres geralmente são minoria. Me ensinou a ser assertiva, a falar e a me manter firme. Nunca vi meu gênero como uma barreira, apenas algo que vinha com o território.

Dito isso, percebi rapidamente que ser uma líder eficaz exige mais do que apenas assertividade. Eu precisava desenvolver inteligência emocional e aprender a me conectar com as pessoas em um nível mais profundo. Liderança não é apenas dar instruções, é ouvir, entender e construir relacionamentos.

Para ser honesta, nem sempre fui assim. Quando criança, eu usava botas ortopédicas devido a uma condição médica e tinha um temperamento um pouco instável. Se eu ficasse chateada, chutava as pessoas com elas! (risos) Demorou um tempo para eu aprender a administrar minhas emoções e canalizá-las de uma

forma positiva. Felizmente, nossa organização oferece treinamento em áreas como habilidades interpessoais e gestão, e também me esforcei para aprender por conta própria. Eu queria entender melhor as pessoas, não apenas como líder, mas como pessoa. Essa jornada de autoaperfeiçoamento foi fundamental para quem eu sou hoje.

WCO: Como você se sentiu quando o Projeto Exportação do programa Janela Única foi concluído? Você estava pronta para assumir um novo desafio imediatamente?

Sandra Aparecida Magnavita Castro: Senti uma mistura de alívio e excitação. Definitivamente, havia uma sensação de "missão cumprida", mas nunca fui de ficar parada por muito tempo. Eu sabia que precisava de algo novo para me manter engajada, então mudei para a gestão de riscos. A alfândega está sempre evoluindo, e essa é uma das coisas que eu amo nela - sempre há um novo problema para resolver ou uma nova habilidade para adquirir. Isso me mantém motivada e focada no futuro. Depois de trabalhar em exportações e gestão de riscos, fui gerente na Alfândega de Salvador por três anos, gerenciando dois portos e um aeroporto internacional na Bahia.

WCO: Além de suas realizações profissionais, você também está ativamente envolvida na Comissão de Mulheres, Equidade, Diversidade e Inclusão. O que a levou a participar dessa iniciativa?

Sandra Aparecida Magnavita Castro: A Comissão foi criada em outubro de 2023 pela Receita Federal, e fui atraída por ela porque sempre fui apaixonada por inclusão, não apenas para mulheres, mas também para pessoas com necessidades especiais. Enquanto crescia, nunca vi minha deficiência física como uma limitação. Meus pais me tratavam da mesma forma que meus irmãos, que eram muito mais altos do que eu, enquanto eu tinha menos de 1,4 m de altura, e isso me deu um forte senso de identidade. No entanto, eu sabia que nem todos eram tão receptivos, e isso me motivou a lutar contra o preconceito.

Entrar para a Comissão me deu uma plataforma para defender um ambiente mais inclusivo e ajudar a criar uma cultura onde todos podem atingir seu potencial máximo. É mais do que apenas promover a igualdade de gênero — é garantir que cada pessoa, independentemente de sua origem ou habilidades, tenha a oportunidade de prosperar.

WCO: Você também está liderando um projeto que dá uma segunda vida a bens apreendidos. Você pode nos contar mais sobre isso?

Sandra Aparecida Magnavita Castro: Essa iniciativa é algo que realmente me apaixona. Na minha função atual como Chefe da Alfândega da Bahia, vi muitos produtos falsificados apreendidos sendo destruídos, e isso simplesmente não parecia certo, especialmente considerando os níveis de pobreza no Brasil. Pensei que deveria haver uma maneira melhor, então me envolvi em uma iniciativa da Alfândega Brasileira, buscando oportunidades de reaproveitar esses produtos. Fizemos parcerias com universidades e outras organizações para encontrar maneiras de transformar esses itens. Por exemplo, estudantes de moda transformam roupas em uniformes para escolas ou times esportivos. Claro, removemos os rótulos infratores e outros sinais de marca problemáticos, e trabalhamos em estreita colaboração com os representantes dos detentores de direitos. Tem sido muito gratificante ver esses itens, que teriam sido descartados, agregarem valor às pessoas necessitadas.

WCO: Parece que seu trabalho a mantém bastante ocupada. Como você encontra tempo para si mesma?

Sandra Aparecida Magnavita Castro: (sorri) Eu tiro um tempo para mim. Sou apaixonada por artesanato, especialmente trabalhar com madeira e pintura. É minha maneira de relaxar e expressar minha criatividade. Meu marido compartilha essa paixão e, embora cada um tenha seu próprio estúdio, gostamos de fazer artesanato juntos. É importante encontrar um equilíbrio, especialmente quando a vida fica agitada.

WCO: Você mencionou a importância de equilibrar sua carreira e vida pessoal. Você pode nos contar mais sobre sua família e o papel que eles desempenharam em sua jornada?

Sandra Aparecida Magnavita Castro: Sou casada há 27 anos e meu marido tem sido um tremendo apoio ao longo da minha carreira. Com todas as viagens que vêm com este trabalho, é reconfortante saber que tenho alguém que pode cuidar das coisas em casa. Na verdade, tenho duas viagens chegando em novembro e sei que ele cuidará de tudo sem problemas enquanto eu estiver fora.

Não temos filhos, mas meus pais, que têm 98 e 91 anos, ainda estão por aí e são muito ativos. Às vezes, eles são um pouco ativos demais! (risos) Eles certamente me mantêm alerta e, embora às vezes seja desafiador, sou grata por cada momento que passo com eles.

WCO: Sua dedicação à liderança e à mudança social é evidente. Que conselho você daria às jovens mulheres na Alfândega que aspiram a cargos de liderança?

Sandra Aparecida Magnavita Castro: Não tenha medo de ocupar espaço e fazer sua voz ser ouvida. A Alfândega pode ser um campo dominado por homens, mas isso não significa que não haja espaço para as mulheres liderarem. Desenvolver inteligência emocional é essencial — ajuda você a se conectar com as pessoas e orientá-las de forma eficaz. Eu também encorajaria as jovens mulheres a buscar oportunidades de mentoria. Na Receita Federal, estamos trabalhando no lançamento de programas de mentoria em 2025 para ajudar a preparar as mulheres para cargos de liderança. Quando apoiamos umas às outras, todas nos tornamos mais fortes.

WCO: Muito obrigada por compartilhar sua jornada conosco, Sandra. Sua história é realmente inspiradora, e foi um privilégio aprender mais sobre a pessoa por trás das conquistas.

Sandra Aparecida Magnavita Castro: Obrigada. É uma honra compartilhar minha história, e sou profundamente grata à WCO por fornecer esta plataforma. A alfândega não é apenas um trabalho para mim — é uma paixão. Se minhas experiências podem inspirar outras pessoas, então ficarei mais do que feliz em compartilhá-las.

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