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13/03/2006 às 0:00 • Atualizada em 30/08/2024 às 13:26 - há XX semanas | Autor:

A TARDE AGRO

Religião

As pinturas da Catedral

As pinturas da Catedral

Basílica de Salvador



Pereira de Sousa




Pe. Carlos Bresciani brindou a cultura nacional com mais um livro precioso: As pinturas da Catedral Basílica de Salvador. Não é a primeira vez que o ilustre pesquisador aparece e nos ensina algo sempre novo sobre a ação e cultura e apostolado dos jesuítas em nossa terra. Quando veio, Pe. Bresciani lamentou com lágrimas de dor a perseguição de Pombal, Aranda e Choiseul que levaram o papa a suprimir a benemérita Companhia de Jesus. Foram eles que trouxeram para a Igreja Católica novos filhos depois da Reforma Protestante. Muitos católicos se filiaram à Igreja pela ação dos jesuítas. Lembremos só os milhares de batizados pelo admirável Francisco Xavier. No Brasil, foram eles os maiores evangelizadores. Nóbrega, Anchieta e milhares de outros. Pedro Calmon foi um dos que reabilitaram os “Átilas da fé” do nosso poeta Castro Alves. Ninguém definiu melhor os jesuítas que o poeta condoreiro.



Do Pe. Bresciani recebi este livro último e o mais que gentil convite para comparecer ao solene lançamento na Sé Basílica. Atrasado como chegou, não pude comparecer para abraçar o latinista e grecista que é Pe. Bresciani. Já aprendera com ele muitíssimo sobre as pinturas do teto da sacristia. Talvez não houvesse quem descrevesse tais pinturas e ressuscitasse a gesta dos jesuítas, a começar pelo Santo Inácio e Anchieta. O Pe. Francisco Pinto, mártir no sopé de Serra de Ibiapaba, entre o Ceará e o Piauí: irmão João de Sousa, trucidado no ano de 1554 juntamente com o irmão Pedro Correia. Esta era língua, quer dizer, falava a língua dos índios, e era exemplo pregador. E todos os outros quadros do teto da sacristia são apresentados em resumo.



Quero lembrar que a sacristia da Catedral Basílica é única no mundo. Mole imensa de mármore, altar e arcazes pesadíssimos de jacarandá, é sustentada por barrotes de madeira que resiste ao tempo num quase milagre. Quando cheguei ao Brasil, Mons. Renato Galvão disse-me, visite a Catedral Basílica e veja a Botânica pela primeira vez aplicada numa igreja. Realmente, as colunas salomônicas do altar-mor e as capelas laterais ostentam esculturas de abacaxis, bananas, cacaus e cajus. Nos altares laterais, há escultura de cajus, que estão tão bonitos que nos dá vontade de os saborear. Além desses frutos nativos, há a uva, símbolo universal da eucaristia, folhas de acanto como em todo o mundo, e frutas que precisamos de explicar. Não posso transportar para aqui todo o livro, mas o comentário à pintura de Jonas merece meus parabéns, escreve que não é livro profético, mas didático, e a ele se refere Jesus no seu evangelho. Os quadrinhos da vida de Maria Santíssima, embora não pintados na Bahia, vieram de Roma em 1694. São pequeninos quadros de cobre com pinturas magníficas desde o nascimento de Maria até a coroação da Virgem Mãe no seio da Santíssima Trindade. O quadrinho do nascimento de Cristo, onde a luz da gruta vem totalmente do Senhor. Escreve Bresciani: este quadro faz pensar em Gerardo das noites, pois a luz que ilumina as pessoas tem sua fonte no menino Jesus. Ler Bresciani é encher-se de erudição e de santidade. Leiam-no que muito aprenderão com os pintores anônimos e construtores da Sé.


O grande apóstolo



Walter Barreto de Alencar




Paulo foi, depois de Jesus, a mais importante figura do Cristianismo nascente, tendo em vista seu trabalho divulgador. “Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome perante os gentios e os reis, bem como perante os filhos de Israel” (Ato. 9: 15).



Temos como certo que a proposta do Cristo era divulgar idéias e conceitos reformadores do homem e não formalizar religiões em moldes litúrgicos, fechados, excludentes, menores. Ele era e é grande demais para caber em limites tão estreitos. Talvez por isso, ele não tenha conseguido reunir, em vida, numeroso rebanho em torno de si, senão uma falange de judeus que estava descaracterizando o Judaísmo. Entre crentes ou simpatizantes havia até pessoas importantes, como os dois centuriões; Jairo, que era chefe de sinagoga; Nicodemos, doutor da lei; José de Arimatéia, membro do Sinédrio; Zaqueu, publicano.



Depois disso, o Senhor designou outros setenta; e os enviou de dois em dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava para ir. E lhes fez a seguinte advertência: “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para sua seara. Ide. Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos” (Luc. 10: 1/3).



A expansão do Cristianismo só tomou corpo e deslanchou realmente quando o Vaso Escolhido, antevendo com discernimento e acuidade, a dimensão da doutrina, abraçou a tarefa de pregar para os gentios, isto é, também para os não-judeus, alargando as fronteiras do movimento e possibilitando que ele viesse, mais tarde, a ser convertido na mais influente corrente de cultura do pensamento ocidental. Marcião, gnóstico que viveu em Roma no século II, afirmava que Paulo foi o único apóstolo que entendeu realmente o Evangelho, ou seja, a mensagem do Cristo (Enc. Barsa). Não fosse o desempenho decisivo desse empolgado e até obstinado embaixador, o Cristianismo certamente teria ficado restrito a uma pequena seita judaica dissidente, a “Seita dos Nazarenos”: “Porém, tendo nós verificado que este homem (Paulo) é uma peste, e promove sedições entre os judeus esparsos por todo o mundo, sendo também o principal agitador da seita dos nazarenos” (Ato. 24: 5).



Possuía a personalidade forte, inflexível e indomável dos líderes realizadores. Uma vez definido o objetivo, não transigia e empregava toda determinação e vigor até atingir a meta colimada. Assim foi como leal fariseu; assim foi como convicto cristão convertido e transformado.



Inicialmente, os nazarenos constituíam seita de virtuosos judeus que conservavam a cabeleira. Dela faziam parte Sansão, Samuel e João Batista. Só mais tarde essa expressão foi utilizada para designar os primeiros cristãos.



Consoante a referência de Festo a Agripa sobre Paulo, fica evidenciado que Jesus não era conhecido em Roma: “Traziam contra ele algumas questões referentes à sua própria religião e particularmente a certo morto, chamado Jesus, a quem Paulo afirmava estar vivo” (Ato. 25: 19). Quando, porém, Paulo foi enviado preso à Roma para submeter-se a julgamento de César, a Seita dos Nazarenos já não era desconhecida aí: “Contudo, gostaríamos de ouvir o que pensas; porque, na verdade, é corrente a respeito desta seita que por toda parte é impugnada” (Ato. 28: 22).



Nascido em Tarso – cidade da Cilícia, hoje da Turquia, na época sob domínio de Roma após sofrer grande influência da cultura grega –, possuía cidadania romana por direito de nascimento ou herdada do pai ou do avô, que a teriam obtido por mérito ou por compra a alto preço. Essa cidadania conferia certos privilégios, como imunidade ao pagamento de alguns impostos e à execução por crucificação, no caso de condenação à pena capital. Por isso foi poupado de açoites, certa vez, ao ser preso (Ato. 22: 24/30). Terminou de ser criado em Jerusalém onde foi aluno do eminente sábio Raban Gamaliel (Ato. 21: 39; 22: 3), quando lhe foi apresentada a dialética que viria a ser bastante útil nas futuras especulações filosóficas e argumentação nas pregações. Tamanha era a sua desenvoltura que, na autodefesa perante o rei Agripa, impressionou-o sobremaneira: “Então Agripa se dirigiu a Paulo e disse: por pouco não me persuades a fazer-me cristão” (Ato. 26: 28).



Na escola de Gamaliel, foi colega de Barnabé e Estêvão, cujo apedrejamento testemunhara oficialmente. O nazareno Estêvão, um dos mais brilhantes alunos, fora condenado pelo Sinédrio, pela blasfêmia de haver afirmado, numa discussão entre colegas, que Jesus era o Messias, provocando a ira do alunato, incluído Paulo.



De origem e formação judaicas, pertencente ao estamento fariseu, dominava o hebraico, o grego e o latim. Essa base cultural abriu-lhe as portas para a concepção universalista do Cristianismo, seara em que os demais apóstolos menos arejados não penetravam.



As divergências entre Paulo e os demais apóstolos, máxime Pedro e Tiago Menor, evidenciaram-se por ocasião do Concílio Apostólico de Jerusalém, no ano de 49, sobretudo por recusar a necessidade de circuncisão para os recém-convertidos, prática de iniciação judaica que considerava inútil na cristianização. Imbuído da segregação avoenga (procedente dos antepassados] de sua etnia, Pedro defendia ainda que os neocristãos não podiam sentar à mesa com os demais gentios pagãos, do que discordava Paulo. Por essa amplitude de visão, foi cognominado de “o apóstolo dos gentios”, e Pedro, “o apóstolo dos judeus”.



Sensitivo e médium de grande potencialidade, a visão que teve na estrada de Damasco (Ato. 9: 1/9; 22: 1/21; 26: 12/29) transformou-o de exaltado fariseu, perseguidor de cristãos, no apóstolo da cristandade. Essa visão, porém, não foi a única a servir-se de sua mediunidade. Durante os dois anos passados no deserto, para onde se retirou em meditação solitária, teve várias outras revelações robustecedoras de sua convicção inabalável.



(As expressões “sensitivo” e “médium” vêm sendo usadas como sinônimas. Mais próprio, quer-nos parecer, seria reservar-se o termo “médium” para os fenômenos de intermediação que comportem três ou mais indivíduos: o espírito desencarnado, o médium e pelo menos mais outra pessoa. Os fenômenos de visão, por exemplo, são especificamente anímicos do sensitivo, quando não está intermediando para outrem.)



(Extraído do livro Reflexões sobre a Doutrina Crística, de autoria do articulista)





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