ARTIGOS
Cidades inteligentes, de barro
Confira a o artigo de Eduardo Athayde
Por Eduardo Athayde*
A história da construção explica como abrigos e estruturas humanas sofreram diferentes tendências ao longo do tempo, marcada por princípios como a durabilidade dos materiais, o aumento da altura e de vãos dos edifícios, o grau de controle sobre o ambiente interior, a energia e as tecnologias disponíveis para os processos construtivos.
O barro sempre esteve no centro de tudo. Na engenharia, no crescimento urbano, no crescimento populacional e no desenvolvimento das tecnologias. A história da arquitetura permite observar que a inteligência desenvolvida nas construções antigas e modernas sejam analisadas, bem como suas estruturas, materiais e ferramentas.
Na Mesopotâmia, 5.000 anos aC, estão os exemplos dos primeiros edifícios construídos em grande escala usando o tijolo de barro, também conhecido como tijolo cru, feito de uma mistura de lama (contendo argila, areia e água), formados em moldes de madeira com materiais de ligação como casca de arroz ou palha – secos ao ar.
Colocados em todos os padrões imagináveis e usados com considerável sofisticação, os desenhos que sobreviveram em tábuas de argila mostram que os edifícios foram dispostos e construídos em módulos de tijolos. As habitações de Jericó, 9.000 aC, foram construídas com tijolos de barro, assim como as de vários locais nos milênios seguintes.
Hoje, os milenares tijolos de barro ainda são o padrão da arquitetura em regiões mais quentes da África e da Ásia Ocidental. No século XX, o bloco de terra comprimida foi desenvolvido usando alta pressão como uma alternativa barata e ecológica para obter tijolos não queimados. Com as regras internacionais de controle das emissões de gases de efeito estufa, adotadas por governos e pela iniciativa privada, os tijolos de barro, não sujeitos a queima, descarbonizados, começam a entrar na equação ´eco-nômica´ agregando valores de baixo carbono à construção civil.
A nível nacional, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), enfrentando uma das maiores crises de mão de obra que ameaça diretamente a competitividade no setor – operando com inteligência nova –, mantem o ´Prêmio CBIC de Inovação e Sustentabilidade´, junto com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI Nacional. A 25ª edição (2024), desenvolvido em parceria com o SENAI CIMATEC, está associada ao ´Projeto Construção 2030´, que busca a industrialização do setor através da inovação aberta.
A incorporação de práticas de sustentabilidade na construção civil é uma tendência crescente exigida por agentes da sociedade (consumidores, investidores, associações, governo e investidores), que estimulam e pressionam o setor a incorporar práticas de governança socioeconômica e ambiental (ESG) que usam os ODS como manual. Como diz o ditado popular “Quando se faz barro virar tijolo é que se conhece o valor de uma casa”.
Sustentabilidade na construção civil visa reduzir os impactos ambientais, potencializar a viabilidade econômica e garantir a qualidade de vida das gerações presentes e futuras com o uso de materiais sustentáveis, o gerenciamento de resíduos, a economia de energia e água, a certificação ambiental, o incentivo à mobilidade sustentável e o design orgânico moderno.
Na Bahia, o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), observando o Pacto Global para crescer sustentavelmente, lucrando mais, lançou, em parceria com o Crea.BA, o ´Hub da Construção´ conectando startups e empresas do setor em um “ambiente de troca de ideias, gestação de soluções inovadoras e promoção do empreendedorismo”.
Localmente, o município de Jacobina, no piemonte da Chapada Diamantina, rico em ouro e alinhado com os ODS, é visado por fundos internacionais. Através de lideranças locais, criou o Instituto Tecnológico do Piemonte, sem fins lucrativos, organizado pela sociedade civil para impulsionar o desenvolvimento sustentável local, inspirado pelo foco municipalista da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Assim como a mineradora jacobinense Yamana, adquirida pelo grupo sul-africano Gold Fields por 6,7 bilhões de dólares, usa barro na barragem de contenção de rejeitos; a pequena startup Rino, de pequenos empresários locais, aprendendo com os primórdios da humanidade, produz tijolos de barro, naturais, descarbonizados. Numa cidade inteligente o barro está presente em tudo.
*Eduardo Athayde é diretor do WWI no Brasil. [email protected]
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