ARTIGOS
Eleições e periferias
Confira o artigo de Efson Lima, Doutor em direito/Ufba. Advogado. Membro das Academias de Letras de Ilhéus e Grapiúna
Por Efson Lima
No Brasil, geralmente, não é um nascido na periferia que ocupa o “poder”, especialmente, o Executivo. Mas, é pouco provável alguém alcançar a função executiva sem um apoio das camadas mais populares. As eleições municipais de 2024 chamam bastante a nossa atenção. Os acenos para as periferias são constantes e demarcam o perfil do eleitorado brasileiro. As periferias no Brasil não são uniformes. As novelas, programas prediletos de milhões de brasileiros, já tinham sido produzidas com lastro nesse perfil e as periferias algum tempo já contribuem enormemente para o PIB brasileiro, inclusive, com uma classe média que cresceu nesse ambiente e “prefere” lá permanecer.
As estratégias para atingir esse eleitorado são as mais distintas, algumas delas surgem dentro de um contexto assertivo e são verificadas na proposta do programa de governo; outras buscam o voto do eleitor e recorrem aos artistas, preferencialmente, aqueles com apelo popular e conectado com essa massa. A disputa é pragmática e, agora, interessa converter toda a estratégia em voto.
As periferias brasileiras sempre instigaram pesquisas e reflexões. Algumas delas indicam que as periferias não são homogêneas; existe uma forte presença de igrejas evangélicas. As mortes violentas e as que decorrem pelo não acesso ao tratamento adequado dos problemas de saúde são constantes. Estas últimas também são materializadas pela negligência do Estado e, às vezes, do racismo estrutural. As periferias são espaços urbanos, que constituídos pela omissão estatal ou articulados por agentes do Estado, refletem habitações muitas vezes desordenadas, ruas apertadas e uma gama de problemas que reunidos constituem ambientes singulares e que carecem de uma ação efetiva do Estado. Nem sempre a periferia está na borda de uma cidade, ela pode estar ao lado de um bairr o nobre.
As periferias possuem uma série de demandas: regularização fundiária, esgotamento sanitário e uma efetiva coletiva seletiva de resíduos sólidos; geração de trabalho; escolas e acesso ao ensino superior, preferencialmente, pública e com qualidade; as diversas formas de acesso à cultura, sem juízo de valor das elites. A segurança pública não pode ser repressiva, mas que dialogue com as diversas dificuldades locais e que seja acompanhada do conjunto de direitos: saúde, transporte público efetivo. As crianças e adolescentes precisam de apoio permanente.
Após as eleições, espera-se que os gestores e os legisladores eleitos para o âmbito municipal não se esqueçam também desse conjunto de cidadãos que diuturnamente constroem a nação brasileira a partir de cada cidade. Por fim, a favela merece ser representada por seus sujeitos de direito e de fato.
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