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Liberdade de Consciência
Confira artigo de Celson Oliveira
Desde a estreita vinculação entre as hostes religiosas do judaísmo farisaico e o Império romano, passando pela oficialidade do catolicismo, outrora erigida à condição de religião de Estado, vê-se proliferar entre as diversas civilizações judaico-cristãs deletéria política de compadrio entre espectros representativos do “poder religioso” e de governos, em flagrante prejuízo do papel desempenhado pela Igreja junto à sociedade.
De geração a geração, religiosos e políticos - essencialmente ancorados na “Lei Mosaica”, têm se servido mutuamente da credulidade alheia, dada a paixão pela proximidade com o poder político e o interesse em desfrutar de regalias e benesses eventualmente propiciadas pelos governos de turno.
Na medida em que se marcha no Brasil para a maioria evangélica, proliferam-se acordos políticos fomentados por textos bíblicos descontextualizados, usualmente recortados da base fundante deste Ministério (refiro-me ao Ministério da Lei). Interditado o debate e suspenso o contraditório, busca-se impor a vontade discriminatória dos que almejam ser maioria, em detrimento da Graça outrora anunciada como regra de fé e conduta.
Eleição após eleição, abutres à direita, à esquerda ou ao centro político, têm trabalhado incessantemente para incutir, entre os membros da comunidade evangélica, (re)interpretações do texto bíblico, de índole doutrinária e matiz ideológica, conforme a versão narrativa que melhor lhes assiste. Assim têm procedido, não raro para ocultar o histórico de vida pregressa e a ficha corrida de histriônicos postulantes a cargos eleitorais.
Donos do poder, associados aos donos de vidas humanas e da Igreja de Cristo Jesus, têm inclinado a “Palavra” sorrateiramente, a propósito de promessas e profecias vãs, a esconder mandamentos de cabresto ou simples argumentos de autoridade -, tudo no firme intuito de se substituírem à própria vontade de Deus, assim possível fosse. Assim, todavia, têm agido propositadamente, a fim de tomar de assalto direitos fundamentais, constitucionalmente assegurados em nossa nação, independente da fé professada.
Antes premidos por ideologias de natureza marxista ou assistencialismo escravizante, almas convertidas ao senhorio de Cristo têm sido ofensivamente disputadas na “Arena Política”, agora polarizada sob a associação entre políticos sagazes e sacerdotes ensimesmados, que não temem ditar regras, juízo sobre a vida alheia, muito menos a “direção a ser seguida”, em prejuízo de direitos inalienáveis, de natureza essencialmente pessoal e intransferível, como é próprio do voto assegurado nas democracias civilizatórias.
Sem toscanejar, mercadores da fé têm sustentado, orgulhosamente, alianças político-partidárias, travestida de derivações argumentativas em defesa de “Deus, da pátria e da família”. Esta fórmula, contudo, tem parido bezerros cromados de ouro, absolutamente divorciados do mandato social comissionado à Igreja, enquanto corpo bem ajustado pelo próprio Espírito de Deus, tendo por cabeça única a pessoa de Jesus.
Por outro lado, a pretexto do dever de instrução dos “irmãos iletrados e mais humildes”, lideranças evangélicas (proeminentes ou não) têm sonegado o ensino da Palavra a homens e mulheres de boa fé, essencial à maturidade espiritual, que, em princípio, deveria levar o cristão a exercer o direito ao voto, como de resto todos os demais direitos e deveres civis -, com plena liberdade de consciência, segundo as diretivas do Criador incriado, auto existente.
Tal como se dignos de “psicografar” a vontade e o juízo de Deus, arrotam poder e arrogam para si o direito de criar e manter sob domínio próprio e de correntes políticas, currais eleitorais alimentados à base do ódio, da falácia, de ameaças e do medo, regados à engano e mentira deslavada.
Abrigados sob as vestes da suposta proteção de princípios e valores cristãos, senão da própria Igreja de Cristo (e como se Este carecesse de defesa), lobos em pele de cordeiro têm constituído para o seu próprio capital político, zonas de influência e interesses, com redundância eminentemente econômica.
Eis aí a razão da desagregação no seio de diversas denominações evangélicas, cujos propósitos espirituais têm cedido espaço à deletéria adesão à movimentos político-partidários, reprováveis.
Este ide, por certo, nada, absolutamente nada tem a ver com o Evangelho ! Antes, contudo, esta conduta apostata tem aprisionado mentes de cristãos piedosos, cuja salvação foi cara ao Criador, dado o preço de sangue pago por Jesus. Tudo isto, diga-se de passagem, somente para salvaguardar projetos de poder hegemônicos, e candidaturas fraudulentas, quer seja do ponto de vista ético, moral, social e espiritual.
Por mais sensatas que possam parecer, pautas e acordos políticos não podem, nem devem subordinar a Igreja à governos ou partidos, a pretexto de aparente, “perfeito” ou “automático”alinhamento ideológico.
Se é verdade que a política e o exercício de sua representatividade não são vedados ao escrutínio da Igreja e do cristão, muito mais é o fato de que o seu exercício deve ser consciente e livrementeexercido, com base em informações de natureza credível.
Sobre isto, é preciso seja dito, claramente: a política tem o seu próprio lugar de embate, os seus costumes particulares, as suas exclusivas associações ou alianças - cujo conhecimento discernido há de ser desvendado de forma imparcial, portanto sem paixões, “mistérios”, partidarismos, devaneios ou falsas aspirações.
Lado outro, nunca se deve perder de vista que o campo de atuação da Igreja é suprapartidário, para muito além do reme reme da política rasteira e desleal, ditatória de regras de apoiamento falso moralista, represtinatória das vestutas obras da Lei (refiro-me ao Ministério da Lei).
Nesse contexto, é fundamental ter em mente que a liberdade de culto e adoração não é, nunca será consequência de autorização humana, menos ainda de natureza politico-legislativa, nem há de ser garantida por partidos ou políticos. A Igreja é livre porque Jesus assim a tornou, na medida em que somente Nele e Dele, dependem os que crêem, conforme a Graça alcançada intermédio do Seu sacrifício imorredouro.
É esta a Graça salvífica que habilita o cristão evangélico a tratar dos propósitos mais relevantes da vida em sociedade, inclusa a própria política representativa. E é com esse mesmo olhar e reconhecimento, que o crente em Jesus deve repudiar cativeiros ou orientações clandestinas de voto, destinado a ungir nas urnas verdadeiros inimigos da fé, travestidos de bom mocismo.
Somente assim, poderá exercer a sua plena cidadania, consciente e convicto de sua inequívoca liberdade para votar e ser votado, consoante o mandato social e a posição em que se encontra no Reino de Deus.
Esta, afinal, é a “Liberdade de Consciência”, que muito especialmente deve nutrir e ensinar os que exercem o pastorado ou qualquer outro encargo de natureza eclesiástica, a fim de auxiliar os mais jovens, os incautos e os fragilizados - domésticos na fé ou não.
Revigorada neste quesito, a Igreja evangélica certamente passará a exercer salutar influência acerca de assuntos e políticas públicas de interesse comunitário, coletivo ou difuso - independente de agremiações partidárias, políticos ou autoridades integrantes do poder público e governamental.
Finalmente, munidos do Espírito de Coragem, Amor e Moderação apregoado pelo Apóstolo das Gentes, milhares de cristãos evangélicos anelam por criar pontes e resgatar caminhos de convergência - sem ativismo político ou dissensão entre irmãos - portanto, livres de discriminação doméstica ou dos que não são da fé, nutrida a garantia do direito ao contraditório e a firmeza de propósitos em Cristo Jesus, o Messias.
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