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Os siameses e um apelo cheio de más intenções

Confira artigo de Jolivaldo Freitas

Por Jolivaldo Freitas*

22/11/2024 - 14:19 h
Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista
Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista -

Não dava outra. O ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo procurando não demonstrar em público, confessava entre amigos e familiares seu temor de ser preso. Esse medo influenciava suas atuais ações: ele buscava apoio e criava estratégias para se proteger, mas cometia erros significativos, como as desavenças com o presidente do PL. O rompimento abalou sua relação com a bancada do partido no Congresso, grupo importante que poderia ajudá-lo a aliviar sua situação frente à justiça.

Agora o cenário se complicou ainda mais. A revelação de planos de assassinato de autoridades e tentativas de tomar o poder por meios antidemocráticos intensificaram as investigações contra ele. Até a explosão de uma bomba por um radical em Brasília caiu em seu colo.

Hoje, passa a enfrentar acusações graves: tentativa de abolir violentamente o Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e participação em organização criminosa. Entre os inquéritos, este é o mais delicado, pois, pela primeira vez, a Polícia Federal o conecta diretamente à articulação de um golpe. Estranhamente, seus aliados optaram pelo silêncio.

Com exceção de algumas poucas manifestações, a base bolsonarista deu de ré ou simplesmente pisou no freio. Esse distanciamento ficou claro em outubro (ou foi em setembro, agora não lembro, quando o presidente da Câmara, Arthur Lira, retirou da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) o projeto de lei nº 2858/22, o chamado PL da Anistia, que alvitrava perdoar os envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. A decisão de Lira de criar uma comissão especial para discutir o tema gerou insatisfação e temor em Bolsonaro.

O ex-presidente reagiu de forma intempestiva e inesperada. Negou ser o autor da proposta e surpreendeu ao fazer um apelo público a seu maior rival político, o presidente Lula. Com tom enfático, pediu que Lula assumisse a autoria de uma possível anistia:

"Quero que alguém do PT seja o pai da anistia. Gostaria que o Lula tomasse a iniciativa de anistiar. Com todos os defeitos que ele tem, será que ele não tem coração também? Não sabe quem está preso? As pessoas humildes."

A declaração parecendo9 ou sendo uma jogada calculada. Bolsonaro sabe que, caso consiga a anistia e se livre dos processos em curso, pode viabilizar uma nova candidatura à presidência. Curiosamente, isso também seria interessante para o PT, que vê no ex-presidente um adversário com alta rejeição, capaz de equilibrar as chances em um possível embate com Lula, que também carrega rejeição elevada. Todos no mesmo caldeirão de um “Sobe e desce” ou “cozido” em fogo de lenha.

Os dois, cada qual com suas polêmicas e fantasmas, parecem presos a um embate interminável, alimentando um ciclo político de polarização e desgaste. Mas talvez o Brasil precise de algo diferente: que ambos desçam a rampa do Planalto e desapareçam na planície.

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* Escritor e jornalista

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