União dos cacauicultores impulsiona novo ciclo para o cacau brasileiro
Produtores de cacau do Brasil apresentam carta aberta de Ilhéus no 1º EBPC

No último dia 03 de novembro, no I Encontro Nacional de Produtores de Cacau, cacauicultores de diversos estados brasileiros, se reuniram no Auditório da UESC, em Ilhéus, com o objetivo de apresentar, de forma coletiva e participativa, uma carta pública, a qual identifica os principais gargalos da categoria e aponta soluções as quais devem ser tomadas tanto pelos produtores quanto pelos órgãos e instituições que possuem direta e indireta influência no setor cacaueiro nacional e internacional.
A carta foi produzida durante o encontro, após palestras ministradas por especialistas do cacau. Temas como: Avaliação e Perspectivas do Mercado Nacional e Internacional do Cacau em Amêndoas (por Antônio Zugaib; Adubação Modular e Polinização como Estratégia de Manejo para Melhorar a Produtividade Baiana (por Ivan Costa); Avanços da Pesquisa e Inovação Desenvolvida pela CEPLAC e Seus Impactos na Cacauicultura Nacional (por José Marques); Adoção de Boas Práticas na Cacauicultura - formação de viveiros e mudas, adensamento, podas (por George Sodré); e Aplicativo Mobile e Interface Tecnológica Digital (por Magna Magalhães), embasaram o teor da carta, a qual contou com a ativa participação do público presente, que pode corroborar com sugestões e experiências na construção do documento que representa um ato histórico para cacauicultura nacional.
“ Esta carta representa a voz dos produtores de cacau de todo país. Aqui temos uma fatia significativa da produção nacional, com representantes dos estados produtores, cacauicultores que lutam por valorização do seu produto e reconhecimento da sua importância para economia nacional”, disse João Tavares, produtor de cacau na Bahia.

A Carta Aberta de Ilhéus, que foi assinada pelos produtores de cacau, associados da ANPC e técnicos/ especialistas no desenvolvimento da cadeia produtora do cacau, pontuou demandas que há mais de 30 anos a cacauicultura vem somando em seu histórico de produção, cultivo, manejo e beneficiamento. Para o coordenador do encontro, cacauicultor e especialista em comércio exterior e planejamento, Antônio César Zugaib, a carta torna-se um documento de união de interesses do setor. “ Este documento carrega a responsabilidade de ser a transcrição das necessidades do cacauicultor, pois ele é apresentado com base na opinião, nas perguntas e nos dados técnicos que apontamos de forma coletiva e participativa aqui no I Encontro Nacional dos Produtores de Cacau”, disse Zugaib.
A ANPC, vem há 2 anos construindo um laço de união entre os produtores de cacau do Brasil. Com pautas polêmicas, a associação lidera movimentos que combatem o preço e a exportação do cacau brasileiro mas também luta pela valorização do produto interno, buscando reconhecimento do poder público nas políticas públicas de fiscalização para o cacau externo e de fomento do cacau produzido no Brasil. “ A ANPC vem dando força aos produtores de cacau do Brasil unindo as pessoas e as associações espalhadas pelo país, pois estamos conseguindo com muita coragem e determinação impor nosso valor e nossa importância no mercado e na economia do país”, disse Eduardo Zucolotto, produtor de cacau e diretor da ACAU - Associação dos Cacauicultores do Espirito Santo.
Confira na íntegra a carta aberta de Ilhéus, produzida e apresentada no I Encontro Brasileiro de Produtores de Cacau.

1º ENCONTRO BRASILEIRO DOS PRODUTORES DE CACAU CARTA ABERTA
Os produtores brasileiros de cacau, aqui representados, pela Associação Nacional dos Produtores de Cacau – ANPC, reunidos no 1º ENCONTRO BRASILEIRO DOS PRODUTORES DE CACAU - EBPC, vem tornar pública a sua carta aberta, fruto de discussões hoje ocorridas no auditório da Universidade Estadual Santa Cruz – UESC, com a finalidade de indicar pontos de estrangulamento que tanto têm impedido a viabilidade do setor primário da cadeia produtiva do cacau.
A cacauicultura brasileira tem primado pela excelência na produção de cacau, visando e acreditando no crescimento da economia de nosso País. Nesse sentido, o valor da produção de cacau brasileira no ano de 2022 foi de R$ 3,5 bilhões. Essa produção tem contribuído para que o valor das exportações de cacau e derivados chegue ao patamar de US$ 346 milhões em 2022, valor este que já alcançou próximo a US$ 1 bilhão no ano de 1979. A nossa percepção é que poderíamos estar contribuindo muito mais com o país, se gargalos existentes na lavoura fossem resolvidos. Portanto, conclamamos inicialmente o Ministério da Agricultura e Pecuária – MAPA e o Ministério da Indústria e Comércio – MDIC, enfim, o governo brasileiro e outras várias instituições, para buscar soluções para os entraves que fazem com que o elo mais vulnerável da cadeia produtiva seja viabilizado, ou melhor, saia dos sucessivos prejuízos anuais. Nosso pleito é que se crie condições para que possamos ter as mesmas oportunidades que hoje têm os demais elos da cadeia produtiva.
As principais ações a serem desenvolvidas e entraves resolvidos são:
1. Formar um grupo de trabalho composto de representantes do MAPA/SEPOA/SDI/CEPLAC, CONAB, EMBRAPA, AIPC, ANPC, IBGE e outros para compilação dos dados de produção, moagens, estoques etc;
2. Equalizar o preço mínimo ao custo de produção e viabilizar infraestrutura necessária e dotação orçamentária suficiente ao eventual acionamento da política de preço mínimo;
3. Criar condições internacionais de mercado para divulgar a qualidade do cacau brasileiro no exterior, com auxílio do Itamaraty/MAPA/APEX;
4. Criar linhas de crédito subsidiadas para instalação de unidades de transformação da amêndoa de cacau e seus derivados (nibs, liquor, manteiga, pó, chocolate etc.) em todos os estados produtores de cacau;
5. Criar oportunidade para fomentar o consumo de cacau no mercado interno e incentivar a implementação de novas indústrias processadoras e do produto final chocolate; MEC/MDS/ANPC;
6. Criação do Conselho Deliberativo da Política do Cacau e de Fundo Nacional de Fomento do Cacau, ações essas com vistas à organização do produtor e da produção (Câmara e Senado Federal/ANPC);
7. Cumprir com rigor as normas de defesa sanitária para importação de cacau, importando somente quantidades que abasteça os déficits internos;
8. Extinção/Cancelamento dos débitos provenientes dos financiamentos PRLC (Plano de Recuperação da Lavoura Cacaueira);
9. Revitalização da Ceplac para que possa cumprir a sua missão na realização de pesquisa e inovação tecnológica;
10. Reestruturar a assistência técnica a cacauicultura;
11. Viabilizar a criação de linhas de crédito para investimento e custeio.