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Bahia está entre os estados com maior volume de pneus usados recolhidos no país
Por Lúcia Camargo Nunes | De São Paulo

Em todo o ano passado, a Reciclanip – entidade criada em parceria com as fabricantes de pneus da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip) – recolheu e destinou mais de 380 mil toneladas do resíduo sólido em todo o país, quantia equivalente a 42,2 milhões de pneus de carros de passeio.
O estado da Bahia está entre os que tiveram maior volume de pneus coletados no país, com 10 municípios atendidos em 2020: o estado somou 10.289 toneladas de pneus inservíveis recolhidos. “Mesmo durante a pandemia continuamos a operar de forma segura, atendendo o nosso objetivo de manter um país mais sustentável”, disse Klaus Curt Müller, presidente-executivo do Sistema Anip/Reciclanip.
Um dos pontos de descarte é o Auto Shopping Itapoan, o primeiro da Bahia aberto em 2019. “Os consumidores, sejam eles clientes ou não do Auto Shopping, têm aqui um ponto de coleta e a segurança de que contribuirão para a preservação do meio ambiente e para a saúde da população, porque os pneus coletados serão destinados para a reciclagem”, explica gerente geral do Auto Shopping Itapoan, Daniela Peres.
Logística reversa
Consta na Política Nacional de Resíduos Sólidos que os pontos de coleta são de responsabilidade dos comerciantes e distribuidores. Na Bahia, ao todo 22, eles foram criados na parceria entre a Reciclanip com as prefeituras, que por sua vez cedem os terrenos. Quando este local atinge a quantidade de dois mil pneus de passeio ou 300 pneus de caminhões, o responsável pelo ponto solicita à Reciclanip, por meio de aplicativo, a retirada do material.
“É muito importante que o consumidor tenha consciência e não leve pneus velhos para casa. Ao comprar um pneu novo, o indicado é deixar seu pneu inservível na loja, que tomará as providências necessárias para que o material chegue até um ponto de coleta. Os pneus inservíveis descartados de forma incorreta contribuem para o agravamento das condições ambientais e de saúde nas cidades, e, se queimados de forma errada, geram poluição atmosférica”, diz Müller.
Economia circular
Após a coleta, os pneus inservíveis são destinados às empresas trituradoras, que por sua vez são reutilizados e destinados à indústria cimenteira e artefatos de borracha (tapetes para automóveis, pisos industriais e pisos para quadras poliesportivas). Além disso, também são utilizados na fabricação de percintas (indústrias moveleiras), solas de calçados, dutos de águas pluviais e siderurgia. Todas essas destinações são aprovadas pelo Ibama.
Mais recentemente, surgiram estudos para utilização dos pneus inservíveis como componentes para a fabricação de manta asfáltica e asfalto-borracha, processo que tem sido acompanhado e aprovado pela indústria de pneus.
Reciclagem de veículos
A edição mais recente do Relatório da Frota Circulante, elaborado pelo Sindipeças/Abipeças, indica que até 2020 a frota circulante total era de 46,2 milhões, entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. A Bahia é o sétimo estado com mais veículos no país, representando 3,89% desse total – atrás de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Da frota circulante no país, apenas 24% têm até cinco anos. A maioria, 58%, têm entre 6 e 15 anos, e 18%, 16 anos ou mais. Mesmo com essa idade avançada, o melhor destino a esses carros, seria pela reciclagem total, o que ainda não existe.
Estoques de veículos abandonados e enferrujados representam perigo ao meio ambiente e à sociedade e dar um destino aos seus componentes poderia gerar novos produtos e serviços. Países como EUA e Japão reciclam mais de 80% de sua frota. O Sindicato das Empresas de Sucata de Ferro e Aço estima que no Brasil não passa de 1,5%. Desde 2014, a venda de peças usadas foi regulamentada, mas a reciclagem ainda é pouco utilizada.
Um veículo é composto de em média 18% de plástico, 7% de borracha, 55% de metais e 20% de outros materiais. Grande parte dos materiais pode ser reciclada e os que não passam por esse processo podem ser reutilizados em novos modelos fabricados. O Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada estima que uma indústria nacional de reciclagem automotiva tem potencial de mobilizar US$ 7,5 bilhões ao ano e empregar 30 mil pessoas, gerando oportunidades.
Projeto-piloto
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) coordenou em 2020 a criação de um grupo de trabalho que inclui organizações e entidades responsáveis por componentes e partes veiculares: eletroeletrônicos, pneus, baterias automotivas, óleos lubrificantes, metais e catalisadores.
O primeiro projeto-piloto tem previsão de reciclar cerca de 500 carros por mês a partir deste ano. As entidades que integram o grupo já têm um trabalho voltado à reciclagem veicular, entre elas: Gerdau, Reciclanip, Instituto Brasileiro de Energia Reciclável (Iber), Sindicato Nacional da Indústria do Rerrefino de Óleos Minerais (Sindirrefino) e Grupo Solví. Os componentes e as peças serão desmembrados e cada organização será responsável por dar uma destinação útil a eles.
A Gerdau já tem um programa de reciclagem da carcaça de veículos, com capacidade de reaproveitamento anual de 11 milhões de toneladas de sucata ferrosa.
O processo é dividido em quatro etapas: a separação dos materiais (afastados todos os itens que não são aproveitados e destinados a empresas parceiras), empacotamento, trituração e industrialização. Esse processo final é capaz de se transformar em outros produtos para as mais diversas aplicações. A linha de produtos atende aos setores de construção civil, agropecuária e também o automotivo.
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