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Veículos elétricos crescem no Brasil, mas longe da realidade popular

A grande aposta nos veículos elétricos é por conta do seu menor impacto negativo no meio ambiente

Publicado sábado, 11 de junho de 2022 às 15:03 h | Atualizado em 11/06/2022, 16:33 | Autor: Daniel Genonadio
O E-JS1 da JAC Motors é um dos carros elétricos mais baratos vendidos no Brasil
O E-JS1 da JAC Motors é um dos carros elétricos mais baratos vendidos no Brasil -

Apontados como o futuro dos meios de transportes aliados a sustentabilidade, os veículos elétricos estão em um constante aumento no mercado brasileiro, mas ainda seguem longe de serem vendidos por um valor que caiba no bolso da população brasileira. As vendas de veículos eletrificados leves cresceram 78% no primeiro quadrimestre de 2022, na comparação com o mesmo período do ano passado. Em 2021, o crescimento bruto quando comparado a 2020 foi cerca de 75%, com tendência de aumento. 

De acordo com a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), com os 3.123 emplacamentos de abril deste ano, o mercado brasileiro contabiliza 12.976 unidades comercializadas no ano, contra 7.290 no primeiro quadrimestre de 2021. No mesmo período, o mercado doméstico de leves (que contabiliza carros movidos a combustível fóssil), caiu 23%. 

Mas a grande aposta nos veículos elétricos é por conta do seu menor impacto negativo no meio ambiente. Um carro 100% elétrico (BEV) tem emissão praticamente zero de gás carbônico, que é o principal fator do aquecimento global. Também não conta com emissão de óxidos de nitrogênio e material particulado, que são poluentes altamente prejudiciais à saúde humana. 

Outros carros vendidos são os elétricos híbridos (HEV) ou híbridos plug-in (PHEV), em que o corte de emissão pode variar de 30% a mais de 70% em relação ao similar a combustível fóssil, dependendo do modelo e da motorização, conforme informações da ABVE.

Outra vantagem é a ausência de poluição sonora. "Os veículos elétricos são muito silenciosos. Você às vezes nem percebe que o motor está ligado. Tão silenciosos que muitos países estão obrigando a adoção de algum tipo sinal sonoro nos veículos elétricos, para que um pedestre distraído perceba melhor a aproximação deles", contou Iêda de Oliveira, diretora da ABVE. 

A questão ambiental também foi a grande motivação para o engenheiro eletricista Gustavo Nascimento adquirir um carro 100% elétrico. "Sou pós graduado em fontes alternativas de energia e energia sustentável é a minha vida", contou ele, que pagou R$ 300 mil por um Nissan Leaf. 

Gustavo  também avaliou os problemas encontrados em ser dono de um veículo do tipo. "As dificuldades ainda estão em posto de recargas, mas dentro das cidades encontramos alguns, inclusive gratuitos. Em Salvador e região metropolitana tem o projeto corredor verde da coelba que não cobra por recarga. Porém pegar estrada para viagens precisam ser bem planejadas", explicou. 

O Nissan Leaf de Gustavo custou R$ 300 mil
O Nissan Leaf de Gustavo custou R$ 300 mil |  Foto: Arquivo Pessoal
 

Crescimento do mercado brasileiro

A ABVE aponta que a venda de carros elétricos e eletrificados no Brasil cresce em um ritmo comparável à curva de crescimento de outros mercados, como o europeu e chinês. No entanto, os números absolutos são pequenos. "A eletromobilidade no Brasil está uma década atrasada em relação a outros países", disse Iêda de Oliveira. 

Considerando os veículos leves, em seis anos o mercado brasileiro saltou de 1.091 emplacamentos em 2016 para 34.990 em 2021. Só nos primeiros cinco meses de 2022, o mercado de eletrificados cresceu 54% sobre o mesmo período do ano passado. 

"Não temos uma projeção segura de vendas de veículos leves para este ano, pois alguns fatores recentes estão interferindo nas análises, como a crise de componentes, a guerra da Rússia na Ucrânia e até o cenário eleitoral. Mas seguramente crescerá além dos 34.990 do ano passado, talvez chegando a 40 mil ou um pouco mais", falou a diretora da ABVE. 

No Brasil, a Toyota, líder do mercado de eletrificados, produz o Corolla e o Corolla Cross híbrido flex a etanol em suas fábricas no interior de São Paulo. A Great Wall Motor iniciará a produção de veículos elétricos e híbridos em Iracemápolis (SP) a partir de 2023. Já a CAOA Chery está adaptando sua fábrica de Jacareí (SP) para produzir somente veículos elétricos.

Rentabilidade 

Com mais opções no mercado brasileiro, quem quiser comprar um carro elétrico encontra modelos por menos de R$ 160 mil. Também há tradicionais na faixa entre R$ 200 mil e R$ 300 mil e as opções de luxo que passam dos R$ 400 mil e alguns até mesmo da faixa de R$ 1 milhão. 

O alto preço afasta a população brasileira, cada vez mais pobre por conta das seguidas inflações que reduzem o seu poder de compra. Apesar disso, Iêda de Oliveira aponta que os carros elétricos contam com vantagens e podem significar economia em manutenção e abastecimento. 

"Neste momento, o preço de venda de um veículo elétrico, seja ele um carro, caminhão ou ônibus, de fato é maior do que o similar a combustível fóssil. Porém, ao longo do período de uso desse veículo, a economia é muito maior. O km rodado num carro 100% elétrico pode ser cinco a seis vezes inferior ao km rodado pelo similar a gasolina. E sem contar a manutenção, que pode ser entre 60% e 80% mais barata", falou. 

"O que está acontecendo é a gradativa disseminação dos veículos elétricos de todos os modais. Só neste ano, o mercado de veículos leves comercializou 70 modelos diferentes de veículos elétricos e eletrificados. Aos poucos, o mercado está atingindo as faixas mais modestas de renda. É uma tendência parecida com a do mercado de smartphones no passado recente: primeiro, chegaram os aparelhos de alto custo; pouco depois, eles se popularizaram", acrescentou a diretora da ABVE. 

A previsão da ABVE é que o Brasil chegue a 10 mil estações de recarga em três anos
A previsão da ABVE é que o Brasil chegue a 10 mil estações de recarga em três anos |  Foto: Valdecir Daniel Cavalheiro | AEN
 

A visão é compartilhada pela Steck, uma das maiores empresas do Brasil na venda de materiais elétricos e que já está atenta ao crescimento do mercado de veículos elétricos no Brasil. A atenção acontece por conta da previsão mundial, que segundo o Boston Consulting Group, nos próximos quatro anos, mais da metade dos veículos leves vendidos serão elétricos ou híbridos. 

"Sabemos que hoje o custo destes veículos não é acessível a todas as classes sociais, mas já vimos esta história no passado com outras tecnologias disruptivas da época: internet, telefone, celular e outros. A tendência, de fato, é que o custo desses veículos seja cada vez menor", disse Fernando Moreira, chefe de desenvolvimento de novos negócios da Steck. 

Ninguém melhor para comentar a rentabilidade de ter um carro elétrico do que o proprietário de um. Para Gustavo Nascimento, o tempo de troca e manutenção ainda não apresenta grande vantagem, mas a economia para fazer o veículo rodar é notável. 

"O valor em energia elétrica é em torno de R$ 53,00 para uma autonomia de 270km, carregando em casa. Esse valor pode ser zerado esse valor se carregar nos postos gratuitos. A manutenção é em média 30% mais barato comparado a um carro de combustão do mesmo nível", explicou ele, que é engenheiro eletricista. 

Mais investimentos

Com a crescente no mercado de automóveis elétricos no Brasil, o país também precisa preparar uma infraestrutura que comporte o maior número em circulação nas cidades, o que inclui mais estações de recarga gratuitas e a inclusão de tomada industrial 32A nos postos de combustíveis, o que permitirá aos motoristas utilizarem carregadores portatéis. 

"Entendemos que o grande desafio deste crescimento é garantir uma infraestrutura adequada para que tenhamos pontos de recarga veicular bem disseminados pelas cidades e estradas, bem como uma mão de obra qualificada para instalar e manter essa infraestrutura de maneira segura e confiável", falou Fernando Moreira, da Steck, que já investe em tecnologias do tipo, como os carregadores que possam dar comodidade aos motoristas. 

"A infraestrutura de recarga acompanhará naturalmente esse crescimento. Hoje, já temos aproximadamente 1.500 estações de recarga públicas e semipúblicas no Brasil para veículos leves. A previsão da ABVE é chegar a 3 mil este ano e a pelo menos 10 mil em três anos. A estrutura de recarga não será um problema para a eletrificação", garantiu Iêda. 

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