SALVADOR
Afeto familiar aquece corações em dia dos pais na crise da Covid
Por THIAGO CONCEIÇÃO
O Dia dos Pais, neste ano marcado pela pandemia do novo coronavírus, está sendo diferente na casa da família Santana, em Cosme de Farias. Com o cenário que mudou radicalmente o dia a dia na sociedade pela necessidade de isolamento social para preservar vidas, as tradicionais comemorações e homenagens dadas ao representante comercial Natanael, 60, foram adaptadas para o ambiente domiciliar.
Apesar da necessidade de ficar em casa, o “Mister”, forma carinhosa como o Natanael é chamado pelo filho único, Bruno, 27, tem certeza que a pandemia não vai interferir nas demonstrações de amor e afeto recebidas neste dia. Como presente do Dia dos Pais, ele pede apenas a manutenção da saúde da família.
“É um presente observar o meu filho, Bruno, e a minha esposa, Lindinalva, felizes e com saúde. É incrível a relação de amor e companheirismo que tenho com o meu filho. Antes da pausa causada pela pandemia, íamos para vários lugares, principalmente ao cinema”, conta Natanael.
Natanael revela que a paixão por filmes foi passada para o filho. Como resultado, o Dia dos Pais será celebrado com filmes assistidos em casa, juntinho do filho.
Além do cinema, a torcida pelo Esporte Clube Bahia é outra paixão deixada de herança pelo pai para Bruno, que aproveitou o período de quarentena para emoldurar uma camisa do Esquadrão de Aço da década de 1990, usada pelo pai e passada para ele.
“Meu pai é um cara alegre, parceiro, no cinema, no futebol. Sou torcedor do Bahia por causa dele. Para homenagear a nossa relação tão bonita, aproveitei o tempo da quarentena para emoldurar uma camisa do time que ele usava. Resolvi colocar a camisa emoldurada no meu quarto. É um objeto de muito valor afetivo”, diz Bruno.
Afeto
De acordo com Rodrigo Nunes, psicólogo, as demonstrações de afeto que ocorrem no âmbito familiar ajuda a fortalecer a autoestima dos pais.
“As demonstrações de carinho e afetividade são fatores que solidificam os laços familiares. Além disso, o filho pode ser um elemento de motivação e superação de dificuldades para os pais, característica importante em momentos delicados, como esse de pandemia”, explica o psicólogo.
A fé em Deus e o nascimento da Adriele, hoje com 23 anos, permitiram a superação de um dos momentos mais complicados da vida de André Batista dos Santos, 44, diácono da Igreja Católica. Quando ela nasceu, ele estava desempregado e não conseguia ajudar nas despesas da casa.
Surpresa e medo
O diácono tem o momento bem guardado na memória: Após atender a uma ligação feita pelo antigo orelhão, soube que seria pai. Na ocasião, estava começando a vida com a minha esposa, Cleyse Caldas”.
André recorda o efeito positivo da chegada da filha. Apesar da surpresa e do medo pela situação de desemprego, Adriele foi um acontecimento maravilhoso. Ela trouxe a força necessária para superar a situação de desemprego e tristeza. Foi minha luz”, diz.
Ele lembra que adorava experiências como trocar as fraldas, brincar, arrumar o cabelo da filha. Hoje, ele conta que se sente feliz pelo lado humano e religioso que ajudou a desenvolver na filha. “Também estamos unidos pela fé. E acredito que a fé traz um conforto para as relações familiares, seja qual for a sua divindade ou crença”, acrescenta o diácono.
Por causa de uma mudança feita para a realização os estudos na cidade de Jacobina, a 330 km de Salvador, há dois anos Adriele não conseguia passar o Dia dos Pais perto do André, na residência da família, no Cabula. E, para matar a saudade de passar a data com o pai, ela e a mãe organizaram um café da manhã surpresa. “Ele é a melhor pessoa que tenho na vida. É responsável pela minha formação moral, humana”, diz a estudante.
Fim da distância
A palavra saudade também acompanhava Lucas Fernandes, 39, médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Após um mês e meio de distância, adotada por causa do risco de disseminação do novo coronavírus no dia a dia da profissão, ele está comemorando o primeiro Dia dos Pais com o pequeno Davi Gomes, de apenas oito meses.
“Estava fazendo contato apenas por chamada de vídeo. Por segurança, meu filho estava passando um tempo na casa da avó. Porém, já estamos juntos. A saudade era imensa! E ser pai tem sido uma experiência de progresso da minha conduta pessoal e profissional. Espero que a pandemia acabe logo, é o primeiro desejo do Dia dos Pais”, conta Lucas.
Ação pede respeito à diversidade
O Grupo Gay da Bahia (GGB) relançou a campanha O Primeiro Dia dos Pais de César, elaborada por meio de um vídeo que mostra o amor de um filho e um pai trans.
A produção audiovisual, divulgada pela primeira vez em 2017, ainda é uma peça atual, revelando a história de César Sant’Anna, que deu à luz Fernanda, em 2006, antes de fazer a transição de gênero.
Laço
“O menino que participou comigo é um ator, mas criamos um laço muito bonito, praticamente de pai para filho. A campanha alcançou o mundo, ganhou prêmios e mostrou que o amor de quem exerce a paternidade sempre vence, nunca o ódio e a discriminação”, diz César.
Objetivo
Para Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia, o objetivo do relançamento da campanha é novamente apresentar para a sociedade a diversidade dos grupos familiares e conscientizar que o amor não tem gênero. Segundo Cerqueira, a ideia de retomar a campanha ainda foi reforçada pelo episódio de discriminação vivido por Thammy Miranda, homem trans que estrela a campanha publicitária do Dia dos Pais de uma empresa de cosméticos.
“A campanha mostra uma outra forma de arranjo familiar, um pai trans que deu à luz o bebê. A peça mostra que o amor de pai é uma coisa linda. Isso que importa, o amor, não a ignorância e a discriminação. Desejamos um feliz Dia dos Pais para todos!”, conclui Cerqueira.
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