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Antônio Vieira é criticado após escolha de livro de Djamila para aulas

Mulher disse que escolha não condiz com a religião católica, pois Djamila é candomblecista

Publicado quinta-feira, 02 de maio de 2024 às 18:21 h | Atualizado em 02/05/2024, 18:23 | Autor: Felipe Sena
Colégio reforça compromisso contra racismo
Colégio reforça compromisso contra racismo -

O Antônio Vieira, um dos colégios católicos mais tradicionais de Salvador, localizado no bairro do Garcia, foi criticado após escolha de uma professora do livro “O Pequeno Manual Antirracista”, escrito pela filosofa Djamila Ribeiro, para a bibliografia de estudantes. O caso foi repercutido nesta quarta-feira, 1. Lançado em 2019, o livro venceu o prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira.

Uma mulher, que se identifica nas redes sociais como apresentadora de uma rádio, ficou indignada com a escolha de um livro de uma autora declaradamente candomblecista para um colégio católico, apesar de Salvador ser uma das capitais mais sincréticas do Brasil.Não confirmado se a mulher é mãe de algum estudante da instituição.

“O que você espera de uma aula em um colégio católico? Não seria apenas a palavra de Deus, o código canônico, as histórias das virtudes dos mártires, mandamentos? Qual é o sentido e o objetivo de utilizar uma autora que vem de família de outra religião, no caso específico candomblé? Existe isso qualquer conexão com a fé católica?”, escreveu a mulher nas redes sociais.

“Não sei quem é pior, se o pai que compra, ou a instituição que indica tal ‘obra’ para aula de religião. Creio que ambos. Isso é triste dentro de um colégio católico”continuou. A mulher ainda diz que isso é um desrespeito a instituição continuar a usar o nome do padre Antônio Vieira.

Djamila respondeu aos ataques nas redes sociais, e afirmou que a posição da mulher é contra a constituição. “A Constituição de 1988 garante o direito à liberdade religiosa. Isso em nada me ofende, muito pelo contrário, tenho muito orgulho. A mãe em questão precisa estudar sobre o contexto social e racial do país, sobretudo vivendo em Salvador, capital do estado com maior população negra no Brasil”, escreveu a escritora. “Sim, sou uma mulher de candomblé e sempre deixei isso público e notório. Sou uma orgulhosa filha de Oxóssi com Iansã, e o tempo que eu tenho de iniciada, muitos não têm de vida”, disse sobre sua religião.

“Reforço minha solidariedade à comunidade escolar e parabenizo a escola por trabalhar para ampliar a conscientização dos alunos e alunas”, prosseguiu. Em contato com o Portal A TARDE, o Colégio Antônio Vieira, que já criou algumas políticas contra o racismo, informou que a educação antirracista é importante para a instituição.

Confira nota na íntegra:

O Colégio Antônio Vieira, embasado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, reconhece a importância de garantir o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil. Nesse sentido, adotamos uma abordagem inclusiva que visa tranversalizar toda a nossa prática educativa.

Destacamos a existência do Comitê para Educação Étnico-Racial e de Gênero no Colégio Antônio Vieira, que desempenha um papel fundamental na orientação de ações voltadas para essa temática. As questões antirracistas são trabalhadas em consonância com nosso Projeto Político-Pedagógico, seguindo os fundamentos da Companhia de Jesus e as diretrizes da Igreja Católica, inclusive o Pacto Educativo Global.

Para nós, a educação para as relações étnico-raciais é um imperativo de reconciliação e justiça. Por isso, incluímos livros e materiais didáticos que abordam essa temática de forma ampla e contextualizada em nossas aulas de Ensino Religioso. Essa abordagem não se limita apenas às disciplinas religiosas, mas permeia todo o contexto escolar, refletindo nosso compromisso com a conscientização sobre a importância de respeitar a diversidade.

Importante ressaltar que a fé cristã católica alicerça sua relação com o mundo no exercício do amor a Deus e ao próximo, manifestado pelo amor-respeito incondicional à vida e pela promoção da dignidade humana de todas as pessoas. Dessa forma, é justo afirmar que o cristão, por sua vocação, é também convocado a ser antirracista, a sensibilizar-se e a engajar-se no combate e denúncia de todas as formas de racismo, tanto dentro do contexto eclesial quanto na sociedade em geral.

Reconhecemos a importância da legislação vigente, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei nº 10.639/2003, bem como a Lei 7.716/89 e a Lei 14.532, que fundamentam o racismo como crime e a necessidade de assegurar a efetivação das diretrizes estabelecidas. Nos empenhamos também a cumprir a nota recomendatória da Defensoria Pública da Bahia que ressalta a importante e necessária tomada de medidas para reconhecer e valorizar a história e cultura afro, afro-brasileira e indígena como pilares da formação cultural-identitária do povo brasileiro. Nosso empenho em implementar essas leis é amplo e eficaz, pois nossa missão vai além do ensino acadêmico; buscamos formar cidadãos comprometidos com a construção de um mundo mais inclusivo e solidário.

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