SALVADOR
Arquivo Público funciona precariamente
Por Nilma Gonçalves

Em um dia chuvoso, no canto da sala de pesquisa do Arquivo Público do Estado da Bahia, com máscara no rosto, Edilmar Cardoso Ribeiro manuseia cuidadosamente documentos raros.
Baiano de Uauá (a 416 km de Salvador), há nove anos ele mora em Roma, Itália, e está em Salvador para finalizar tese de doutorado sobre catequese e civilização de índios na Bahia.
De fala mansa, o ex-seminarista não esconde a decepção com as condições físicas da instituição mantida pela Fundação Pedro Calmon, da Secretaria da Cultura do Estado da Bahia. "É uma vergonha para a Bahia o estado em que se encontram os arquivos, expostos a todo tipo de intempérie climática. Recebi alguns documentos em situação muito difícil", disse.
Morador de uma metrópole de cultura milenar, apelidada de Cidade Eterna, Edilmar compara: "Na Itália, o acervo histórico é valorizado, e os locais onde se encontram são adequados".
Problema antigo - As reclamações relacionadas ao Acervo Público, prédio histórico localizado na Baixa de Quintas, são as mesmas há tempo. Em janeiro de 2011, o A TARDE noticiou a falta de energia elétrica no local, suspensa, à época, para evitar curto-circuitos e reduzir os riscos de incêndio.
Um ano e meio depois, a energia continua desligada em algumas salas. Muitos funcionários e pesquisadores sofrem com a falta de ar condicionado e de iluminação adequada.
Pouco espaço - Os locais subdimensionados, reservados para os pesquisadores (que vêm de várias partes do mundo) também comprometem o trabalho. São apenas nove mesas na sala de pesquisa.
"Há dias em que é uma loucura! Primeiro, porque ficamos em uma área mínima e, se estivermos em um número amplo, não temos como trabalhar direito. Cada pessoa tem uma dinâmica diferente", reclama a historiadora Rosara de Brito.
Frequentadora assídua do Arquivo Público há oito anos, Rosara conta também que, sempre que chove, o local onde fica o casarão alaga, dificultando o acesso.
Rede limitada - Para Mônica da Fonseca, mestranda em educação, as dificuldades são outras. "É tudo tão limitado, que não posso usar dois aparelhos eletrônicos, como um scanner e um laptop, ao mesmo tempo, porque a rede elétrica não suporta ", ressalta. Em seguida, questiona: "Como um tesouro público dessa importância fica tão descuidado?".
O historiador Walter Fraga não sabe a resposta, mas concorda quanto ao valor do acervo do Arquivo Público."Vêm pesquisadores de todo o Brasil e até do mundo, pelo conjunto de documentos que fazem parte deste acervo, que engloba um período vasto da História do Brasil", destaca. "Essa instituição merece o maior respeito do poder público, que deveria investir em infraestrutura", afirma.
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