A TARDE 110 ANOS
Autoridades destacam importância de A TARDE para história da Bahia
Jornal registrou o desenvolvimento político, econômico e social do estado ao longo de seus 110 anos
Por Dante Nascimento

Quando a primeira edição de A TARDE chegou às ruas, em 15 de outubro de 1912, Salvador ainda se refazia dos efeitos de um período de muita tensão política e disputa acirrada entre as oligarquias locais. Em janeiro daquele ano, a cidade havia sido bombardeada por interferência do presidente da República, Hermes da Fonseca, episódio que culminou com a ascensão de José Joaquim Seabra como governador da Bahia. Forças policiais estaduais e homens do Exército se enfrentaram e dezenas ficaram feridos. Uma das edificações atingidas pelos disparos de canhões, o Palácio Rio Branco, então sede do governo, só seria reinaugurado em 1919.
Após quatro anos no poder, J. J. Seabra deixou o governo sob a sombra da desconfiança. Em 31 de março de 1916, A TARDE publica reportagem em que considera a gestão do ex-governador responsável por rombo nas contas públicas, ao consumir mais de 20 mil "contos de reis" em créditos extraordinários. "Os crimes do governo, de que há 48 horas nos libertamos, já estão sufficientemente ennumerados e comprovados, para que nos dispensem de uma sabbatina", denuncia a reportagem.
O surgimento do jornal em cenário de tanta rivalidade reforça sua aptidão e capacidade de atuar em momentos adversos e turbulentos da nossa história. Não por acaso, ao longo de mais de um século, as páginas de A TARDE registraram as lutas travadas pelo poder político e econômico no estado, o processo de industrialização, a criação do Polo Petroquímico de Camaçari, os governos biônicos da ditadura militar, as polêmicas e contradições do carlismo, as gestões petistas. Tudo registrado pelo jornal.
"É fundamental para uma sociedade democrática que nós tenhamos veículos que se transformem em verdadeiras instituições pelo seu tempo de existência. Então, um veículo de 110 anos tem história, acompanhou a mudança da sociedade da Bahia, acompanhou a mudança econômica da Bahia, acompanhou e acompanha todas as transformações que todo o nosso povo sofre", afirma o governador Rui Costa.
Os principais acontecimentos do século XX, que moldaram a sociedade moderna e reconfiguraram o Brasil e o mundo, estamparam as manchetes de A TARDE. As duas guerras mundiais e a explosão e queda de movimentos extremistas, como o fascismo e o nazismo, estão em suas páginas descritas.
Em 26 de março de 1943, o texto "O Brasil na Guerra" noticiava a convocação de "centenas de reservistas bahianos" para o conflito. A mesma edição também informava que uma embarcação mercantil holandesa, após sair da Bahia, foi bombardeada por um submarino alemão. “A nossa reportagem, hoje, de manhã, esteve no hospital da Cruz Vermelha, no antigo sanatório Manoel Vitorino. Para ali foi levada a tripulação do 'Mariso', composta de 106 homens", descrevia o repórter.
O presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, deputado Adolfo Menezes (PSD), considera que a publicação sempre foi exemplo do “bom jornalismo” e garantia de que a notícia é "verdadeira". “Em mais de um século, o jornal fundado por Simões Filho já testemunhou, guerras, calamidades, golpes, ditadura, arbítrio, afrontas à Constituição, mas, também, cada novo alvorecer da paz, da democracia e da liberdade”, afirmou.
Em 2 de abril de 1964, apenas dois dias depois de iniciado o golpe de estado por parte das Forças Armadas, A TARDE noticiava que o presidente João Goulart já tinha deixado o país. Com a presidência declarada vaga, abriu-se caminho para a instalação da Ditadura Militar, que durou 21 anos.
“O sr. João Goulart saiu hoje às 11,45 horas, rumo ao exílio. Não se sabe ainda se vai para o Uruguai ou para o Paraguai. O ex-presidente brasileiro viaja em companhia de quinze pessoas”, informava o jornal na reportagem “Goulart no exílio”.
O fim da chamada República Velha, a Era Vargas, o regime militar e a redemocratização do país, até fatos mais recentes, como a eleição de Lula, o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a chegada de Jair Bolsonaro ao poder. Nada escapou das trincheiras jornalísticas de uma das publicações mais antigas em atividade no país.
O deputado estadual Robinson Almeida (PT) lembrou que poucas instituições no Brasil conseguem ultrapassar a marca centenária. “Em se tratando de veículo de comunicação, é um feito extraordinário. Ainda mais um jornal impresso no contexto de uma revolução tecnológica e ampliação da comunicação digital. Parabéns ao jornal A TARDE, que cada dia se reinventa e esse é o segredo da sua longevidade”.
Para a deputada federal Lídice da Mata (PSB), a trajetória do jornal se confunde com o desenvolvimento da imprensa e da comunicação no Brasil.
“Muito importante proteger esse legado. Eu pude acompanhar uma parte dessa história. Todo político baiano desejava ter uma nota em A TARDE. Todo político baiano que tinha uma citação comemorava, quando era positiva, claro, sempre foi uma referência. Chegando ao ponto de dizer, ‘saiu no A TARDE é verdade’. É um patrimônio”.
Já o presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, desembargador Nilson Castelo Branco, revelou ser um leitor desde criança. “O jornal tem muita contribuição para minha formação profissional e moral. Desde os cinco anos de idade foi o jornal que contribuiu para minha alfabetização e aprimoramento na leitura. São 110 anos de tradição e resistência”.
Pesquisas eleitorais e novas rivalidades políticas
Passados 110 anos, A TARDE se encontra novamente em ano eleitoral conturbado e marcado pela rivalidade entre grupos políticos divergentes, tanto no plano nacional quanto local. Mas bombardeio mesmo, claro, só de narrativas e versões. A disputa ao governo da Bahia colocou o jornal no centro do debate, para além apenas da importância da cobertura jornalística.
A pesquisa do instituto AtlasIntel, fruto da parceria com A TARDE, elevou a corrida eleitoral a outro patamar ao apontar com precisão, desde o começo da campanha, o que se confirmou nas urnas no primeiro turno: o crescimento e liderança de Jerônimo Rodrigues (PT) e a queda de ACM Neto (União Brasil), ao contrário do que indicavam empresas tradicionais, como o Datafolha e o Ipec. Não por acaso o veículo foi alvo de críticas e desconfiança de atores políticos que não tiveram suas pretensões eleitorais refletidas nas pesquisas AtlasIntel.
“Nada melhor do que celebrar esses 110 anos como o veículo na Bahia responsável por encomendar as pesquisas que mais se aproximaram do resultado real das eleições do 1º turno no estado. Mais uma prova de que credibilidade e seriedade marcam a caminhada do jornal. Parabéns!”, afirmou o senador Jaques Wagner (PT), que também enalteceu A TARDE pela “tradição, profissionalismo e independência”.
O papel desempenhado pelo jornal em momento tão desafiador, ao apostar num novo método de sondagem de intenção de voto, via internet, também foi reforçado pela deputada estadual Olívia Santana (PCdoB).
"A Tarde lançou pesquisas que muita gente duvidou e, quando as urnas se abriram, bateu certinho. Fiquei muito impressionada com o papel que o jornal teve nesse momento, enveredando por esse lado também das pesquisas eleitorais e tendo esse compromisso com a verdade”.
A primeira mulher negra eleita deputada estadual na Bahia ainda destacou a pluralidade representada por A TARDE durante sua trajetória como uma “uma instituição da comunicação baiana”.
“Muito importante ver essa longevidade, 110 anos, mas com capacidade de se atualizar, se abrir, se democratizar, acolher as pautas que desafiam esse momento civilizatório, pautas da igualdade para mulheres, pauta antirracista, pauta contra a intolerância religiosa, a pauta LGBTQIA+, portanto, entender essa diversidade que há na sociedade baiana e brasileira e abrir o espaço para que os seguimentos correspondentes a esses setores possam se expressar”, concluiu Olívia.
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