SALVADOR
Bahia registrou queda de 48% nas consultas oftalmológicas
A Bahia apresentou uma queda de 41% no número de consultas oftalmológicas entre 2019 e 2020, segundo dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) a partir de registros do Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SUS). A falta de acompanhamento agrava problemas oculares, podendo até levar à cegueira.
De acordo com a pesquisa da CBO, o problema atingiu especialmente as pessoas dependentes da rede pública. "As duas redes sofreram, tanto a rede pública, como a rede privada, mas a rede pública tem aumentado porque devido a pandemia, problemas econômicos e problemas de inflação, muitas famílias têm perdido a capacidade de continuar pagando os convênios privados e tem que se refugiar no sistema de saúde público. Com isso, a pressão nesse sistema tem aumentado, principalmente em estados como o nosso, que tem uma taxa de desemprego muito alta", explica o oftalmologista Jorge Rocha, 1º secretário da CBO-BA.
Em todo o país, nos dois primeiros meses após a decretação de calamidade pública (abril e maio de 2020) foram realizadas 509 mil consultas, menos de um terço do total de 1,8 milhão realizadas no mesmo período em 2019, uma redução de 74% e 71%. A queda no número de consultas entre 2019 e 2020 foi de 35%, já no Nordeste, 38%, ficando apenas atrás da região Centro-Oeste, com 40%.
O oftalmologista Frederico Faiçal conta que a falta de acompanhamento, principalmente em casos mais delicados, prejudicou muitas pessoas. "Pacientes com catarata e degeneração de retina, por exemplo, precisam de um acompanhamento contínuo e, de fato, alguns deles tiveram perdas na pandemia. Tenho uma paciente que tinha a cirurgia de catarata marcada para março de 2020 e voltou agora com a visão bem mais baixa do que estava na época da cirurgia. Um caso clássico de catarata que teve uma evolução por conta da pandemia", conta.
Com o isolamento, as pessoas ficaram com mais tempo de exposição a telas, sem buscar o acompanhamento adequado. Gabriela Cerqueira, de 7 anos, foi ao oftalmologista pouco antes do início da pandemia e não apresentou nenhum problema ocular. "Ela nunca foi muito dependente de tela, nunca gostou muito de joguinhos e computador. Quando iniciou a aula online ela começou a ter muito mais tempo em tela do que a gente gostaria e começou a sentir desconfortos e dores de cabeça que foram ficando mais intensas. Levamos ela ao oftalmologista e foi identificada miopia e astigmatismo", declara sua mãe, Paloma Cerqueira. Hoje, Gabriela tem 1.5 de miopia.
Faiçal explica que "antes da pandemia já estava se discutindo muito isso, o excesso de visão de tela, principalmente a uma distância em torno de 40 a 50 centímetros. Esse tempo excessivo pode contribuir para formação de miopia". A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, com a contribuição do uso de telas, o número de pessoas com miopia chegará a 3,36 bilhões em 2030.
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