SALVADOR
Baianos apostam em simpatias para receber o novo ano
Por Euzeni Daltro

Se existe um momento em que o sincretismo se faz mais forte na Bahia, este, com certeza, é a virada de ano. É nessa época que adeptos de religiões diversas intensificam as andanças às "casas de folha" em busca dos objetos e ingredientes que fazem parte dos ritos e tradições das religiões de matriz africana, a exemplo das folhas para banhos, dos pós de pembas, acaçás e milho branco. Nas feiras de São Joaquim e das Sete Portas, a busca maior é pelas combinações de folhas para banho de descarrego para afastar energias ruins e outras para atrair energias positivas.
"A busca maior é pelas folhas. As pembas, principalmente a de Oxalá, que traz paz e proteção, e o incenso preparado (conhecido como incesso de igreja) também tem uma saída grande. Essa época vem muita gente do Axé e muita gente que não é do Axé, que quando vê o bicho pegando bate logo aqui", contou Maiara Oliveira Santos, 29, umbandista e vendedora da Barraca Tupinambá, na Feira da Sete Portas.
Na loja Palácio de Oyo, na Feira de São Joaquim, quem mais busca as coisas do Axé nessa época do ano são os simpatizantes, garante Thierry Leonardo, 20, vendedor da loja e sacerdote do terreiro de candomblé Raízes do Tempo. As folhas para banhos também são os ingredientes mais buscados.
"Muitas vezes, os clientes já chegam aqui com uma lista pronta do que vão levar e com a crença de que, se não levarem alguma coisa ou se não fizerem determinada coisa naquele ano, vão sofrer uma grande perda. Isso, na minha concepção, não existe. Nós cultuamos a natureza e a nossa ancestralidade. Nenhum orixá, inquice ou vodum vai fazer mal se você deixar de fazer algo", disse Thierry Leonardo, cujo nome na religião é Tata Kibalu-Ukinji.
Dona Dilza Silva tem 68 anos e já perdeu as contas de quantos anos faz sua preparação pessoal para a virada do ano, que inclui banhos, incensos, sacudimento na casa, folha de akoko na carteira e a cor da roupa que usará na virada. "Vou passar de vermelho. Iansã, minha filha. É a mulher de vermelho. Ela também vai reger esse novo ano", ressaltou dona Dilza, enquanto comprava ingredientes para um caruru para Cosme e Damião e Santa Bárbara. Para ela, em ano regido também por Iansã, não pode faltar a folha palma da rainha no banho para trazer abertura de caminhos, saúde, força e proteção. "A mulher (Iansã) é rainha, minha filha", explicou ela.
Na loja Palácio de Oxóssi, na Feira de São Joaquim, o proprietário Rodrigo Menezes, 43, além de comercializar uma infinidade de produtos ligados às religiões de matriz africana, também ensina a quem chegar a forma de usar cada produto. "Tudo vai do nosso momento, do que a gente está passando e está precisando", afirma ele, que é filho de Oxóssi.
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