SALVADOR
Beba água, mas sem exagerar
Por Fabiana Mascarenhas, do A TARDE
>> Sede serve de alarme para evitar a desidratação
A ingestão de água é essencial para o bom funcionamento do organismo. Embora nem sempre praticada, essa lição é passada de geração em geração. Além de reidratar, consumir de 2 a 4 litros de água por dia (8 a 16 copos) ajuda a eliminar toxinas, a regular o funcionamento intestinal, mantém a pele tonificada e colabora na perda de peso.
Certo? De acordo com dois médicos da Universidade da Pensilvânia, não. Na contramão do conceito que prega “quanto mais água, melhor”, os pesquisadores americanos Dan Negoianu e Stanley Goldfarb desmistificam os supostos poderes do líquido e defendem que há poucas evidências de que o alto consumo de água traga benefícios reais à saúde.
Os médicos analisaram várias pesquisas publicadas sobre o assunto e observaram que não há dados que comprovem tais benefícios em pessoas com a saúde em equilíbrio. Portanto, exceto aquelas que vivem em climas quentes e secos, atletas e pacientes com alguns tipos de doença, não há razões para consumir muita água.
Os especialistas avaliam que apesar de a água ajudar o corpo a se manter hidratado, não há provas de que a ingestão suplementar – quando não se tem sede – previna o organismo contra desidratação. Sobre a teoria de que, ao beber água, a pessoa se sentiria satisfeita, comeria menos e perderia peso, eles concluíram que os estudos não apresentaram conclusões consistentes.
“Há simplesmente uma falta de evidência generalizada”, afirmaram os especialistas no Journal of the American Society of Neuphrology.
Controvérsias – Os resultados vão de encontro a tudo o que é dito e recomendado por nutricionistas, endocrinologistas e médicos em geral. Justamente por esse motivo, na opinião da nutricionista das secretarias estadual e municipal de Saúde (Sesab e SMS), Cláudia Montal, é preciso ter muito cuidado com a conclusão de alguns estudos.
“Os benefícios da água para o organismo estão mais do que comprovados. O que deve ser levado em consideração são os critérios utilizados para fazer essa avaliação e o que esses pesquisadores consideraram como consumo excessivo”, pondera.
A nutricionista explica que a necessidade do consumo de água é individual e depende de alguns fatores. “O consumo diário depende da temperatura do dia, da atividade que você realiza, se faz muito ou pouco esforço físico, se trabalha exposto ao sol ou na sombra, enfim, o parâmetro varia de acordo com a pessoa e é isso que faz com que ela tenha mais ou menos necessidade de beber água”, esclarece.
O endocrinologista Osmário Salles ratifica a necessidade da avaliação dos fatores para determinar a quantidade de consumo e afirma que dois litros por dia é a média considerada adequada. “Se a pessoa não tem nenhum tipo de doença que seja necessário um maior consumo do líquido ou não é um atleta, não há razão para tomar três, quatro litros de água por dia. Isso já pode ser considerado um exagero”, diz.
Segundo o endocrinologista, a quantidade de água consumida deve ser suficiente para compensar a perda excessiva e, conseqüentemente, manter o volume sangüíneo e a concentração dos sais minerais dissolvidos (eletrólitos) no sangue.
Há, no entanto, algumas doenças que exigem do paciente o consumo regular e intenso de água. Entre elas está o cálculo renal, também conhecido como pedra nos rins. “A falta de água ajuda a formar os cálculos renais, daí a necessidade de a pessoa beber mais o líquido”. O cálculo é uma massa dura formada por cristais que se separam da urina e se unem para formar pedras.
Menos freqüente, uma outra doença que necessita do consumo constante de água é a diabetes insipidus (DI), caracterizada pela sede pronunciada e pela excreção de grandes quantidades de urina. “É uma doença rara, mas que causa grande impacto na saúde do indivíduo. Há pessoas que chegam a excretar 20 litros de água por dia. Daí a necessidade da reidratação”. A DI é ocasionada pela deficiência do hormônio antidiurético (vasopressina) ou pela insensibilidade dos rins a este hormônio.
Excesso – Quando o cérebro e os rins funcionam adequadamente, o organismo consegue enfrentar alterações extremas da ingestão de água. “O rim é um órgão muito poderoso. Ele filtra e joga para fora todos os excessos”, explica Osmário Salles.
Entretanto, em alguns casos, o excesso do líquido pode trazer vários problemas. “O risco é maior em indivíduos cujos rins não conseguem excretar a água normalmente, como aqueles com doenças cardíacas, renais ou hepáticas”, explica.
Conhecida como hiperidratação, o problema ocorre quando a ingestão de água é maior que sua eliminação. Normalmente, há uma reação anormal das células do cérebro, levando a alterações da consciência . “Como o líquido é mais do que o corpo está acostumado e necessita, os rins demoram mais tempo para filtrar e fica sobrecarregado”, explica o endocrinologista.
Até completar a absorção, as células se incham e podem levar a transtornos nervosos, coma e morte. Além disso, o excesso de água pode provocar edemas e encharcamento pulmonar.
Os indivíduos com esses problemas podem ter que limitar o volume de água e a quantidade de sal que ingerem. Esta restrição líquida deve ser realizada somente sob supervisão médica.
O médico dietoterapeuta César Barreto lembra que atualmente os alimentos consumidos pela população são industrializados, ricos em sal – que provoca a retenção de água – açúcar e agrotóxicos.
“O consumo de água é essencial para eliminar essas substâncias, caso contrário, elas se depositam no organismo e causam uma série de problemas”, afirma Barreto.
Sobre o resultado do estudo em relação à não-eficiência do consumo de água em casos de perda de peso, o dietoterapeuta afirma que beber água, de fato, não emagrece. “O consumo de água está inserido numa série de outros hábitos e ações que colaboram na perda de peso. Sozinha, ela não faz milagre”.
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