SALVADOR
Calor recorde na Salvador faz população sofrer no Verão
Por Lucas Esteves
Trabalhar em Salvador entre dezembro e março sempre foi tarefa difícil para todos os que moram na capital por causa do exagerado calor dos trópicos. No entanto, a missão dos soteropolitanos se tornou ainda mais ingrata em 2007.
É que neste Verão, a Secretaria Estadual de Recursos Hídricos (SRH) registrou na Bahia as maiores temperaturas de todos os tempos no período, que terá uma média de 34º, dois a mais que em 2006.
As regras de trabalho e vestimentas continuam valendo como se nada estivesse acontecendo. Pior para quem precisa se deslocar pela cidade para trabalhar. É o caso do estagiário de direito Maurício Dantas, que diariamente anda horas pela cidade para cumprir prazos e distribuir processos nas instâncias da Justiça espalhados por Salvador.
Ele conta que é obrigado a carregar paletó e gravata, além de pilhas de processos em suas andanças, tudo em nome da relação obrigatória com os locais de trabalho. "Sempre que chego, tenho de ir ao banheiro, me lavar e colocar toda aquela roupa quente porque senão a pessoa que me atender pode não me levar a sério e nem levar em conta os meus pedidos."
A jornalista Renata Schindler não precisa pegar ônibus para chegar ao trabalho, mas passa por sua cota de sofrimento diária no calor da cidade. Apesar de trabalhar em um escritório com ar-condicionado, o trajeto de casa até o trabalho se configura em um verdadeiro sofrimento. "Vou de carro, mas não tenho ar. E ando de vidro fechado, porque senão posso ser assaltada por alguém num sinal de trânsito", explica.
Motivos
O meteorologista da SRH Heráclio Alves explica que há mais motivos que fazem com que Salvador esteja tão quente, além do aquecimento global que afeta o clima do mundo inteiro. Para ele, Salvador atualmente se configura como uma ilha de calor, causado pela grande emissão de poluentes na atmosfera e pela excessiva urbanização do espaço.
"É preciso agora que as pessoas encontrem maneiras de se adaptar à essa nova realidade, pois a tendência do calor na cidade é aumentar a cada ano", alerta.
O meteorologista se baseia nos dados acumulados em médias históricas de mais de 60 anos. Antes de 2007, o ano passado havia registrado o Verão mais quente, com média de 32ºC de temperatura.
Desta vez, a média prevista saltará para 34ºC. Ainda não há estudos da SRH sobre o ano que vem, mas Alves assinala com certeza que 2008 trará ainda mais calor à cidade.
Produtividade
Se a situação é ruim para quem convive com o calor desde que nasceu, é ainda pior para quem vem de frios países europeus, como o músico alemão Uwe Rohr. Casado com uma baiana e radicado em Salvador há mais de dois anos, o estrangeiro garante que não precisa sequer se mexer para ficar coberto de suor.
"Para mim é ainda mais terrível, porque moro em uma rua do Tororó em que não tem nenhum vento. Eu gosto da brisa do oceano, que nunca posso sentir de casa", reclama Rohr. O alemão veio a Salvador em outros períodos em que havia calor, mas não imaginava que pudesse sofrer tanto quando se mudasse definitivamente. "Quando vim da primeira vez fiquei três semanas e sofri. Pensava ó Deus, está tão quente aqui e ainda é outono. Mas agora estou mais acostumado", disse.
Para ele, a alta nos termômetros deixa as pessoas na cidade desanimadas tanto para trabalhar quanto para qualquer outro tipo de atividade. "Eu também não escapo disso. Quanto mais calor, mais preguiçoso eu fico. Sou muito feliz por trabalhar em casa e não precisar sair a toda hora", admite o alemão.
Além do desconforto da sensação térmica de mais de 40ºC, o calor em Salvador traz diminuição do ritmo de trabalho e da produtividade. Não há dados econômicos oficiais computados, mas quem trabalha no sol a pino garante que não há força de vontade que resista.
O fiscal da prefeitura Wilson Parcero, que vistoria diariamente obras de empresas terceirizadas para a administração municipal, lembra que os casos de trabalhadores que passam mal por conta do calor nos canteiros são inúmeros. "Frequentemente pessoas desmaiam, vomitam, passam mal por conta da temperatura no local de trabalho", revela. Alguns deles são encaminhados a hospitais da cidade.
Maurício Dantas lembra que já passou mal no meio da rua durante uma das andanças entre os cartórios de Salvador. "Precisei parar, comprar uma água e sentar, senão poderia desmaiar e não fazer o resto do trabalho".
Em diversos Estados, há liberações esporádicas para que os funcionários trabalhem de bermudas durante os períodos mais quentes do ano. Em Salvador, carteiros e policiais militares sao exceção e podem vestir roupas leves durante o serviço, pois trabalham diretamente nas ruas.
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