AÇÃO SOCIAL
Campanhas buscam doações para a população vulnerável
Natal costuma ser o período com maior adesão da população às campanhas de auxílio aos mais vulneráveis
Por Priscila Dórea

Com o ano chegando ao fim, cresce o número de campanhas de arrecadação de donativos, e ainda que o número de doações continue reduzido em comparação a antes da pandemia, toda arrecadação é bem vinda, principalmente a de alimentos, já que o Brasil voltou ao Mapa da Fome da ONU em 2022. Na Bahia, 62,6% da população está com algum nível de insegurança alimentar (IA) – 11,4% está em IA grave –, apontam dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar (Vigisan), e é numa tentativa de reverter essa situação que ONGs e projetos sociais buscam formas de ajudar essas pessoas.
“As campanhas são boas, mas se já era difícil as pessoas ajudarem normalmente, isso piorou desde a pandemia. Acho que falta às pessoas perceberem que, quando a gente ajuda o próximo, está se ajudando, atraindo felicidade e saúde para nós mesmos. Ajudar como pode quem precisa nos custa muito pouco. Não importa a quantidade de problemas que tenhamos na vida agora, a chance é grande de ter alguém ao seu lado em um estado bem pior. Então, se puder, ajude”, pede a atriz de teatro e artesã Agda Sacramento Cardoso, 76 anos.
Agda é beneficiária e voluntária da ação social Alimente uma Família do Bairro da Paz, criada pela Agência de Notícias das Favelas (ANF) em 2020, no início da pandemia do Covid-19. “O nosso objetivo tem sido atender aqueles em situação de vulnerabilidade social, especificamente as famílias chefiadas por mulheres. Hoje 500 famílias são ajudadas pelo projeto e acho que partilhar o que temos vai além de um gesto de solidariedade, é uma missão que precisamos alimentar diariamente. Doar e ter empatia nos qualifica como seres humanos, é a prática do amor ao próximo!”, afirma o jornalista, editor e coordenador de ação social da ANF, Paulo de Almeida Filho.
E para muitas pessoas, salienta a fundadora do projeto Amor Por Anjos-APA, Gabriele Santos Rangel, a solidariedade do próximo é a única forma delas terem acesso ao básico. “Ajudar uma criança, e receber em troca sorrisos sinceros e encantadores, enriquece nossa alma. Para quem pode, doe e ajude na construção de um mundo mais justo! No momento o APA está na 3ª edição da ação Sonho de Natal, que pela primeira vez será realizada no bairro do Uruguai, com distribuição de presentes, cestas básicas e panetones para crianças até 10 anos”, conta.
O APA também foi idealizado e colocado em prática no início da pandemia, com o propósito de ajudar crianças de famílias em vulnerabilidade social, e atualmente consegue ajudar em média 160 crianças por mês. Uma delas é a Ariane Sofia, de sete anos, filha de Silia Araujo de Jesus, que é beneficiada pelo projeto desde junho de 2021, quando o APA chegou ao bairro Uruguai. "Minha filha, assim como minhas sobrinhas, participam do apadrinhamento mensal e recebem uma cesta com itens de alimentação e higiene pessoal. Entrei como voluntária em julho de 2021, pois Gabriele precisava de uma pessoa de confiança para ficar responsável com as entregas e me deixou com esse cargo”, relata.
Desde que o APA chegou à comunidade, o trabalho realizado pelo projeto tem ganhado dimensões importantes na vida das crianças beneficiadas e suas famílias, afirma Silia. “O projeto ajuda demais as famílias mais carentes e garante a alimentação e a higiene pessoal da criança por alguns dias. Se todos que podem doassem um pouco, a realidade do mundo seria outra”, salienta.
Queda
O volume de donativos, no entanto, tem estado baixo desde 2020 e mesmo com o arrefecimento da pandemia, aponta o coordenador executivo da Ação da Cidadania Comitê Salvador, Raimundo Bandeira Barbosa Junior, as arrecadações esse ano estão muito abaixo do esperado. “Não conseguimos arrecadar ainda nem cinco toneladas em Salvador, quando nossa média é de 50 a 100 toneladas por campanha. Pedimos à população e às empresas que ajudem o Natal Sem Fome 2022 a levar comida para quem passa fome, ajudando a fazer mais feliz o Natal de quem mais precisa”, reforça.
Em sua 30ª edição, a campanha Natal Sem Fome de 2022 tem inúmeros postos espalhados pela cidade, mas é essencial que as pessoas fiquem atentas ao fato de que a população mais vulnerável e carente sente fome o ano todo. Como já dizia Betinho, fundador do Ação Cidadania: a fome não espera e quem tem fome tem pressa. “A população pode fazer sua parte durante todo o ano, ajudando as principais instituições idôneas que passam o ano inteiro fazendo suas ações sociais. É só procurar uma perto de você que com certeza vai encontrar, pois a solidariedade e cidadania devem ser mantidas sempre”, acredita Raimundo.
Em Salvador, a Ação Cidadania realizou também o Carnaval sem Fome de 2007 a 2019, que parou durante a pandemia, mas a instituição está tentando voltar com a campanha no Carnaval 2023. O Natal, no entanto, é a festividade do ano que mais traz pessoas solidárias às causas sociais e é por acreditar que, para além das doações, é preciso usar o poder do exemplo disseminando a solidariedade e a ajuda ao próximo - independente onde está e quem é esse próximo -, que a ONG Liga do Bem, afirma o seu fundador, Nélio Chagas, acredita que o Natal é todo dia. E a população, não só de Salvador, mas também a do sul da Bahia, precisa muito dessas doações.
“A importância dessa campanha é que a fome, desde a pandemia, voltou a ser algo muito mais presente, ainda mais na Bahia. São milhões de baianos literalmente passando fome. Estamos na campanha do Natal e ao mesmo tempo na campanha do sul da Bahia, onde as fortes chuvas já fizeram mais de 100 mil desabrigados, a situação ainda não está tão grave como no início do ano, mas já começamos a receber pedidos de socorro. Já começamos a ajudar, só que as doações estão muito abaixo do que a gente de fato precisaria, para pelo menos minimizar, e tá muito complicado esse ano, muito mais do que já é todo ano”, explica Nélio.
Confira locais
Amor Por Anjos (APA)
(Alimento não perecível, itens de higiene e brinquedos)
ENDEREÇO: As doações presenciais podem ser feitas na sede do APA, na Rua Souza Uzel, 59, na Federação e as doações digitais através do Pix: [email protected] até o dia 19 de dezembro.
Alimente uma Família do Bairro da Paz
(Alimento não perecível, cestas básicas, material de higiene e limpeza)
ENDEREÇO: As doações podem ser entregues na sede da Agência de Notícias da Favela (ANF), na Rua da União, 5, no Bairro da Paz.
Liga do Bem
(Alimentos não perecíveis, brinquedos, água potável, roupas e etc)
ENDEREÇO: As doações podem ser feitas na sede da Liga, na Rua Manoel Antônio Galvão, 25, em Patamares e por meio de apadrinhamento através do site www.aligadobem.gov ou pelo Instagram @ligadobemoficial
Natal da Cufa
(Alimentos não perecíveis)
ENDEREÇO: As doações podem ser feitas na sede da Cufa na Rua Nova do Camurujipe, 35, em São Caetano, através monetárias através do Pix: 39.757.773/0001-52 ou ainda mandar um direct no Instagram @cufabahia para mais informações
Natal sem Fome
(Alimentos não perecíveis e doações financeiras)
ENDEREÇO: As doações podem ser feitas nos postos de arrecadação em faculdades, escolas e empresas (@acaosalvador), na Igreja da Graça e no Mosteiro São Bento, e através do Pix: [email protected], até o dia 23 de dezembro
O Natal costuma ser o período com maior adesão da população às campanhas de auxílio aos mais vulneráveis, mas desde o início da pandemia, as doações caíram
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