SALVADOR
Centenário como o jornal A TARDE
Por Davi Lemos

O tenente reformado da Polícia Militar, Jeremias José dos Santos, 108 anos, ainda lembra o primeiro dia em que leu uma edição de A TARDE, quando chegou a Salvador em 1923. "Eu era soldado e ouvi o rapaz gritando na Praça da Piedade: A TARDE, A TARDE!". Conta que, naquele dia, pagou 50 centavos pela edição do então vespertino.
"Nunca mais deixei de ler", garante Jeremias dos Santos, sob o olhar de confirmação da filha Maria Glória dos Santos, que complementa: "Quando ele não vê o jornal posto na janela, fica em um nervoso só". Os dias de Jeremias começam quando ele lê, todas as manhãs, o jornal que hoje completa 100 anos de existência.
No auge dos seus 108 anos, o militar reformado, que é pai de 12 filhos, tem 10 netos, 14 bisnetos e 3 tataranetos, brinca e diz querer chegar ainda aos 150. O segredo? Ele mesmo responde: "Moro em uma casa confortável, tenho boa alimentação, não dependo de meus filhos, mas tenho o amor de todos eles".
A sua relação com o centenário periódico baiano é tão profunda que ele não mede os elogios: "O jornal A TARDE, sem desmerecer os outros, tem que ser incluído na lista dos melhores do Brasil, pois venho lendo-o há tantos anos e tenho observado", contou ele, que também foi delegado em algumas cidades do interior baiano. Após a declaração, arrematou: "Não sou político".
Visita - Um dos sonhos confessados por Jeremias é visitar o jornal, o que ele fará nesta segunda, 15, quando A TARDE festeja seus 100 anos. Conhecerá a redação, como se faz o jornal diariamente e poderá dar, pessoalmente, seu testemunho aos profissionais. "Quero parabenizar o jornal pelos seus 100 anos, um dos maiores do Brasil de Ruy Barbosa".
O tenente Jeremias gosta de leitura, tem senso de humor aguçado e uma grande paixão em sua vida: a Polícia Militar. "Esta Polícia Militar é uma sofredora e tem oficiais brilhantes. Eu me criei na polícia, entrei com 18 anos, e ainda hoje estou nela", ressalta o veterano leitor.
Lucidez - Em sua trajetória, ele foi delegado de polícia em cidades como Saúde e Miguel Calmon. "Quando eu fazia uma prisão, eu procurava ser justo, fazia meu papel de delegado", recorda. Ao lembrar o passado, reflete sobre o presente: "Até hoje estou lúcido, lembro de toda a minha caminhada, e resolvo meus problemas", disse.
A filha Glória ressalta que o pai sempre foi um homem alegre, que amou a família e a mulher Angélica de Oliveira Santos, que faleceu em 1986. "Ele é um exemplo de vida e é um arquivo vivo da Polícia Militar. Meu pai lembra de coisas de um passado muito distante, e com detalhes", emociona-se a filha.
Jeremias José gosta de esportes, principalmente futebol. "Mas eu fui o pior jogador da história", brinca.
Hoje tem uma certa dificuldade para ouvir e caminha com o auxílio de um andador. "Minha perna esquerda já me dói um pouco", comenta. Mas ainda escreve com destreza, com a mesma letra de anos atrás, ressalta. "Se eu fosse escrever um livro com minha história, daria mais de mil páginas", gaba-se.
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