SALVADOR
Chumbinho é vendido livremente em feiras da capital baiana
Por Helga Cirino | A Tarde
O drama da família de duas crianças de 4 e 3 anos que morreram depois de ingerir o raticida conhecido popularmente como chumbinho, na cidade de Feira de Santana, a 109 km de Salvador, na semana passada, revelou a fragilidade no sistema de fiscalização do pesticida na Bahia. Além das mortes, também uma outra garota de 2 anos ficou intoxicada e está internada em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Clériston Andrade (HCA).
Em Salvador, a equipe de reportagem rodou as feiras de Itapuã, Sete Portas, São Joaquim, Avenida Sete e do Rolo. Em todas, flagramos a venda da substância, liberada apenas com receituário para uso agrícola. O subcoordenador de vigilância sanitária da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Augusto Bastos, defendeu-se, alegando não ter poderes de realizar revistas, o que atribuiu ser função de polícia da Secretaria da Segurança Pública (SSP).
“Não temos como montar campana e realizar investigações para grandes apreensões em flagrante”, alegou. Bastos admitiu que a fiscalização é de difícil controle, mas garantiu que, ainda assim, é feita em feiras e camelôs da cidade: “Quando chegamos, os vendedores correm. Como as drogas, é preciso que haja uma investigação policial que apure quem são os fornecedores e de onde vem a substância usada, não só como raticida, mas também para a prática de homicídios, suicídios e tentativas de morte”.
Por sua vez, a assessoria de comunicação da SSP (Ascom) rebateu, contra-argumentando não ter como atribuição a fiscalização sanitária pública. “Eles podem fechar, apreender substâncias e punir estabelecimentos”, orientou um assessor da SSP. E acrescentou que o problema só passa a ser de responsabilidade da polícia quando o veneno é usado para a prática de crimes contra a vida.
Apuração - Apesar de a Vigilância Sanitária alegar não conseguir flagrar vendedores de chumbinho, a equipe de reportagem de A TARDE esteve na feira de Itapuã, sexta-feira, onde não ficou menos de dez minutos até que uma pessoa indicasse a loja onde poderia ser adquirido o veneno. Nas feiras do Rolo e de São Joaquim (Cidade Baixa), não foi diferente. Barraqueiros oferecem o pesticida juntamente com outros remédios de uso controlado.
“Pramil (droga para disfunção erétil) e chumbinho baratinho”, gritava um deles em São Joaquim. O preço do pesticida varia entre R$ 3 e R$ 5. “Uso sempre para matar os ratos de minha casa. Sei que é proibido, mas é a única coisa que resolve o problema”, revelou a dona de casa Rosane Pires, 29 anos.
Ela disse saber das consequências do uso do veneno e chegou a admitir já ter perdido um cachorro, um rottweiler de 3 anos que foi envenenado. “Foi uma pena. O erro foi realmente meu, coloquei o veneno e Huck acabou conseguindo entrar em casa e pegou o pedaço de pão com chumbinho debaixo da pia. Estávamos sempre monitorando ele, mas demos um vacilo”, lamentou.
A perda não fez a mulher mudar de atitude. “Um ano depois, estava usando chumbinho de novo. Já tentei de tudo, mas é a única coisa que acredito matar realmente os ratos”, reiterou.
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