SALVADOR
Circuito de vela oceânica agita baía de Todos os Santos
Por Nelson Luis
Além da magia do litoral baiano, que oferece muito além de praias belíssimas e paisagens naturais, turistas e nativos poderão conferir o espetáculo colorido das velas nas águas da baía de Todos os Santos. Considerada um desafio para muitos velejadores do Brasil, o Circuito Salvador de Vela de Oceano, uma das mais tradicionais competições náuticas, realiza, entre os dias 12 e 15 de janeiro, a sua 13ª edição.
A competição, que acontece de dois em dois anos, - sempre nos anos impares -, conta com a participação de atletas de todos os níveis, de campeões olímpicos a anônimos. A iniciativa é do Yacht Clube da Bahia e tem o apoio do Centro Náutico da Bahia (Cenab).
O Circuito de Vela de Oceano teve início em 1983, por velejadores do Yacht Clube, que queriam atrair praticantes da modalidade de outros estados para fazer um evento nacional em Salvador, aproveitando todas as condições que a baía de Todos os Santos, a maior do Brasil, com mais de mil quilômetros quadrados, oferece.
Segundo o gerente de vela do Yacht Clube, Luís Eduardo Pato, a competição promete um excelente índice técnico, pois a cada edição, o circuito desperta mais interesse e atrai mais velejadores para a cidade.
O nosso principal objetivo é desenvolver o desporto náutico na Bahia. Atualmente, existe uma tendência no mundo inteiro de conciliar as regatas técnicas com as de percurso, para atrair os velejadores que estão mais no espírito de competir e não apenas de participar, completa.
Para ele, o evento já está inserido no calendário do verão baiano e contribui bastante para a prática do esporte e o desenvolvimento do turismo. O verão é o grande chamariz. Eles vêm para competir, mas também trazem a família para fazer turismo. E isso é muito importante para a cidade, acredita.
O gerente de vela observa que a competição já alcançou grande prestigio no Brasil. Até o momento, já temos confirmadas as presenças de cinco barcos do Rio de Janeiro e um de Brasília. A nossa meta é que cerca de 40 embarcações participem da prova, espera.
Qualquer pessoa pode participar do circuito. Mas, para isso, os competidores devem ser filiados a Federação de Esportes Náuticos do Estado da Bahia (Fineb) e estar dentro das regras da classe. Antes de o veleiro participar, ele passa por uma inspeção de todas as medidas. Isso tudo é computado para a regata.
A disputa é permitida aos veleiros de tamanho igual ou superior a 19 pés. Os principais barcos baianos da categoria são Odoyá, Bola Sete, Odara, Marujos, Plâncton, Lacrau e Fuga, entre outros. É um evento que sempre conta com a participação de barcos de outros estados, principalmente do Rio e de São Paulo. Vários duelos devem acontecer durante a realização do circuito. Isso torna a competição ainda mais atrativa e emocionante.
Gigantes dos mares - Os veleiros de oceano são assim chamados pelo fato de serem barcos de grande porte, com capacidade para enfrentar mar aberto e realizar grandes travessias. As embarcações levam tripulações de cinco a 12 pessoas.
Desde o fim da década de 40 e início da década de 50, o Brasil sempre teve atletas entre os mais bem colocados nas principais competições do iatismo. Atualmente, essa é a modalidade olímpica que mais rendeu medalhas para o país.
Segundo o diretor do Cenab, Eurípedes Vieira, a prática do esporte náutico de uma maneira geral está em expansão, principalmente por dois motivos básicos: a potencialidade natural do litoral brasileiro e ao investimento do governo na área náutica.
O litoral é favorável para a prática desse esporte. O clima é altamente agradável, até no inverno é possível praticar. Outro fator que tem que ser somado são os investimentos que o governo vem fazendo nesta área, além do apoio, mesmo que tímido, da iniciativa privada.
O crescimento pela procura do esporte pode ser constatado através do grande número de barcos tipicamente de recreio e lazer registrados na capitania dos portos, afirma Eurípedes. Essas embarcações da década de 80 para o ano 2000 aumentaram 12 mil por cento. Esse é um indicador bastante interessante, pois mostra que está havendo um investimento da população na vela.
Para o velejador baiano da classe Laser, Mateus Tavares, que teve o primeiro contato com o esporte aos nove anos, a importância que o iatismo vem conquistando se deve principalmente ao crescente número de adeptos ao esporte.
Vejo o crescimento do esporte com muito bons olhos. A vela andou numa fase ruim por um tempo. Mas, atualmente, tem crescido bastante, principalmente a categoria de base. Acho que a vela deu uma impulsionada boa, principalmente nessas classes de monotipos.
Já para Eduardo Pato, o esporte náutico ainda é elitizado e o fator econômico contribui para isso: Atualmente, um barco novo da classe laser custa em torno de US$ 16 mil. Já uma vela de regata de veleiro de oceano pode custar, em média, US$ 13 mil dólares. Não acho que vá deixar de ser um esporte de elite para se tornar popular justamente por causa dos custos.
Novos Velejadores Incentivar o convívio social, o gosto pela organização e pelo planejamento, bem como os cuidados com o meio ambiente; além de desenvolver a atividade náutica nos segmentos mais pobres da sociedade é o objetivo do Projeto Navegar.
De acordo com Eurípides Vieira, o projeto existe desde 2000 e, inicialmente, começou por conta do Centro Náutico, como escola de vela. Em 2001, Lars Grael, então Secretário Nacional do Esporte, propiciou a implantação do núcleo desse projeto no Centro e a idéia vem sendo mantida por todas as gestões administrativas.
É um projeto interessante e que dá resultado, porque desenvolve nas crianças um conceito de cidadania muito forte. Elas começam a participar de uma atividade esportiva, a competir, diz.
O jovem de Plataforma, Robert Antônio Néri da Conceição, de 15 anos, é o exemplo de força e superação. Há dois anos ele faz parte do Projeto Navegar. A oportunidade para ingressar no esporte surgiu através de um sorteio que aconteceu na escola onde estuda. A professora foi sorteada e notando meu interesse, me deu a ficha para me inscrever.
O interesse e a paixão pela vela partiram do pai, que sempre velejava em pequenas regatas. O esporte mudou a minha vida e foi através dele que melhorei muito como pessoa. Fiz novas amizades, conheço agora vários lugares. Nunca viajei de avião, agora vou viajar para Porto seguro. É legal, aprendi muitas coisas novas.
Robert é atualmente um dos destaques da Classe Optmist - a escola do iatismo para crianças e adolescentes entre 7 e 15 -. que projeta os futuros destaques da vela para as classes olímpicas e demais categorias. Foi uma excelente oportunidade para mim e os colegas. Os conhecimentos adquiridos, não apenas na parte de regulagem das velas e navegação, mas no que diz respeito a ecologia, a cidadania e espírito de equipe, ficarão para o resto da vida.
Para o instrutor da promessa baiana do Centro Náutico, Sergio Lobo, promoções e movimentos que resultem em ações para beneficiar a população mais pobre são válidas. Os meninos do projeto, cerca de 60 alunos, treinam duas vezes na semana. Para ficar na equipe tem de ser ótimo aluno, ter rendimento familiar e um bom convívio com a equipe. Eles conseguem visualizar aqui que o esporte é perspectiva de trabalho e futuro.
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