SALVADOR
Classe hospitalar garante aulas para jovens internados
Previsto da Lei de Diretrizes da Educação, o ensino em unidades de saúde exige planejamento individualizado
Por Jane Fernandes
No aguardo da conclusão do diagnóstico de lúpus eritematoso, Hadassa Patrícia Oliveira Costa, 11 anos, passou boa parte deste ano em leitos hospitalares, impedida de frequentar uma escola tradicional. A sede de aprendizado da menina, que deseja ser médica quando crescer, tem sido atendida pelas aulas da Classe Hospitalar do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes/Ebserh) da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
A pedagoga Luciana Brasil, responsável pelas aulas no Hupes, conta que a classe hospitalar foi implantada na unidade em 1999, por meio de parceria com a prefeitura de Salvador, e, dez anos depois, passou a ser gerida pela Faculdade de Educação da Ufba. Após um breve hiato, Luciana assumiu o programa em 2020, realizando atividades tanto na nova sala de aula, recentemente entregue, quanto no leito, a depender da condição física do aluno.
A classe hospitalar está prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) desde 2018, quando foi publicada a Lei 13.716. Não há obrigatoriedade de separação por séries, sobretudo por conta da demanda variável e descontinuada. No Hupes, Luciana elabora planejamentos de aulas para pacientes desde a educação infantil ao ensino médio, promovendo atividades em grupo e individuais.
“No primeiro atendimento eu faço um diagnóstico e então faço um planejamento. O planejamento é feito a partir do que ele já conhece, de acordo com o desenvolvimento cognitivo, com a série, com a idade. Esse planejamento é desenvolvido individualmente e diariamente até o dia da alta. Em alguns casos, a gente entra em contato com a escola e eles fazem atividades da escola ou fazem avaliação aqui também”, explica a pedagoga.
Continuidade
No caso de Hadassa, ela desenvolve atividades até mais avançadas do que a série na qual estava matriculada, conta Nadja Rejane Costa, sua mãe. Passando pela quarta internação prolongada - na última quarta-feira, ela completava um mês no Hupes - desde o início do ano, a menina teve a matrícula trancada pela escola. Nadja conta que a dificuldade em avançar de série provoca tristeza na filha, mas não tira seu gosto pelos estudos.
“O que ajuda ela aqui no hospital é a interação, esse momento que ela tem pela manhã, de aliviar as dores que sente. Mesmo com essas dores todas, mesmo com essa dificuldade, o pensamento dela só é estar na escolinha”, reforça Nadja. Na última quarta-feira, a menina não teve condições de assistir ao filme do cineclube, projeto mensal da Classe Hospitalar. Nessas horas, pega um livro para ler ou faz as pulseiras que tanto gosta.
Luciana ressalta a importância da Classe Hospitalar na prevenção da evasão escolar e da repetência, sobretudo em internamentos longos. “Às vezes fica tanto tempo internado que quando volta para a escola, não consegue acompanhar. Então fala: ‘ah, deixa para o ano que vem’”, comenta. O ensino fundamental é o grupo com maior demanda no hospital, segundo a pedagoga, mas mesmo os pacientes menores não ficam de fora, e desenvolvem atividades preparatórias para a alfabetização.
Escola hospitalar
Enquanto o Hupes/Ebserh conta com um programa próprio, mais de uma dezena de hospitais, centros de tratamento e casas de apoio de Salvador contam com aulas ministradas pelas equipes da Escola Municipal Hospitalar e Domiciliar Irmã Dulce. É o caso do Grupo de Apoio à Criança com Câncer (Gacc), onde Sérgio Lopes da Silva Filho, 13 anos, teve aula na semana passada.
Morador de Serrinha, o adolescente veio a Salvador com a mãe, Jaqueline Cardoso dos Santos, para consultas e exames. Embora esteja matriculado em uma escola no seu município, ele tem faltado muitas aulas, conta a mãe. Sérgio teve um osteossarcoma e já concluiu o tratamento para debelar a doença, mas está usando uma bota e fica desconfortável em deixá-la aparente.
Jaqueline já conversou com a diretora da escola, que está buscando ajudar na adaptação de Sérgio. Enquanto isso, ela não abre mão da participação do filho nas aulas ministradas pela Escola Municipal Hospitalar no Gacc ou no Aristides Maltez, onde o adolescente faz o acompanhamento do seu quadro. “É muito importante não deixar as crianças sem conteúdo”, enfatiza a mãe.
Segundo a Secretaria Municipal da Educação (Smed), cerca de 200 alunos estão matriculados atualmente na Escola Hospitalar, mas este número representa apenas uma parcela do público atendido. São matriculados na unidade somente estudantes não vinculados a outras escolas da cidade, enquanto as atividades de ensino são estendidas a todos aqueles afastados das suas aulas regulares, mesmo que somente por um dia.
A Smed acrescenta que a Escola Irmã Dulce também atende estudantes impossibilitados de frequentar as unidades regulares que estão recebendo tratamento médico nos seus domicílios.
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