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SALVADOR

Cléo Martins

Por JORNAL A TARDE

24/03/2006 - 0:00 h

Aquecendo a tradição



Ao Elemaxó Arielson Chagas, nosso pai Leo, Ogã decano da Casa Branca do Engenho Velho, com carinho e respeito



Cléo Martins

  

O tempo, este incorruptível, passa ligeirinho feito os passos de meu avô Antonio Luís Figueiredo, Ogã de Xangô do Engenho Velho...



Chegou o outono com os vendavais, marolas, frutos e belas cores agitando a Roda Fortuna.



Para cima e para baixo. Para baixo e para cima. Idem e ibidem.



O axexê de Mãe Teté terminou, solene, aos 21 de março, dia do aniversário natalício de Rita Virgínia Rodrigues do Rio, a ebame Obá Toji do Ilê Axé Opô Afonjá.



Para ela eu canto a música de Erasmo: é a irmã, companheira, camarada: a amiga certa das horas incertas.



Dia 21 de março também é dia inesquecível, de vitória para o povo-de-santo: o tombamento, como patrimônio cultural do Estado da Bahia, do Ilê Axé Opô Ajagunã, sito à Rua Diamante, lote 14, em Areia Branca, no município de Lauro de Freitas ([email protected]).



O babalorixá fundador, Aristides Mascarenhas – o pai Ari de Oxogui㠖 é descendente do Ilê Axé Opô Aganju, também em Lauro de Freitas, sob a suprema liderança de Pai Balbino – nosso tio Robelino: símbolo venerando da tradição iorubá no Brasil e diáspora africana: elegante príncipe de Xangô.



Com ele, tive o prazer de percorrer o Mercado Dantokpa, no Benim, no embalo de cervejas em canecas gêmeas, de esmalte, adquiridas lá mesmo... com tampa! Como Robelino foi aplaudido ao mostrar o samba baiano!



O terreiro Ajagunã é descendente do Axé Opô Afonjá, fundado por Mãe Aninha – a nossa avó Aninha: Eugenia Anna dos Santos, a Donana, nos idos de 1910 –, de cujo Xangô tenho a honra de ser a primeira Agbeni.



Como dizia tia Cantu, a Iá Egbé do Axé Opô Afonjá e ialorixá no Axé do Rio de Janeiro: “Cantiga que menino canta, gente grande já cantou”...



Adoro esta frase por mim bastante repetida e citada em muitos dos artigos e outras obras. Supimpa!



Nada mais compreensível do que a importância e o reconhecimento público do trabalho de meu irmão mais velho, Ari: o presidente da Federação Nacional da Cultura Afro, no País, e Babalaô reconhecido em todo o território nacional.



O ditado proclama: “Quem herda não furta!”



Nada mais esperado do que o bisneto seguir os passos de sua ancestral e da magnífica tia e sucessora de Obá Biyi: Iá Stella, a personalidade dos terreiros que, cada vez mais, vem estruturando a Religião dos Orixás. Kègbó ké tò, iyà mi!



Diferentes líderes mundiais têm visitado o Axé Ajagunã, a exemplo de Fidel Castro.



Aristides destaca-se por ser o autor do Código de Ética do Candomblé e importante projeto que garante a aposentadoria aos sacerdotes religiosos das tradições de matrizes africanas.



O Ilê Axé Opô Ajagun㠖 tombado pelo Decreto 9.743, de 28 de dezembro de 2005 – é o quinto terreiro a ser reconhecido como patrimônio cultural do Estado, pelo Ipac.



O terreiro de Aristides Mascarenhas mantém importante trabalho comunitário em Areia Branca, desenvolvido por ONG formada por sacerdotes da comunidade, em parceira com o Município e o Estado, fazendo parte do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil).



O tempo passa, a roda gira.



Começou aos 23 de março pp (dia do aniversário natalício de Andréia do Axé Opô Afonjá) o axexê de seis meses da inesquecível Iyá Olga de Alaketu: a imponente filha de Oyá que aprendi a amar.



Assim é a vida que segue seu rumo.



Hoje, sexta-feira, é o itá – terceiro dia – da cerimônia fúnebre no Ilê Axé Maroialaji, em Matatu de Brotas.



Sexta passada foi o itá do axexê de minha avó Teté de Iansã, a iaquequerê do Engenho Velho, no Rio Vermelho de Baixo.



Coincidência não existe.



Mãe Teté e Mãe Olga foram as mais ilustres Oloiás de seu tempo: mestras e paradigmas; hoje, igualmente ancestrais no Orum.



O Axexê de Mãe Teté – sob a direção dos Ogãs Léo e Edvaldo, o Papadinha – foi uma das mais belas cerimônias das quais participei. Sóbrio, imponente, discreto e farto.



Com a presença de muitos sacerdotes e sacerdotisas ilustres: o Elemaxó Erenilton, do Terreiro Oxumarê; Babalorixá Air José; Alabê Tom Gordo e Ney Elemaxó – do Pilão de Prata; Mãe Índia, Voduncy Neném e equipe – do Bogum; Cota Nair (Naná) de Mutalambô; Ebame Lurdes de Iansã; Ebame Vânia de Iansã, do Kaleibocum; Babalorixá Ajaley de Ogum do Rio de Janeiro e filhas – sendo ele filho-de-santo de Mãe Teté –, Obá Abiodum Adriano de Azevedo Filho, do Axé Opô Afonjá, dentre outros e outras.



As lideranças femininas marcantes foram Mãe Tatá e Mãe Nitinha, que responde pelo título de Ìyágan do terreiro de Babá Agboulá, na Ponta de Areia: o mais alto posto feminino da referida tradição.



Sensível o encontro de diferentes, destacando-se a participação solene desse egun, sob a liderança de Ojé Eurico Legibé, do Ilê Babá Agboulá.



Mais que tradicional é histórico.



Tradição aquecida pela história vai além, muito, muito além do temperamento exuberante da roda chamada Fortuna.



Cléo Martins

([email protected]), advogada e escritora, é a Agbeni Xangô do Axé Opô Afonjá e Ìyágan Babá Arassoju do terreiro Babá Adeboulá.

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