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SALVADOR

Cléo Martins

Por JORNAL A TARDE

10/03/2006 - 0:00 h

Baobás do Orum



(Para Mãe Teté – Juliana Baraúna – em memória)



Cléo Martins*



“Tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas” – Antoine de Saint-Exupéry.

 Minha tristeza pelo desaparecimento de minha avó Teté – a decana das filhas de Iansã do Brasil e Iaquequerê da Casa Branca do Engenho Velho, no último dia 2, foi suavizado por notícia para mim tardia – o movimento pró plantio de baobás em comunidades religiosas de matrizes africanas desta cidade do Salvador e Maragogipe.



Amo o baobá, a imponente árvore dos milênios.

 Costumava tomar o café da manhã contemplando o quadro solitário, da sala de refeições de São Gonçalo, cujo tema é o baobá meio perdido na neblina. As silhuetas azuis de dois homens minúsculos – face à árvore imensa – aquece a nostalgia da paisagem.



–Baobás aqui?! Que maravilha – disse em voz alta, depois de leituras (atrasadas) dos periódicos soteropolitanos graças ao carinho de Iane de Oyá de Macaé: “A Caçula” – sempre informadíssima.



Temos baobás na Bahia! Conforme pesquisas, existiam pouquíssimos no Brasil: 16 em território pernambucano, três no Rio Grande do Norte, um no Ceará e outro no Rio de Janeiro.



Compreendi que as árvores plantadas em Salvador e Maragogipe, originais da África, têm sido doações de particulares, os cientistas John Rashford, da Carolina do Sul (EUA), Cláudia Regina Batista, do Centro de Estudos Afro-Orientais, da Ufba, e Fernando Batista, da Universidade Federal de Pernambuco.



Bato palmas de pé para a sensibilidade destes pesquisadores. Axé!



Vários terreiros já ganharam mudas da árvore falada em verso e prosa: Axé Opô Afonjá, Casa Branca do Engenho Velho, Gantois, Bate Folha, Ilê Axé Omim Jobá, Manso Dandalunda Cocoazenza...



Assentaram-se baobás no Parque São Bartolomeu; Campo Grande; na entrada do Aeroporto; em Nazaré. Alegra-me a notícia de que em breve haverá dois no Dique de Tororó. Não é lindo?!



Adoro árvores e sua trajetória. A intimidade com o vento no pás de deux das folhas.



As árvores são partículas do Sagrado; vislumbres de eternidade, guardiãs da esperança; musas dos poetas; amparo de contemplativos; marco de sabedoria e abrigo dos sem-teto.



O baobá é marco de resistência e posteridade. Pode viver de três a seis mil anos. Testemunha a tradição e continuidade da vida que, assim, será eterna para todo o sempre. Amém. Amém. Amém.



Os iorubas contemplam o sagrado em algumas árvores. Os irocos, por exemplo: a Clorofhora excelsa do continente africano. No Brasil, adaptou-se sob as roupagens magníficas da Fícus religiosa. Em Cuba, reside na Ceiba pentandra cheia de altivez e espinhos.



O baobá é árvore dos ancestrais e divindades africanos; cercada de velas e ex-votos. É testemunha dos primórdios; do passar das épocas; do nascimento e extinção de povos e culturas. É íntimo dos místicos e Mistério; de cultos e sonhos.



Seu nome científico é Adansonia digitata.



Quando adulta, tem tronco gigantesco. A média – em idade proveta – é atingir dez metros de diâmetro. Técnicas avançadas determinam que o baobá de cinco metros de diâmetro viveu um milênio. Já pensaram no de dez?!



Não minto ao dizer que baobás foram cantados em versos e prosa.



Quem não leu Le Petit Prince, traduzido como O Pequeno Príncipe no Brasil e O Principezinho em Portugal?! O magnífico livro de Antoine de Saint-Exupéry publicado em 1943. Exupéry, o piloto desaparecido nas nuvens... Todas as gerações posteriores têm viajado nas páginas onde mora o misterioso menino de olhos azuis de um planeta infestado por baobás.



Um tronco desta árvore – a Mãe Teté do Engenho Velho – retornou ao orum.



Nossos corações povoam os planetas mais diversos. O meu vive no Pequeno Príncipe da raposa, estrelas, florinhas delicadas e temperamentais; infestado pelos baobás por quem somos eternamente responsáveis.



Cléo Martins

([email protected]) – escritora – é Agbeni Xangô do Ilê Axé Opô Afonjá e Iyagan do Ilê Babá Adeboulá|

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