Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > bahia > SALVADOR
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

SALVADOR

Colônia JK, quase 50 anos de Bahia

Por Jair Fernandes de Melo, do ATarde

15/06/2008 - 21:17 h | Atualizada em 16/06/2008 - 7:58

A colônia Juscelino Kubitschek, em Mata de São João, a 54 km de Salvador, foi fundada em 1959. Cerca de 120 famílias deixaram para trás um Japão arrasado pela guerra e desembarcaram no Brasil nos anos seguintes. Gente que ajudou a construir a história de um núcleo que, hoje, com 30 famílias, ainda se mantém graças ao trabalho agrícola e à perseverança de seus componentes.

Yukio e Satoko Iseki, 70 e 69 anos, 47 deles na colônia. O casal fez o êxodo atraído por uma propaganda enganosa. “Disseram que a terra aqui tinha energia, água, estradas boas. Mas eram imagens do Sul do País, tudo mentira”, diz Satoko.

Yukio era vendedor e mecânico de máquinas agrícolas na Ilha de Shikoku. Na nova terra, foi um dos que mais lutaram pela infra-estrutura do local. “Fui ao Japão conversar com o governo, que entrou com metade dos recursos para a implantação de energia elétrica e telefonia”, conta Yukio. Como reconhecimento, recebeu a Medalha de Honra ao Mérito Raio de Prata, uma das mais altas honrarias concedidas pelo governo japonês.

Enquanto vivia na colônia, sem tratores para vender e ou consertar, Yukio aplicou os conhecimentos de agricultura que herdou de um tio, com quem cultivava batata-doce, arroz e lidava com bicho-de-seda. Cultivou limão tahiti e hoje vive da graviola, com produção de cerca de 200 toneladas por ano, distribuídas em nove sorveterias de Salvador, e 40 cabeças de gado de engorda. “Já tive 80 cabeças. Não agüento mais. Estou velho”, assume, com bom humor.

Humor de quem foi mais forte que a morte. Aos 54 anos, quando era dono de quatro floriculturas, com produção vinda da suas próprias terras, Yukio teve câncer. Por recomendação médica, deixou todo o conforto – e a poluição da capital – para regressar de vez ao campo. O reinício se deu na Colônia JK, onde, anos antes, havia chegado como um agregado. “Para receber a licença de imigração, cada família precisava ter, pelo menos, três pessoas acima de 15 anos. Vim com a família de meu irmão”, relembra.

Orgânicos – Tomohide Takenami, 50 anos, é um dos poucos nisseis (filhos de imigrantes) que se mantêm na colônia em Mata de São João. A geração dele e a seguinte (a dos sanseis, netos dos japoneses) tomaram o caminho de volta para a Terra do Sol Nascente ou migraram para grandes cidades.

Takenami, como é mais conhecido, estudou administração na Universidade Federal da Bahia. No início da década de 90, iniciou o que hoje é o Ecosítio Takenami, o mais famoso da colônia, com produção semanal de 20 toneladas de hortifrutis, escoados para supermercados e feiras especializadas em Salvador. Tudo produzido na modalidade orgânica, sem nenhum insumo químico.

“Não vou produzir algo que mate as pessoas. A mesma tecnologia usada pelos americanos para construir as bombas atômicas foi usada depois para desenvolver esses agrotóxicos”, relaciona Takenami, que diz aprender muito com a mãe sobre as técnicas orgânicas. “Eles usavam adubo feito com dejetos de animais, palhas de arroz”, ilustra, remetendo a um Japão antigo.

E é de lá que parece ter saído Kiyomitsu Honda, 78 anos. “Trabalho... roça... cansaço... português”. As palavras soltas carecem da interferência no idioma natal pelo nissei Takenami. “Ele quis dizer que trabalha na roça o dia todo e que não teve condições de aprender português direito. Chegava cansado em casa. E convivia mais com japoneses”, traduz.

Honda tentou investir na pimenta-do-reino. As chuvas de verão, que prejudicavam o leve fruto, levaram consigo o interesse do produtor pela cultura. Honda, que ganhou o prêmio de produtor-modelo dado pelo Incra, investiu em mamão, banana e chuchu. As três culturas deram condições para ele pagar o financiamento bancário com que montou estrutura básica, com casa, trator e galpão, onde estoca implementos, da sua fazenda. Ali, ele leva tranqüilamente sua vida rural. Ainda em japonês.

Leia mais na versão digital ou na versão impressa do A TARDE desta segunda-feira.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Play

Veja o momento que caminhão de lixo despenca em Salvador; motorista morreu

Play

Traficantes do CV fazem refém e trocam tiros com a PM em Salvador

Play

Rodoviários reivindicam pagamento de rescisão no Iguatemi

Play

Vazamento de gás no Canela foi ato de vandalismo, diz Bahiagás

x