SALVADOR
Escolas tiveram 91 casos de violência em 2009
Por Emanuella Sombra, do A TARDE
Porte ilegal de armas, ameaça de morte, injúria, tráfico ou uso de drogas, agressão física. Casos de violência dentro das salas de aula alcançam média de uma ocorrência por dia registrada em Salvador desde março pela Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI). Como o levantamento começou a ser feito em 2009, é impossível comparar com anos anteriores, mas a delegada titular, Claudenice Maio, atesta que os números vêm crescendo. Do total, 98% ocorrem dentro de colégios públicos.
“Há menos casos nas particulares, mas, quando há, a direção prefere resolver lá dentro, para não expor a escola”, explica Claudenice. Semana passada, um adolescente de 16 anos foi flagrado com revólver calibre 22 dentro de uma sala do Colégio Estadual Hildete Lomanto, no Garcia, depois de denunciado por colegas. Outros dois estudantes, de 14 e 15 anos, foram encontrados com facas na Escola Getúlio Vargas, no Barbalho.
O terror vivido numa escola da capital é relatado por uma professora de ensino médio, que pediu para não ser identificada. Ameaçada de morte por um aluno depois de denunciá-lo por tráfico à direção, pediu transferência de unidade. “Enquanto estou lá, vivo em pânico. Ele diz que manda me seguir, diz que sabe onde meu filho estuda. Fora minha situação, conheço várias colegas que sofrem agressão verbal diariamente, até física, mas que não vão peitar marginal”.
Apesar dos números alarmantes divulgados pelo DAI e do relato acalorado de docentes que participaram na sexta-feira de discussão sobre o Plano Municipal de Educação, atualmente em votação na Câmara de Vereadores e que aborda temas como segurança nas escolas, o comandante da Ronda Escolar, capitão Ubiracy Vieira, diz que a situação está sob controle.
“Denúncias podem ser feita pelo telefone 3235-0000. Ligando de casa, não precisa se identificar. Aconselho professores a não se expor para não se transformarem em vítimas”, adverte. Em matéria publicada em maio, A TARDE já acompanhava casos de violência em ambiente escolar, e mostrou que o número de adolescentes detidos traficando na capital subiu 125% entre os anos de 2009 e 2006. De 62 ocorrências, o número de casos subiu para 140 nos meses de março e abril destes anos.
Socióloga e pesquisadora da Universidade Católica do Salvador), Miriam Abramovay credita à falta de política pública consistente o problema nas unidades de ensino de Salvador. “Há uma confusão de papéis. A polícia tem um papel efetivo que é fora da escola, no bairro e no entorno, só tem que entrar quando há denúncia de drogas, armas ou tráfico”. Partindo de estudo realizado em escolas públicas de Brasília (DF), a pesquisadora questiona a atuação dos educadores.
“É responsabilidade da escola o que acontece lá dentro. A escola usa muito a lei do silêncio. A grande questão é que os professores e a direção não estão preparados. Eles saem do curso de formação sem uma visão do que é aquela realidade”, acrescenta a socióloga, para quem deveria existir uma atuação menos passiva dos educadores.
Os números do DAI revelam que 53% dos casos de violência em sala de aula são algum tipo de lesão corporal. Presidente da comissão de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, a vereadora Olívia Santana critica a ideia de policiamento ostensivo como solução única. “É preciso que a escola não seja também um espaço de reprodução das violências simbólicas. Se ela não trabalha com a elevação da autoestima do aluno, isso é um elemento provocador de violências maiores”.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes