SALVADOR
Festa de Iemanjá celebra tradição em novo formato e fieis acompanham de longe
Por Victor Rosa
A pandemia do novo coronavírus mudou os formatos dos festejos desde março do ano passado. Houve festa de São João com live e transmissão online do Senhor do Bonfim. O ocorrido não foi diferente com os festejos de Iemanjá, nesta terça-feira, 2.
As festividades em homenagem a orixá Iemanjá ocorrem todos os anos, tradicionalmente, no dia 2 de fevereiro, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Este ano a comemoração manteve a tradição, mas adaptou seu formato para receber menos pessoas e, assim, evitar a transmissão da Covid-19.
O tradicional presente para Iemanjá saiu por volta das 00h30 do Terreiro Ilê Axé Awa Ngy, no Engenho Velho da Federação, e chegou ao Dique do Tororó às 1h da manhã. Após homenagear Oxum, no Dique, o presente saiu em direção ao Rio Vermelho, chegando lá por volta das 7h30.
A imagem foi recebida por cerca de 50 pessoas que observavam na calçada da orla do Rio Vermelho para referenciar a orixá e entregar suas flores para serem colocadas ao mar, já que a entrada para a faixa de areia está bloqueada. A imagem e os presentes foram levados ao mar pelo barco Rio Vermelho.
A interdição da faixa de areia, no trecho que vai do Buracão ao restaurante Sukiyaki, foi uma das principais mudanças em função da pandemia. As praias seguem fechadas até meia-noite da quarta-feira, 3. O objetivo é evitar a aglomeração de pessoas que desejam prestar suas homenagens.
Segundo o babalorixá Pai Ducho de Ogum, responsável pela confecção da imagem neste ano e por levá-la até a praia, independente do formato, o importante é manter a tradição viva.
“Não pode deixar de ser feita por ser uma tradição, e tradição não se muda. Pode mudar os costumes, mas a origem e a tradição não. A saudação religiosa à Iemanjá, em um momento como este de pandemia, é do mesmo jeito que temos nos anos anteriores, só que vamos tomar mais um pouco de cuidado por causa do vírus. Se a gente não cuidar de si próprio, não cuidará mais de nada”, comentou o babalorixá.
Mudança de formato
Apesar de manter a tradição, o novo formato dos festejos, sem a festa profana e acesso à areia, não agradou a todos. O soteropolitano Marcos Lopes, que comemora 61 anos de vida no mesmo dia de celebração à Rainha do Mar, lamentou não conseguir celebrar o aniversário e Iemanjá com o ‘calor humano’ de todos os anos.
“Acho este formato distante muito triste. A festa de Iemanjá é presencial, perde o calor assim. Mas acredito no potencial da vacina e que ano que vem vamos comemorar e reverenciar da melhor forma", disse o aniversariante, com esperança de um 2022 melhor.
A insatisfação de um dos fiéis foi presenciada pela reportagem por volta das 6h40, quando um senhor discutiu com os policiais que faziam a guarda da faixa de areia querendo entrar para colocar suas flores ao mar. Após a discussão,este senhor foi embora e se recusou a dar entrevista.
Para o presidente da Empresa de Turismo (Saltur), Isaac Edington, que marcou presença na comemoração, apesar de alguns contratempos, o festejo este ano foi melhor do que o esperado e “tudo deu certo”, apesar da preocupação com aglomerações e desobediências.
“A gente tem conseguido fazer que estas festas populares, mesmo que de forma diferente, possam continuar existindo. Confesso que estava muito preocupado, mas foi melhor do que esperávamos. Lógico que tem alguns curiosos que aglomeram um pouco e pessoas que queriam quebrar as novas regras para jogar os presentes”, comentou Isaac.
Intolerância religiosa
Outro representante religioso que marcou presença nas comemorações restritas do 2 de fevereiro deste ano foi o presidente da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro Ameríndia (AFA), o babalorixá Leonel Monteiro.
Leonel lamentou o país está vivendo um número tão grande de mortes, mas também agradeceu por todas as conquistas e destacou que a realização da festa de Iemanjá é, também, um movimento de luta contra a intolerância religiosa.
“Nós não podemos deixar de agradecer pelas conquistas de estarmos vivos aqui e mais um ano poder celebrar nossa religiosidade em primeiro lugar, nossa fé e nossa cultura desta grande mãe. Conseguimos perpetuar o culto em um país em que a intolerância religiosa é muito grande, mas nós resistimos, existimos e vamos continuar cultuando aquilo que acreditamos ser o bem da humanidade, que são as energias da natureza, representadas neste momento por Iemanjá”, alertou.
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