CIDADE
Furtos sucessivos na Igreja da Ajuda expõem vulnerabilidades
Além de previsíveis, delitos também retratam realidade social de natureza seletiva
Por Jane Fernandes
Furtada três vezes em cinco dias, a Igreja da Ajuda chamou a atenção para a vulnerabilidade desses templos católicos históricos, sobretudo por terem ocorrido após a intensificação da presença da Guarda Municipal e da Polícia Militar no Centro Histórico, região onde a igreja está localizada. Não há números relativos a esse tipo de furto na Bahia ou em Salvador, mas em fevereiro outro caso foi noticiado, tendo como alvo a Igreja Santo Antônio, no município de Juazeiro.
Diretor de Segurança Urbana e Prevenção à Violência da Secretaria de Ordem Pública, à qual está vinculada a Guarda Civil Municipal (GCM), Maurício Lima considera previsível que haveria uma migração do tipo de delito, a partir das ações para coibir o roubo a pessoas, com “a atuação e a ocupação dos espaços públicos do Centro Histórico pelas forças de segurança, tanto Guarda Municipal, Polícia Civil e Polícia Militar”.
Segundo Lima, um balanço do primeiro mês de operação - completado ontem (28) - deve ser apresentado nos próximos dias e mostrará o sucesso da iniciativa em andamento, que colocou mais de 40 guardas diariamente divididos em oito viaturas e também utilizando motos, na área entre a Praça Castro Alves e o Santo Antônio Além do Carmo, englobando também parte do Comércio.
O diretor esclarece que não há uma atuação específica direcionada para a proteção das igrejas, mas a partir do caso na Ajuda houve uma recomendação de maior atenção da equipe aos imóveis que são patrimônio histórico. “Mas as pessoas também têm que ter um pouco mais de cuidado com as suas propriedades, têm que cuidar do seu patrimônio não os deixando tão vulneráveis”, alerta.
Lima conta que esteve na Igreja da Ajuda e sugeriu algumas intervenções para melhorar a segurança. “Estava muito vulnerável, num lugar ermo, muito escuro, sem nenhum refletor que dê uma luminosidade que impeça algumas ações de pessoas delituosas. A porta principal da igreja também estava estragada, com a madeira muito apodrecida”, comenta.
No último mês, o Centro Histórico passou a contar com contingente maior da Polícia Militar (PM), com a adição de 30 novos soldados. Segundo divulgado pela Secretaria de Segurança Pública, o foco é um reforço no patrulhamento preventivo e repressivo, contemplando as localidades do Pelourinho, Santo Antônio Além do Carmo, Terreiro de Jesus e Praça da Sé.
Questionada sobre os reflexos dessa atuação na proteção ao patrimônio histórico, a PM informou, por meio de nota, que “o policiamento é realizado pelas unidades convencionais da corporação, sendo que cada localidade é de responsabilidade de uma companhia ou batalhão, além de contar com o apoio de equipes de uma das CIPT's Rondesp's, bem como de unidades do Comando de Policiamento Especializado (CPE), mediante o emprego de viaturas que realizam rondas diuturnamente”.
Registro
A Polícia ressaltou ser “imprescindível que qualquer situação que fuja à normalidade seja informada pelo 190 ou 181 (disque-denúncia) para que a PM encaminhe guarnições ao local. Além disso, o registro da ocorrência em delegacias da Polícia Civil é fundamental, para que sejam efetuadas as investigações referentes a cada caso e a identificação dos respectivos autores dos furtos registrados”.
Também por meio de nota, a Polícia Civil disse que a investigação de furtos a igrejas é feita de mesma forma que nos demais casos: “são expedidas as guias para perícia, realizada a oitivas de testemunhas, solicitação de imagens caso disponham de câmeras de segurança e outras ações de inteligência”. O texto explica ainda que as estatísticas de furto não especificam a ocorrência em templos religiosos.
A Arquidiocese de Salvador informou que está realizando um levantamento dos furtos cometidos em igrejas dos cinco municípios que a compõem: Salvador, Lauro de Freitas, Salinas da Margarida, Vera Cruz e Itaparica, somando 101 paróquias e três diaconias. A reportagem solicitou uma entrevista sobre o tema, mas a assessoria informou não haver fonte disponível.
Embora a Igreja da Ajuda não seja administrada pela Arquidiocese, por ser Irmandade, sua reabertura precisa ser alinhada com essa instância de gestão, segundo o provedor do templo, Frederico Pena Vilas Boas. Como a segunda pessoa a furtar a igreja, entre os dias 14 e 18, violou o Sacrário (pequeno cofre) é preciso fazer uma missa de desagravo antes de retomar as atividades.
As três invasões à Igreja resultaram no furto de quatro castiçais, seis vasos, duas âmbulas com hóstias, que ficavam dentro do Sacrário, cinco caixas coletoras e um aparelho de TV, lista Vilas Boas. Uma série de medidas têm sido adotadas desde então para melhorar a segurança do templo, mas ele pediu que não fossem detalhadas na reportagem para não dar dicas a quem tenha interesse em driblar a proteção.
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