SALVADOR
Ilha Amarela: recanto no topo do subúrbio
Por Danile Rebouças, do A TARDE
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No Subúrbio Ferroviário, entre o Parque São Bartolomeu, a Represa do Cobre e os bairros de Escada, Itacaranha e Praia Grande, está a Ilha Amarela. Não é cercada por águas, mas fica no topo do subúrbio de Salvador, com vista exclusiva da cidade. Na história do Brasil, a área da Ilha se destaca. Já foi ocupada pelos índios tupinambás, serviu de refúgio para os negros escravizados em engenhos de cana-de-açúcar e, junto com bairros que fazem fronteira, foi palco da Batalha de Pirajá, decisiva na Independência da Bahia.
Antes, a Ilha era formada por mata, que, de refúgio, virou lugar sagrado, onde os escravos encontravam sinais dos orixás. Depois vieram as grandes fazendas, que aos poucos foram loteadas e vendidas. Mas a verdadeira transformação da área veio somente no século XX, quando as primeiras casas de taipa começaram a ser construídas. Nada de energia elétrica ou água. Candeeiros iluminavam as residências e a água era carregada em baldes das bicas e cachoeiras do Parque São Bartolomeu e bacia do Cobre. A única forma de locomoção era por caminhadas. Não havia acesso para carros.
No mapa de Salvador, a Ilha Amarela aparece como se estivesse em área do Parque São Bartolomeu. Em região que reúne o maior número de acidentes geográficos e que foi menos atingida pelo desmatamento. Nos livros, os registros a incluem no Parque Pirajá. “Cheguei aqui em 1948 e só tinha mata virgem, o acesso era de barro, passei um dia no local, gostei, resolvi morar e estou até hoje”, relata Astéria Ferreira Matos, 82 anos. Mãe-de-santo, Astéria sentiu-se atraída pela Ilha, inicialmente por causa da mata, propícia para a prática do candomblé. Mãe Astéria, que teve 20 filhos (oito estão vivos), foi uma das grandes batalhadoras para transformação do espaço. “Dormia na porta da prefeitura para conseguir falar com o prefeito e pedir as coisas para o bairro. Vi tudo crescer por aqui e tenho orgulho disso”.
Mãe Astéria é conhecida na região e se sente aconchegada no seu lar. “Sou muito mimada pelo povo e tenho ótimas lembranças quando o parque era referência e todos vinham pra cá. Hoje está dominado pelo desmatamento e o povo tem medo”, ressalta.
INTERIOR – O clima de interior predomina no bairro. Como fica em terreno elevado, sequer dá para ver os altos prédios da cidade, nos bairros centrais. As casas possuem quintais. Na rua, as pessoas passam e se cumprimentam. Alzira Nascimento, 73 anos, mora há 42 anos no bairro e até tentou sair de lá uma vez, para facilitar o estudo dos filhos – nove no total. Entretanto, retornou por causa do espaço livre e grande que tinha na casa da Ilha Amarela. Hoje, Alzira reclama porque o espaço perdeu a tranqüilidade. “Violência, som alto e bebedeira, a mata faz medo, só passa quem é conhecido. Se não fossem essas novas incomodações, que existem hoje em todo lugar, seria um local ótimo para morar”.
No passado, a Estrada do Cobre, localizada na Ilha, já foi a principal ligação dos moradores do subúrbio com o Parque São Bartolomeu. Era usada como acesso à BR-324, ao matadouro e às cachoeiras. O bairro era movimentado e muito freqüentado pelos soteropolitanos. Quanto ao sugestivo nome – Ilha Amarela –, conforme relatam moradores, foi provocado por um surto de febre amarela na região. Esta era considerada vulnerável para infecções e disseminação de vírus, por ser aberta, com inúmeras nascentes, poços e florestas, que facilitam proliferação de insetos. Ilha, por estar próxima do mar.
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