NA BAHIA
Importações de medicamentos à base de cannabis crescem quase 7000%
Na estado, entre 2018 e 2022, importações saltaram de 54 para 3.790, Salvador tem 80% desse percentual
Por Maurício Viana

As importações de medicamentos à base de cannabis autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) cresceram 6.918,51% na Bahia entre 2018 e 2022, saltando de 54 para 3.790, segundo dados registrados pela Agência Tatu. Com a Bahia liderando entre os estados nordestinos, Salvador é responsável por 80% do percentual, segundo os dados da Associação para Pesquisa e Desenvolvimento de Cannabis Medicinal no Brasil (Cannab).
Os dados da Anvisa apontam um crescimento anual de mais de 100% no número de importações destes medicamentos desde 2019. No país, até o momento, foram 66.159, próximas às 80.413 autorizações de todo o ano passado. Dentre os estados brasileiros, a Bahia ocupa o sexto lugar entre os com mais autorizações neste ano, com 3.254.
Com os dados de 2023, a Bahia registra quatro vezes mais importações do que os estados de Pernambuco e Ceará, que completam os três com maior número de autorizações na região. De acordo com o fundador e presidente da Cannab, Leandro Stelitano, o crescimento se deve por cinco fatores: aumento do número de pacientes atendidos pela entidade; o aumento no número de médicos que prescrevem o medicamento; aumento das patologias tratadas; a diminuição do preço do medicamento; e o aumento das ações judiciais dos pacientes, solicitando que o Estado realize o custeio dos medicamentos.
Liderança
“Hoje, já são mais de 30 patologias tratadas com a cannabis. Não me surpreendeu o crescimento com essa liderança da Bahia no Nordeste justamente pelos fatores. Já em Salvador, aumentou também depois da notícia da Lei da Prefeitura, que libera o medicamento pelo SUS, inclusive com o agendamento da primeira reunião do conselho que vai regulamentar a lei”, pontua Leandro.
A Prefeitura de Salvador sancionou a lei para que o SUS forneça medicamentos à base de canabidiol (CBD) ou tetra-hidro-canabidiol (THC) em março deste ano. A medida visa beneficiar pacientes soteropolitanos com agravos como epilepsia, Transtorno do Espectro Autista (TEA), Esclerose, Alzheimer e Fribomialgia, que são alguns dos quadros de saúde nos quais podem ser utilizados os fármacos à base de canabinóides e foram atestados pela própria Anvisa, segundo Leandro, que também comemora as discussões no Supremo Tribunal Federal (STF) pela descriminalização do porte e do uso da cannabis.
Além disso, ele destaca a importância da Cannab no tratamento e no encaminhamento das medicações aqui na Bahia, onde atendem, gratuitamente, 1.500 pessoas, das quais mais de 1.200 apenas na capital. A estrutura ainda contempla 16 médicos voluntários. No entanto, critica a falta de regulamentação na Bahia, que conta apenas com um projeto de lei de março deste ano para a criação de uma política estadual de fornecimento gratuito de medicamentos de derivado vegetal à base de canabidiol para a realização de tratamentos de pacientes também pelas unidades de saúde pública e privada do SUS.
Sobre as expectativas para um maior crescimento do uso dos medicamentos dentro de um contexto de votações e projetos de lei favoráveis à demanda, ele entende que será por causa de todas as esferas municipais, estaduais e federais, além da continuação do atendimento da Cannab, com cada vez mais médicos e pacientes na capital e no interior.
“Eu vejo que esse crescimento é importante e benéfico, mas para um ainda maior, atendendo toda a população com necessidade, precisamos de uma legislação para sermos produtores. Ainda é necessário importar a medicação com um custo alto. Se produzirmos aqui, teremos uma diminuição do custo e atingiremos uma quantidade maior de pessoas que não tem poder aquisitivo atualmente para a medicina canabinóide”, conta Leandro.
Por isso, reitera a relevância dos medicamentos para o tratamento das doenças. “Os resultados são excelentes em dezenas de patologias. Os tratamentos com o canabinóide são individualizados. Então, não temos uma resposta padrão para cada patologia. Cada paciente vai responder de uma forma, mas todas são positivas e eficazes”, cita.
Sandra Almeida, empresária e a mãe de Vinicius, que tem 21 anos e usa a medicação à base de cannabis há um ano e oito meses por causa dos traços de autismo, TDAH e retardo leve, relata a importância do tratamento com o medicamento. “Foi um divisor de águas. Sempre fui naturalista e estava muito resistente às drogas convencionais. Meu filho começou a ter crises muito fortes. Então, o neurologista passava algumas medicações, que eu resistia porque ele ficava muito sonolento.”
Após entrar em contato e se associar à Cannab, um psiquiatra da associação começou a acompanhar Vinicius. Neste momento, ele usou os remédios tradicionais e à base de cannabis, com Sandra ficando insegura, mas enfrentando. “Hoje, estou muito feliz porque ele, praticamente, está sem usar os medicamentos tradicionais. O efeito disso é que o meu filho ficou mais ativo e as crises quase desapareceram. Alguns médicos desconhecem esses medicamentos. É um absurdo. Eles têm que estudar sobre”.
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