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Inclusão de surdos ganha visibilidade com tema da redação do Enem

Por Erick Tedesco | A TARDE SP

07/11/2017 - 9:41 h | Atualizada em 21/01/2021 - 0:00
Aluna do Centro de Educação para Surdos Rio Branco (SP), uma das entidades que buscam manter e ampliar o debate proposto pelo Enem
Aluna do Centro de Educação para Surdos Rio Branco (SP), uma das entidades que buscam manter e ampliar o debate proposto pelo Enem -

Incentivar o debate sobre a formação educacional de surdos no país, por meio da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi, para a comunidade surda, uma pertinente maneira de expor os desafios da realidade de uma minoria que luta por garantias à vida digna e oportunidade no mercado de trabalho. E também refletir sobre o preconceito velado na sociedade.

Em Salvador, Marizanda Dantas, idealizadora e presidente da Associação de Pais e Amigos de Deficientes Auditivos do Estado da Bahia (Apada-BA), diz que trazer esta discussão à tona fez deste domingo, início do Enem, um dos dias "mais felizes" da vida dela.

Já a professora do Centro de Educação para Surdos Rio Branco, da Fundação de Rotarianos de São Paulo (SP), Miriam Caxile, destaca que esta é uma conquista das pessoas surdas e profissionais para qualificar a inclusão e disseminar o ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras) no país.

A repercussão em Salvador foi grande, conta Marizanda, que também é mãe de surdo. Com forte atuação voltada para absorção deste público pelas empresas de iniciativa privada e públicas do estado, a associação hoje tem 1.010 surdos cadastrados, preparados para trabalhar. "Somente em 2016, conseguimos inserir 817", comemora Marizanda.

As 100 crianças assistidas pela Apada-BA foram informadas ontem do tema do Enem e se entusiasmaram, conta a professora e psicopedagoga Patrícia Rocha.

Cursos superiores em Libras

"Este é um tema que sempre abordamos com os alunos, afinal, é a realidade deles. Trabalhar a identidade do surdo é um processo que promove o reconhecimento da ocupação de espaços em comum com os ouvintes e estimula o desenvolvimento social", diz a professora.

Para Miriam Caxile, o debate da educação de surdos em voga no país é uma grande conquista, e reforça o trabalho de 10, 15 anos desenvolvido arduamente pela comunidade surda. "Abordar o tema é dar visibilidade a um público que se comunica com a Língua de Sinais e tem o português como segunda língua", observa ela.

A inclusão, para Miriam, está aquém do que a comunidade surda precisa para atingir nível satisfatório de educação. "Quando se fala em inclusão em escolas regulares, qual é a demanda? Só colocá-los neste ambiente? Não, precisa de outro profissional que interprete as aulas, é necessário que este profissional seja gabaritado para tal. Não adianta fazer só um curso de 30 horas e querer já interpretar".

Faltam intérpretes para a demanda

Formação

Ela defende o incentivo à contratação de pessoal técnico e com formação adequada para equiparar o aprendizado de pessoas surdas com o de ouvintes em um mesmo lugar.

As referências na educação entre os dois públicos também são distintas, entre outras questões básicas de didática, mas que muitas vezes se perdem na falta de preparo do profissional em educação. "Peculiaridades são deixadas de fora da aula. E o aluno surdo precisa destas peculiaridades. Não basta só ter o intérprete, por exemplo: o professor tem que entrar um pouco no universo dele, aluno surdo".

Imagem ilustrativa da imagem Inclusão de surdos ganha visibilidade com tema da redação do Enem
| Foto: CES-Rio Branco | Divulgação

Criança surda atendida em instituição paulista (Foto: CES-Rio Branco | Divulgação)

Para que a educação de surdos e a inclusão não aconteçam a "toque de caixa", como aponta Miriam, é preciso que as instituições de ensino e os governos estaduais e municipais atentem para a formação dos intérpretes de Libras. Hoje se tem vários cursos superiores e pós, mas na área de inclusão de surdos e tradução. "A primeira coisa é aprender a língua, se tornar proficiente nesta língua para transitar bem em Libras e português".

Tema foi desafio para candidatos

Dissertar sobre os desafios da educação de surdos no Brasil exigiu conceitos de cidadania e sensibilidade dos candidatos do Enem. Entre críticas quanto à dificuldade e falta de preparo pelas escolas para abordar o tema, houve quem defendesse a pertinência do assunto.

A soteropolitana Gisele da Conceição, 23, achou o tema “interessante” e revelou o caminho escolhido: “Coloquei-me no lugar deles e comecei a desenvolver a redação com uma visão ampla para entender como o mundo do surdo é encarado e, muitas vezes, discriminado pela sociedade, empresas e até pela família, que tenta proteger e acaba o isolando do mundo real para que não venha sofrer preconceito”.

O estigma social de “deficiente” também foi argumento de crítica utilizado por Gisele na redação, termo que profissionais da área querem eliminar de vez para se referir a uma pessoa surda.

O estudante de engenharia de produção Tiago Viana, 20, também de Salvador, contou que os textos de apoio no enunciado da redação foram úteis para desenvolver o argumento.

As pessoas perceberam como é importante conhecer um histórico de sofrimento, se colocando no lugar do outro

“O que mais dei ênfase na redação foi à falta de investimentos, fazendo com que as classes especiais e escolas exclusivas tivessem uma decadência em termos de número de matrículas e de alunos em sala por não haver uma acessibilidade adequada e a compaixão em ajudar o próximo”, disse o candidato, que busca pontuação para garantir bolsa integral na faculdade.

“No Brasil, existe pouco investimento na área de acessibilidade e também tem a questão da falta de conhecimento da população”, complementou.

Educação bilíngue

A escola bilíngue é praticamente unanimidade na comunidade surda como a mais correta para educar os surdos. “Clamamos por uma educação bilíngue, desde bebê ao fundamental 1. Receber as informações da escola regular na língua dele e em português é bom para o cognitivo”, diz a especialista Miriam Caxile.

Para ela, a educação bilíngue ajuda a pavimentar a cultura da criança surda de que ela não está só no mundo: “Ter alguém como modelo mostra que existe o adulto surdo que é professor, ator, arquiteto, serve como estímulo”.

Só na adolescência é que ela defende a inclusão no ensino regular, quando “estão mais aptos para encarar o mundo, ter o choque da realidade, de que o conteúdo é dado em outra língua”.

Neste momento, o contato com o amigo ouvinte é fundamental. “Identifica que ele é um pré-adolescente, que fala outra língua, mas passa por todo processo de maturação como um ouvinte. Recebe informação apenas por outra via, pelo visual, não auditivo”, diz.

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