Influencers vivem entre superexposição e risco da intenção de seguidor

A invasão da casa do humorista Lord (João Marcelo) e o sequestro da irmã do tiktoker Junior Caldeirão, ocorridos nos últimos dois meses, mesmo sem evidências de ligação direta com a exposição deles nas redes sociais, alimentam o debate em torno do tema. O quanto manter uma presença digital cotidiana, com trabalhos que envolvem também sua vida e seu entorno, pode trazer riscos para a segurança de influencers e criadores de conteúdo digital?

Com mais de 830 mil seguidores no Instagram, Lord grava vídeos na área onde mora e teve sua casa assaltada no dia 28 de novembro, sendo mantido refém por cerca de uma hora. Segundo divulgado por ele, levaram o carro, celulares, uma TV e o obrigaram a realizar uma transferência bancária. O crime foi registrado na 13ª Delegacia e, de acordo com a assessoria da Polícia Civil, algumas testemunhas foram ouvidas, mas ainda não há indícios de autoria. Procurado pela reportagem, Lord não se pronunciou sobre o caso.

Nos stories postados à época, no final de outubro, Júnior disse não ter acionado a polícia pelo ritmo acelerado dos acontecimentos e que o sequestro terminou com a fuga da irmã, mas não poderia dar mais informações para preservar a segurança de todos. Com quase 13 milhões de seguidores no TikTok e 6 milhões no Instagram, suas postagens variam entre humor e seus momentos de celebridade. A reportagem entrou em contato para entrevista, mas não teve retorno até o fechamento dessa matéria.

Quebra-cabeça

Duda Maryah estava morando na Espanha quando criou seu perfil no TikTok, no entanto, seu público alvo sempre foi brasileiro. Hoje, ela tem 6,8 milhões de seguidores e, há cerca de um ano, está de volta a Salvador. Mesmo não mostrando claramente onde mora, recentemente percebeu que descobriram até o andar do seu apartamento. Como os espaços comuns e privativos do seu condomínio são cenários habituais dos seus stories, os seguidores vão observando e montando um quebra-cabeça.

“Acho que preciso ficar mais atenta em relação a esses detalhes, mas já tomo cuidados como nunca dizer, caso esteja sozinha em casa”, conta Duda, que tem 20 anos e vive com a família. A mãe é seu braço direito, estando sempre junto na gravação de vídeos e nos compromissos da tiktoker. Ela afirma nunca ter vivido situações de risco à sua segurança, o mais preocupante foram as tentativas de extorsão com ameaça de invasão da conta, o que até então tem sido resolvido com o bloqueio desses contatos.

A jovem gosta de mostrar sua vida em tempo real, à exceção dos conteúdos mais elaborados. Como concentra sua rotina na área do condomínio e nunca está em compromissos sozinha, a jovem não vê necessidade de fazer postagens com defasagem de tempo. Embora o assassinato dos rifeiros e influencers DG e Naroka tenha diversas camadas, incluindo uma condenação judicial, Duda ficou assustada com a situação, lembrando que eles estavam postando detalhes da viagem, logo indicavam a localização.

Atitude preventiva

O delay entre sua permanência em um lugar e o momento da postagem no Instagram é a regra para Nine Lemos, com 115 mil seguidores no seu perfil sobre moda e lifestyle. Apesar de não se considerar uma influenciadora, ela começou a compartilhar suas vivências há quase 7 anos, quando criou um blog sobre maternidade, posteriormente migrado para a rede social. À medida que os gêmeos foram crescendo, hoje têm 9 anos, ela foi mudando o direcionamento do trabalho.

“A rede se confunde com a minha vida, então muita coisa eu compartilho e quero guardar como memória, muita coisa eu já fazia na minha própria câmera”, comenta Nine, ressaltando que busca postar após a saída, especialmente em locais muito abertos, como praias, parques e calçadões. O foco na segurança se estende também à vulnerabilidade “real” de ficar mexendo muito tempo no celular enquanto está na rua, deixando o aparelho mais exposto e estando menos atenta ao entorno.

Os filhos ainda aparecem nas postagens, mas sempre com o cuidado de não mostrar onde estudam ou praticam alguma atividade regular. Após um período pouco interessados em fotos e afins, Nine conta que os gêmeos estão em fase de encantamento com seu lado blogueira, tanto que pediram para ela falar sobre o tema na escola.

Outro cuidado é quanto ao fornecimento do endereço para envio de produtos e afins, os recorrentes “recebidos”. Se a abordagem ocorre pelo Instagram, ela pede outros canais de comunicação nos quais possa ter maior segurança da veracidade. Sua preocupação é o risco de interagir com perfis hackeados ou contas falsas de empreendimentos, problema que tem atingido restaurantes e hotéis, com golpistas oferecendo promoções inexistentes.