SALVADOR
Jerusalém sem guerras no interior de Pernambuco
Por Sílvia Maria Nascimento / Da Ed. Turismo
Depois de provar as iguarias, de ver uma pequena prévia do que é o São João em Caruaru nas praças de eventos das feiras, a caravana de jornalistas convidados a conhecer o interior de Pernambuco seguiu para Nova Jerusalém. A cidadeteatro fica a meio caminho entre a capital do forró e a localidade de Fazenda Nova, no município de Brejo da Madre de Deus. São 55 km de distância, e um total de 180 km a percorrer desde Recife.
A Paixão de Cristo começou a ser encenada nas ruas da vila da Fazenda Nova (que hoje não tem mais que três mil habitantes) em 1951 por idéia de Plínio Pacheco, um jornalista autodidata que conhecera a filha do líder político Epaminondas Mendonça, Diva, com quem se casou. A festa entre a família e vizinhos na vila, que tinha então cerca de mil habitantes, fora idealizada por Sebastiana, mulher de Epaminondas.
Quando levada para as ruas da vila, a peça teatral ganhou também fama na região e tornou-se tão trabalhosa que Plínio Pacheco decidiu montá-la em um espaço próprio onde se cobrasse ingressos para custear as despesas da montagem.
A cidade-teatro começou a ser construída em 1963 e foi inaugurada em 1968. Este ano completou 40 anos de apresentações (incluindo, claro, a do ano da inauguração da cidade cenográfica).
CENÁRIOS O turista pode até pensar que se trata de turismo religioso.
Sim, apenas na época do espetáculo. Ele acontece na Semana Santa. Este ano teve a participação de Carmo Dala Vecchia (Jesus), Francisco Cuoco (Herodes), Herson Capri (Pilatos) e Antonia Frering (Maria) mas quem chamou a atenção mesmo foi Grazi Massafera, com suas duas ou três falas como Maria Madalena.
Se depois de ver o espetáculo o turista ficar na pousada temática, pode percorrer os cenários da cidadeteatro, tendo como guia os figurantes da peça. Vale a pena até pra tentar desvendar o mistério dos bastidores. Se der sorte, pode ser guiado pelo assistente de direção José Ramos.
O ator pernambucano, de 54 anos, natural de Limoeiro, interpreta o soldado que prende Jesus Cristo, mas sua maior atribuição é cuidar dos mais de 450 figurantes. Ele conta estórias como a de ter que providenciar, de última hora, removedor de esmalte porque a figurante para estar bonita na peça pintou as unhas. Ou ainda retirar brincos e adereços modernos dos figurinos que remontam à época de Jesus Cristo.
TURISMO TEMÁTICO A cidade tem 100 mil m² que correspondem a um terço da área murada da cidade de Jerusalém, na Palestina.
Ao falar para a imprensa, na noite especial para jornalistas e convidados, Robinson Pacheco, filho do fundador de Nova Jerusalém, disse que a obra consumiu a vida de Plínio, mas foi seu orgulho.
Plínio Pacheco morreu aos 75 anos em agosto de 2002 mas uma estátua em tamanho natural dele montado em seu cavalo e com o megafone em punho domina o centro da arena. Durante o espetáculo, a estátua vai girando em sentido horário, o mesmo que o público deve percorrer para acompanhar as cenas, e está sempre voltada para um dos palcos em que acontece a ação.
Quando vivo e antes de implantar a tecnologia de som, era o próprio Plínio que, com megafone em punho, ia conduzindo a multidão em direção às cenas. A história do fundador, seus pertences e outras informações sobre Nova Jerusalém podem ser vistos na sala-memorial na pousada temática.
Para manter a cidade-teatro em atividade, o presidente da Sociedade Teatral Fazenda Nova montou a pousada temática, criando um labirinto de becos similares aos que existiam na Jerusalém antiga.
Ela é toda coberta por trepadeiras e árvores, identificadas por placas. Nos seus ambientes o turista tanto pode se deparar com uma pracinha com mesas sobre buganvílias como com o busto de Tibério, um dos césares romanos.
Na piscina, e no restaurante, os funcionários vestem-se a rigor. Tudo pra criar o clima dos jantares temáticos onde o hóspede pode escolher os figurinos e se imaginar na Roma antiga ou em Jerusalém.
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