SALVADOR
Lagoa dos Pássaros registra maior seca de sua história
Por Daniela Castro, do A TARDE On Line
Quem conheceu o Stiep na década de 70 e for visitar o bairro hoje pode achar que errou o caminho. A paisagem já não é mais a mesma desde que o boom imobiliário tomou conta da região, trazendo a tiracolo um problema que foi ficando cada vez mais escondido pelos arranha-céus. Um deles atende pelo nome de Lagoa dos Pássaros ou Lagoa dos Urubus. Ou, pelo menos, atendia, antes que as altas temperaturas do Verão — aliadas ao descaso de autoridades e da população — provocasse o total desaparecimento de seu espelho d’água.
“O nível sempre baixa nesta época do ano, mas nunca chegou a esse ponto. A Lagoa dos Pássaros morreu”, lamenta Hendrik Aquino, ex-presidente da Associação dos Moradores do Stiep e atual diretor de comunicação da Federação das Associações de Bairro de Salvador (Fabs) e da Federação das Associações de Moradores do Estado da Bahia (Fameb). “O meio ambiente é de todo mundo mas, ao mesmo tempo não é de ninguém. O Estado deveria assumir uma parcela maior de responsabilidade, mas a população também tem culpa”, opina.
Para André Luís Carvalho, presidente da Associação dos Amigos das Lagoas do Stiep, a responsabilidade pela degradação deve ser debitada na conta da prefeitura. “Desde que esta gestão assumiu, o descaso é total. Na gestão passada, funcionou”. Carvalho se refere ao Centro de Educação Ambiental Lagoa dos Pássaros (Cealp), criado em agosto de 2004, sob a responsabilidade da Superintendência de Parques e Jardins (SPJ). O centro chegou a realizar atividades com a comunidade e a criar projetos de revitalização da região, mas foi desativado menos de um ano depois, sem que essas idéias tivessem saído do papel.
Funções dispersas
“Temos um anteprojeto de intervenção, mas ainda estamos na fase de captação de parceiros”, explica o biólogo Benedito Augusto da Silva, chefe do setor de Monitoramento e Controle de Indicadores Ambientais da Superintendência do Meio Ambiente (SMA), que há quatro anos vem acompanhando o processo. “Com a urbanização da área, a única fonte de alimentação da lagoa, que eram as dunas, deixaram de existir. E acredito que a estiagem nos últimos anos contribuiu para acentuar o problema”, opina.
Vale lembrar que a Lagoa dos Frades, que fica na mesma região e originalmente formava com a Lagoa dos Pássaros uma única laguna, foi adotada pela André Guimarães Construções, que promove ações de revitalização no local. “A Lagoa dos Frades foi adotada junto à SPJ, que era quem administrava. Com a criação da SMA, as funções acabaram ficando meio dispersas”, admite o biólogo.
Processo tramita na justiça
Diante do impasse, as duas superintendências, junto com a Prefeitura, se tornaram alvo de uma ação que, desde novembro de 2006, tramita no 1º Juizado Especial Criminal. O processo, aberto pela Associação dos Amigos das Lagoas do Stiep, responsabiliza as três instâncias por crimes contra o meio ambiente. O assessor jurídico do STJ, Olney Marques Porto, afirma que a celeuma está prestes a ser solucionada.
“O processo está parado porque não temos pessoal para ficar lá cuidando da lagoa constantemente. Mas estamos em negociação com uma empresa para que ela adote a Lagoa dos Pássaros, assim como fizemos com a Lagoa dos Frades. A prefeitura tem todo o interesse em cuidar, mas falta pessoal e orçamento. Mas acredito que isso seja solucionado em um curto prazo”, afirma.
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