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Mãe América é sepultada em Salvador

Publicado terça-feira, 07 de outubro de 2008 às 22:57 h | Atualizado em 07/10/2008, 23:58 | Autor: Maiza de Andrade, do A Tarde

A ialorixá mãe América, do terreiro Ilê Axé Ogunja Tiluaiê Orumbaia, de Massaranduba, foi sepultada, na tarde desta terça-feira, 7, no cemitério da Ordem 3ª de São Francisco, Baixa de Quintas. O caixão com o corpo da religiosa foi carregado nos ombros pelos ogãs do terreiro, em sinal de respeito à autoridade que ela exercia no candomblé.

Mãe de oito filhos, ela morreu aos 82 anos, dos quais 60 dedicados à vida religiosa. Filhos e filhas-de-santo expressavam dor e tristeza durante o sepultamento. Mesmo com a idade avançada, ela era a autoridade máxima a quem os filhos e admiradores reverenciavam. “Nos últimos dias, ela nos falava para nos unirmos e vamos fazer isso”, disse o seu filho Balbino Cabral, lembrando que ela era muito procurada pela sua sabedoria e “por ter sempre uma palavra ou um gesto amigo”, disse ele. Conciliadora, ela era uma conselheira para amigos, vizinhos e até casais do bairro, onde nasceu e foi iniciada na vida religiosa pela mãe-de-santo Aldevira de Mutá.

SUCESSÃO – Balbino deverá herdar a liderança do terreiro. Aos 53 anos e babalorixá, guiado pelo orixá Ogun, ele disse estar pronto para a função que já vinha assumindo desde o adoecimento da mãe. Pelas regras do candomblé, o terreiro não realizará festas por um ano, em manifestação de luto. “Mas continuamos com os trabalhos de atendimento aos que nos procuram”, afirmou Balbino. A retomada dos festejos ocorrerá em dezembro de 2009, com festa para Iansã, o orixá de mãe América, informou Balbino.

Acompanhado de cânticos sagrados dedicados a iku (morte), o cortejo fúnebre foi seguido por cerca de 300 pessoas, em sua maioria vestidas de branco.

O ogã Bruno Câmara disse que cantar a iku simboliza a fé do povo-de-santo na passagem de todo vivente para o orum (além). Iansã também foi saudada “por ser a mãe, aquela que recebe os espíritos ao chegarem ao orum”, disse Bruno. Na despedida final, foi cantado o hino do Senhor do Bonfim, que é a expressão máxima da fé dos baianos e que, segundo a teoria do sincretismo, seria a representação de Oxalá, o orixá superior.

O enterro de mãe América também contou com a presença de padres de formação jesuíta. Entre eles, o padre Clóvis Cabral, um dos filhos biológicos da ialorixá. Também vestido de branco, era quem consolava os mais emocionados. “Força, Pedro”, dizia ele a um dos presentes. Padre Clóvis anunciou para a  próxima terça-feira a missa de sétimo dia em homenagem à alma da mãe-de-santo.

A celebração será na Igreja de São Jorge, na Vila Rui Barbosa, Jardim Cruzeiro, às 20 horas.

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