VANDALISMO
Monumento a Jorge e Zélia será recuperado após depredação
Destruição para furto de material metálico deixou a peça no Rio Vermelho sem identificação
Por Maurício Viana*

Em um dos pontos mais famosos do boêmio bairro do Rio Vermelho, em Salvador, a placa de identificação e o pedestal do monumento em homenagem ao centenário do nascimento do escritor Jorge Amado, no Largo de Santana, serão recuperados em até cinco dias. O processo para colocar um novo pedestal de granito com placa de aço inox já está em trâmite interno na prefeitura de Salvador, na Fundação Gregório de Mattos (FGM) e Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal).
O local acumula um longo histórico de depredações, com o último caso acontecendo na madrugada desta quarta para quinta-feira. Desta vez, as estátuas de Jorge Amado e Zélia Gattai não tiveram nenhum tipo de intervenção, enquanto os restos do pedestal ficaram quebrados pelo chão, danificando e arrancando parte do piso.
O cenário depreciativo à memória e à cultura baiana já foi resolvido. A Secretaria de Manutenção da Cidade (Seman) informou que, através da Diretoria de Equipamentos e Espaços Públicos (DEE), enviou prepostos para verificação da ocorrência, limpeza e recolhimento do material vandalizado. A reposição e a reinstalação do pedestal mais a placa ficam a cargo da FGM e da Desal.
O diretor de Patrimônio e Equipamentos Culturais da FGM, Chicco Assis, relatou que o órgão já havia encaminhado ofício para a Seman e a Desal, solicitando, respectivamente, o conserto do piso e a confecção mais instalações do pedestal e da nova placa. A Desal já começou as peças nos respectivos materiais originais de aço inox e granito, como todos os demais da Prefeitura de Salvador por causa da maior resistência às intempéries do clima e da oxidação presente na capital. Esta é a terceira vez em oito anos que terá que recuperá-los.
Para Virgílio Daltro, presidente da Desal, a companhia está sempre atenta e combatendo o retrabalho em Salvador. “Por ano, a DESAL gasta próximo de R$ 450 mil reais em recuperação. Os monumentos têm recebido um tratamento especial, inclusive com o uso de tecnologia no combate as pichações”, diz.
Padrão
Em relação ao monumento, Chicco pontua que, inaugurado em 2012, ele sofreu ao menos três ocorrências mais severas de depredação, sendo a primeira delas dois dias após ter sido inaugurada. Esse é um padrão corriqueiro de ataques ao bens culturais da cidade. Ele pontua os impactos financeiros e culturais gerados ao município.
“A depender do grau de depredação, o restauro de um monumento pode ter um custo bem elevado, podendo chegar perto do alto valor da confecção de um novo. Quanto mais monumentos precisam ser restaurados, mais reduz o investimento na implantação de novos. Além disso, o vandalismo contra um monumento afeta ainda níveis simbólicos, subjetivos, que comprometem a autoestima e as narrativas históricas da população”.
Dentre as depredações, se destacam as motivadas pelo racismo e pela intolerância religiosa, com duas mais emblemáticas com os recorrentes atentados ao busto de Mãe Gilda e ao monumento de Mãe Stella de Oxóssi, além do incêndio ao marcante monumento à Cidade de Salvador de Mário Cravo Jr., que se encontra em frente ao Elevador Lacerda, no Comércio.
Reconhecendo Salvador enquanto cidade patrimônio, com mais de 160 monumentos entre Bustos, efigies, medalhões, estátuas, esculturas, hermas, painéis, memoriais, oratórios, fontes e chafarizes, ele também destaca os motivos destas depredações.
“Entendemos que parte desses atos de depredação é causada pelo desconhecimento da importância histórica e patrimonial dos monumentos e pela falta de identificação e pertencimento. Numa tentativa de minimizar essa distância entre a população e o patrimônio, a FGM, através da nossa diretoria, tem investido em ações de educação patrimonial para além das vistorias, manutenções e restauros”.
Entre eles, estão projetos como: o “Patrimônio é...”, uma roda de conversas sobre patrimônio cultural que acontece itinerante em vários pontos da cidade; e o Circuito #Reconectar, que, além de instalar placas com QR codes que direcionam para informações sobre o monumento, promove a formação de professores e visitas de alunos da rede municipal.
*Sob a supervisão do editor Rafael Tiago Nunes
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