SALVADOR
Prefeitura inicia demolição de barracas e clima fica tenso na orla
Por Paula Pitta | A TARDE On Line*
A Superintendência de Uso e Ordenamento do Solo do Município (Sucom) já concluiu a derrubada das barracas de praia de Stella Maris e farol de Itapuã na tarde desta segunda-feira, 23, em Salvador. Cerca de 102 barracas deste trecho, incluindo as de Praia do Flamengo que foram demolidas nesta manhã, foram derrubadas segundo o delegado da Polícia Federal responsável pela operação, Val Goulart.
Em farol de Itapuã, duas barracas que já estavam vazias e uma outra que tinha sido demolida pela Sucom pegaram fogo. Os barraqueiros e a Sucom negam a autoria da ação. "Isso é o povo revoltado. Ninguém está satisfeito com o que está acontecendo com a população", reclama o dono da barraca Juazeiro, uma das que foram queimadas, Noel Souza, de 37 anos.
No início da manhã, o clima ficou tenso na orla da capital baiana, quando aconteceu a demolição das barracas de praia na região do Flamengo. Vários equipamentos foram destruídos, entre eles a Barraca do Lôro, Veleiro, Marguerita e Martinho Pescador. Policiais federais estavam na área da ação para garantir que o serviço fosse realizado.
Inconformados com a situação, barraqueiros de outras praias bloquearam a Avenida Otávio Mangabeira, na altura da barraca Caranguejo e Cia, o que deixou o trânsito lento nos dois sentidos. A polícia fechou a pista em frente à Cabana da Cely e os motoristas precisaram desviar pela via interna, o que causou acúmulo de veículos em ambos os sentidos. Logo no começo desta manhã, os manifestantes queimaram palha e pneus e depois montaram uma barricada com pedaços de mesas, cadeira e vidro. Após negociações, metade da pista foi liberada por volta de 10h20.

O dono da Cabana do Juquinha, Jaime Silva, 62 anos e 34 trabalhando como barraqueiro, disse que estava disposto a tomar medidas extremas. Ele chegou a ameaçar colocar fogo na própria barraca com um coquetel molotov (garrafa com gasolina e óleo diesel). "Estou disposto a tudo, a chegar ao extremo. Que se construa primeiro uma alternativa em vez de derrubar. Essa barraca é meu único meio de sobrevivência. Não tenho mais saúde para ficar atrás de uma caixa de isopor", disse, desesperado. Os barraqueiros passaram a noite no local em vigília e pretendem continuar na área durante a semana toda.
Segundo um policial militar que estava na área e não quis se identificar, não houve ordens de serviço determinando a demolição das barracas na praia de Patamares nesta segunda.
Derrubada - A demolição dos equipamentos começou pela região de Praia do Flamengo, nesta manhã. Os donos das barracas que foram demolidas não ofereceram resistência, mas não faltaram reclamações. O proprietário da barraca Veleiro, Massimo Pascucci, disse que a demolição do equipamento representa prejuízo de R$ 700 mil.
"Eu estou a 47 metros do mar, o que significa que estaria infringindo a lei em apenas 3 metros. Isso é um absurdo, uma ditadura. Foi a própria prefeitura que construiu isso. Antes, podia ficar, agora não pode mais?".
Emocionados, muitos funcionários dos equipamentos acompanharam a demolição na praia do Flamengo. É o caso de Edcarlos dos Santos Mendes, que trabalhava como estoquista na barraca Marguerita. Com lágrimas nos olhos, ele disse que não sabe o que fazer da vida agora que está desempregado. "Isso não deveria ter sido feito desta forma", disse.
A proprietária da barraca do Lôro, na Praia do Flamengo, Rosana Santiago, reclamou da falta de mandado para derrubar as estruturas. "Parece cena de guerra com tantos policiais aqui, mas eles não têm nenhuma petição da Sucom ou da União autorizando a demolição".
Ipitanga - Os barraqueiros da praia de Ipitanga também protestaram queimando objetos na área. A prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, esteve no local para apoiar os comerciantes e disse que negociou com os agentes da Polícia Federal para não derrubarem os equipamentos porque a área, embora pertença a Salvador por lei, administrativamente é ligada a Lauro.
A gestora do município disse ainda que entrou em contato com o governador do Estado, Jaques Wagner, para que ele interceda na situação em favor dos barraqueiros. Segundo Moema, ficou acertado que os agentes da PF voltariam ao local nesta terça-feira, 24, quando ela pretende negociar novamente.
Ela disse ainda que, caso as barracas sejam mesmo demolidas, existe um plano da prefeitura para dar suporte aos comerciantes. Moema não quis dar detalhes sobre a proposta. "Se o prefeito de Salvador não se importa com os seus barraqueiros, eu me importo com os meus", alfinetou.
O tráfego de veículos foi normalizado no começo da tarde no município de Lauro de Freitas, na região da sexta ponte, segundo informou o Departamento de Trânsito da prefeitura local. Os manifestantes bloquearam o trânsito em protesto contra a demolição das barracas de praia da região, mas, ainda de acordo com o órgão, suspenderam o protesto por 24h. Na manhã desta terça-feira, o movimento deve retornar para acompanhar as demolições dos imóveis.
Derrubada -A Justiça já havia autorizado a derrubada das estruturas, mas não tinha definido o cronograma de início dos serviços. Na tentativa de chegar a um acordo, os barraqueiros ocuparam a Câmara de Vereadores na semana passada. Em maio deste ano, 98 barracas foram demolidas. Ao todo, 352 equipamentos devem ser destruídos.
*Contribuiu Felipe Amorim, do A TARDE
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