SALVADOR
Produção desenfreada de lixo é herança da globalização
Por Tássia Novaes
A produção excessiva de lixo é uma característica natural da sociedade de consumo estabelecida com a consolidação do fenômeno da globalização, como analisa o sociólogo polonês Zygmunt Bauman no livro Modernidade Líquida. Para Bauman, as pessoas passaram a gerar mais lixo devido ao consumismo, já que a prioridade não é acumular bens, mas usá-los e descartá-los em seguida, a fim de abrir espaço para as novidades mercadológicas.
A vida consumista baseada na velocidade e na busca por novidades gera a rotatividade dos produtos, sendo necessário o descarte constante dos resíduos. “Sustentamos uma visão equivocada de que lixo é algo que não pode ser aproveitado e essa é uma idéia insustentável do ponto de vista ambiental. As pessoas têm que aprender a não gerar lixo e o que for gerado pode ser reutilizado ou reciclado antes de ir para o aterro”, sugere Moraes.
Preocupada com questão, já que atualmente em Salvador apenas uma parcela insignificante do lixo é reaproveitada, a Limpurb vai dar início a uma campanha de conscientização com desdobramento nas escolas da rede estadual de ensino públicas para mostrar as vantagens da coleta seletiva. Serão feitas palestras com distribuição de cartilhas que orientam a população a reciclar o lixo doméstico. A data de início e a duração da campanha , entretanto, não foi divulgada.
“Os aterros têm duração limitada e o transporte dos resíduos até o destino final é muito caro, temos que conscientizar a população sobre esse processo para que as pessoas passem a, pelo menos, reciclar os lixos nas residências”, diz Fátima Sampaio, técnica da diretoria de operações da Limpurb.
Pioneiro numa pesquisa de arqueologia do lixo no Brasil, o engenheiro André Wagner Andrade também considera essencial reduzir a geração de resíduos. Com um estudo de caso no aterro sanitário de Mogi das Cruzes, em São Paulo, Andrade concluiu que cerca de 90% dos objetos coletados não precisariam estar ali, no aterro, pois eram passíveis de reutilização ou reciclagem. “Imagina a economia que seria feita. Teríamos redução dos gastos com o transporte dos resíduos até o aterro, além de desmontar essa preocupação mundial de ter áreas cada vez maiores para descartar o lixo de forma segura, sem falar que seria possível gerar renda com o material reciclado”, avalia.
Segundo informações da Limpurb, são geradas 2.377 toneladas de lixo por dia em Salvador. A empresa concessionária, Vega, cobra R$ 71 por tonelada de lixo coletada, o que significa gasto de aproximadamente R$ 60 milhões por ano apenas com a coleta de lixo no município. “Salvador não tem uma política pública para estimular a minimização dos resíduos, tem apenas um projeto acanhado de coleta seletiva, que atinge uma parcela muito reduzida da população, é praticamente inexpressivo”, opina Moraes.
Atualmente, a Limpurb faz coleta seletiva em 12 bairros de Salvador com o apoio de cooperativas que fazem a reciclagem de materiais como papéis, vidros, plásticos e metais. “Não podemos esquecer que têm muitos catadores na rua que desviam o material antes de ir para o aterro”, sinaliza Fátima Sampaio.
Para Wagner Andrade o destino final do lixo merece outro tipo de atenção, além do desenvolvimento de políticas de incentivo à coleta seletiva. “O lixo também tem o papel de acervo histórico. Ter conhecimento do resíduo produzido pelas pessoas, tudo aquilo que é jogado no aterro, é uma outra forma de entender a sociedade atual. Por que esperar anos para estudar o material que já está ali? Podemos fazer agora a análise de dados para as gerações futuras", sugere.
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