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SALVADOR

Religiões: Bruxaria, o auto-conhecimento pela Magia

Por Carina Rabelo

01/01/2007 - 10:45 h

Hugo Vinícius tinha 18 anos quando decidiu escapar do carnaval de Salvador para relaxar na Ilha de Itaparica. Durante a viagem, um homem chamou a sua atenção no ônibus quando lia o livro ‘As Mulheres, as Bruxas e a Igreja’, uma das obras de referência no campo do ocultismo.



Ao perceber que o garoto o observava com tanta curiosidade, o homem lançou uma olhar firme para ele e perguntou: “Você se interessa por magia?”. Hugo respondeu que lia sobre o assunto desde os 14 anos e, imediatamente, foi convidado a sentar na poltrona ao lado. A partir daí, começou a amizade do garoto com Lvpercvs Gael, um dos maiores magos da Bahia.



Logo após a viagem, Hugo foi convidado a fazer parte do coven Wicca ‘Círculo da Lua’, que reunia 18 bruxos em encontros semanais no bairro de Itapuã. Poucos meses após ter começado a freqüentar os encontros, ele foi convidado a morar com Gael no coven.



“Minha mãe nunca se opôs ao fato de eu ter escolhido a bruxaria. Ela foi hippie quando era jovem e acredito que por isso sempre tenha achado tudo normal. Ela respeita todo o tipo de escolha. Também não houve qualquer problema quando eu decidi sair de casa com 19 anos”, conta Hugo, que adotou o nome de Órion Lvnae após sua iniciação na bruxaria.



Dois anos depois, Órion decidiu deixar o Círculo da Lua e se dedicar sozinho às práticas. Decepcionado com os covens, o rapaz apostou na fé individual para o seu aperfeiçoamento como ser humano.



“Acho que existe muita disputa de poder na prática da bruxaria em Salvador. As pessoas ficam mais preocupadas em desmerecer a iniciação do outro do que em se aprofundarem no auto-conhecimento. Há muita discussão sobre que tipo de linha de bruxaria é melhor, qual a mais poderosa, etc. Há muitas pessoas que se consideram guias ou mestres sem ter condição de assumir esta responsabilidade”, avalia.



Órion hoje tem 22 anos e é um daqueles jovens que surpreende qualquer ouvinte. Dono de uma eloqüência rara, ele tem um conhecimento em magia que impressiona qualquer conhecedor. Ele já leu mais de 20 livros sobre o tema e procura estudar sempre. “Primeiro, os frutos em mim, depois alimentar os outros com eles”. Este é um dos seus lemas.



“Atualmente, pratico exercícios voltados para aguçar os sentidos e aflorar outros ditos sobrenaturais. Sigo alguns rituais thelêmicos e celebro os sabaths [festas sagradas], mas não faço parte de nenhum coven específico”.



Bruxaria moderna e tradicional - Nanci Matos tinha apenas 13 anos quando despertou a curiosidade pela bruxaria. Influenciada por uma amiga wiccana, ela começou a ler sobre a religião na Internet. Após três anos de pesquisa, a garota soube da existência de uma escola de bruxaria tradicional em Salvador – a Casa Telucama. Imediatamente, Nanci disse aos pais que queria fazer parte do grupo.



“Meus pais são católicos, mas não se colocaram contra o meu interesse pela bruxaria. Como eu era menor na época, minha mãe teve que conversar com a suma sacerdotisa para que ela autorizasse a minha matrícula na escola”.



Após um ano de aulas na Casa Telucama, Nanci foi batizada como Dierna pela suma sacerdotisa do templo, Graça Azevedo – neta de Checa Cruz, sacerdotisa da casa Telucama em Portugal, que trouxe a tradição para o Brasil em 1917.



Dierna completou três anos de estudos na casa e hoje, com 19 anos, já usa o ‘cordão verde’ – utilizado apenas pelas alunas mais adiantadas. Ela é uma das bruxas mais jovens da escola.



“Não se escolhe ser bruxa, a pessoa tem que nascer bruxa. Não é um caminho fácil, pois além das obrigações no templo, ainda sofremos muitas discriminações. No colégio que estudei, alguns pais queriam transferir seus filhos da turma quando souberam que havia uma bruxa na classe”.



Crítica à ‘banalização’ – Para os bruxos da Casa Telucama, a Wicca foi banalizada pela adesão indiscriminada de adolescentes encantados com o mundo da magia. Para selecionar o público, a escola passou a aceitar apenas jovens que tenham algum conhecimento prévio em bruxaria.



“Apenas aceitamos na casa jovens acima de 18 anos e que passem no teste de seleção de conhecimentos, justamente para evitar a presença de adolescentes movidos pela simples curiosidade. Tem gente que chega aqui pensando que vai aprender feitiços para arranjar namorado ou a ganhar dinheiro, mas não é nada disso. As bruxas têm uma grande responsabilidade com a natureza, por isso, quanto mais magia se sabe, menos se faz”, explica a Senhora Telucama, ao falar sobre o aumento ‘assustador’ do interesse dos adolescentes pela religião.



Dierna acredita que a auto-iniciação da Wicca atende a um público muito jovem e que quer apenas ingressar na bruxaria para chamar atenção. “A idéia original da Wicca era ser uma facilitadora para a iniciação do bruxo. Mas o que está acontecendo hoje é uma banalização total da religião. Tem gente que lê um livro básico de ensinamentos e já se considera iniciado, afinal, é muito legal sair por aí de preto, com um pentáculo no pescoço, e se considerar bruxo. Os adolescentes querem tanto ser diferentes que acabam se tornando iguais”.



Para Amaro Braga, sociólogo e especialista em Wicca, a bruxaria moderna atrai o jovem porque oferece uma possibilidade de diferenciação dos demais. “A Wicca se aproxima das outras tribos urbanas pelo requinte e por uma visão de mundo particular e inovadora. Estes novos ‘bruxos’ muitas vezes são punks, grunges e jogadores de RPG, que vivenciam na prática seus personagens feiticeiros”.



História da Religião - A bruxaria moderna é um produto da sociedade ocidental e ressurge com força no século XIX, através do Movimento do Romantismo. Neste período, a idéia de bruxaria perde seus aspectos negativos de manifestação demoníaca. Em países como a Inglaterra e a Alemanha; a religião Wicca está inserida na idéia de neo-paganismo, movimento religioso surgido em meados da década de 60 que retira sua inspiração das culturas dos povos nativos indo-europeus, abarca as culturas “pagãs” do Sul (a Helênica e a Druídica) e as culturas “bárbaras” do Norte (Céltica e Nórdica) da época pré-cristã.



A bruxaria neo-pagã tem como centro de sua doutrina, o auto-conhecimento, no sentido do aperfeiçoamento individual de seus praticantes. Inspirada diretamente no misticismo e esoterismo moderno ocidental, ela procura despertar, ou resgatar, no indivíduo a espiritualidade, a fim de liberar o sujeito de condicionamentos sociais, que no seu entender, o afastariam de sua essência como ser.



A bruxaria tradicional tem suas raízes no período pré-histórico, influenciada pelas antigas práticas e cultos xamânicos. Historicamente, o papel social das bruxas tradicionais era dividido entre a prestação de auxílio à população na cura de problemas de saúde (problemas da carne, da psiquê e do espírito) e o contato com os espíritos dos mortos e dos deuses - encaminhando espíritos recém-desencarnados aos seus destinos, obtendo favores das divindades e fazendo previsões do futuro. A transmissão dos ensinamentos é oral e as hierarquias, em geral, são hereditárias. O bruxo deve estar vinculado a um coven.



A bruxaria moderna, embora se relacione firmemente com a bruxaria tradicional, surge historicamente com Gerald Gardner, com a criação da Wicca no ano 1954, que adotou novos elementos de práticas secretas e de feiticeiras não tradicionais, como as ciganas e as italianas (stregheria). Tem influencias do druidismo e de conceitos de origem oriental. A tradição que segue os ensinamentos e práticas específicos, conforme estabelecidos por Gardner, é denominada ‘Tradição Gardneriana.’ Além dela, muitas outra tradições de Wicca se desenvolveram. A transmissão é feita através de escritos e não há vínculos hereditários entre os bruxos. É uma doutrina que facilita a auto-iniciação, sem necessidade de pertencimento a um grupo específico.



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