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SALVADOR

Salvador é terreno fértil para igrejas

Por JORNAL A TARDE

20/02/2006 - 0:00 h

Em um ano, a Sucom liberou alvará de funcionamento para 216 novos templos religiosos, todos de orientação evangélica



Cleidiana Ramos




Salvador já foi definida como a cidade das 365 igrejas, uma para cada dia do ano. Isso, embora nunca tenha sido conferido na ponta do lápis, só se referia aos templos católicos. No caso dos evangélicos, a diversidade é significativa. Um exemplo dessa fertilidade religiosa: de janeiro a dezembro do ano passado, a Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município (Sucom) liberou alvará de funcionamento para 216 novas igrejas. No primeiro mês deste ano foram 16. Todas de orientação evangélica. E o curioso é quem nem sempre suas denominações são conhecidas.



Por vários bairros da cidade, espalham-se comunidades com títulos como Igreja Batista Encontro com Cristo e Igreja Pentecostal Fogo Ardente, na Liberdade. Em Brotas, fica a Igreja Pentecostal Arca da Aliança. A Batista Missionária Peniel, funciona no bairro de Pirajá. A lista de alvarás da Sucom traz exemplos como Igreja Pentecostal a Palavra de Deus tem Poder, Primeira Igreja Batista Noiva do Cordeiro, Igreja Batista Missionária Videira Verdadeira, dentre outras.



E as igrejas não apenas aproveitam prédios já edificados, mas fazem surgir novos. No ano passado, a Sucom liberou 17 alvarás de construção. Desses, apenas dois eram para templos católicos.



Os outros foram distribuídos da seguinte forma: sete Batista, cinco da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), dois para a Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias e um para a Adventista. Ou seja, são denominações mais conhecidas. Isso mostra que as menores optam por reaproveitar edificações prontas.



Saber detalhes dessas comunidades não é tarefa fácil para quem está de fora. De cinco líderes procurados, apenas o da Igreja Pentecostal Atos dos Apóstolos, Alex Guedes de Jesus, aceitou falar.



Segundo o último Censo do IBGE, realizado em 2000, s evangélicos representam 15,41% da população do Brasil. Na Bahia, são 11,18% e, em Salvador, 13,29%. Quando se procura uma relação sobre essas denominações menos conhecidas, a listagem é chamada de “outras religiões evangélicas” e representam 0,75% da população no Brasil, 0,36% na Bahia e 0,40% em Salvador.



Velocidade – O surgimento de igrejas novas começou com a reforma feita por Martinho Lutero, no século XVI. Monge católico, Lutero passou a criticar abertamente aspectos da doutrina da Igreja e fez a tradução da Bíblia, então apenas em latim, para o alemão, o que possibilitou a sua interpretação mais livre, motivos pelos quais foi excomungado. Seu gesto iniciou o surgimento de outras manifestações ao longo do tempo.



O fenômeno novo é que, há mais ou menos dez anos, esse processo ganhou uma velocidade impressionante. “Essa difusão de novas igrejas é uma característica própria do chamado neopentecostalismo”, explica o doutor em antropologia Claudio Pereira.



Essa denominação é usada para o movimento religioso surgido em décadas recentes. Ele é um desdobramento do pentecostalismo clássico, disseminado no início do século passado. Ambos têm como marcas a forte crença nos poderes do Espírito Santo, enfatizando revelações sobrenaturais, curas, batalhas espirituais entre o bem e o mal, dentre outras. No caso dos neopentecostais, é muito forte a utilização dos meios de comunicação, principalmente TV e rádio, para disseminar os princípios que regem seus cultos e crenças.



“Embora elas funcionem de uma maneira independente, é possível fazer uma genealogia de cada uma delas, pois têm parentesco com alguma linha anterior”, explica Pereira, que em sua tese de mestrado estudou o chamado “falar em línguas”.



Ele é bem próprio dessas igrejas e se baseia na narrativa bíblica de que as primeiras comunidades cristãs, inclusive os apóstolos de Jesus, após receberem o Espírito Santo em forma de línguas de fogo, passaram a falar em vários idiomas estrangeiros, numa espécie de transe.



O estudo de Pereira intitulado “O Batismo de Fogo-Falar em Línguas”, foi realizado no início da década de 1990. Ele conta que, já nesse período, durante sua pesquisa no bairro de Cosme de Farias, foi possível contabilizar 21 igrejas. “Elas têm uma organização pequena, geralmente com não mais de 80 membros, num modelo em que é privilegiado o contato direto entre os integrantes da comunidade numa interação pessoal maior”, diz.



Estrutura mais simples e enxuta



Nas igrejas mais tradicionais, como a Católica, há uma série de normas regulamentadoras das suas atividades e uma complexa rede de hierarquia. Ninguém abre uma nova unidade sem autorização do bispo, por exemplo. Esse por sua vez responde, localmente, pelo governo-geral que fica no Vaticano e é exercido pelo papa. Com essas pequenas comunidades religiosas essa estrutura é mais simplificada.



Por outro lado, o seu reconhecimento como organização religiosa por seus integrantes independe de regras legais. Isso significa que os fiéis não estão preocupados com alvarás de licenciamento ou obediência a trâmites legais, pois inclusive não há nenhum tipo de regulamentação no Brasil para que uma manifestação religiosa possa ser considerada como tal. As normas limitam-se à autorização para funcionamento ou construção.



A Constituição, inclusive, garante liberdade de culto. “O que vai fazer a religião são os seus padrões sociais, a sua ritualidade e tudo o que gere a experiência religiosa. É isso que importa às pessoas. A preocupação com a documentação, por exemplo, é uma obediência a normas que, do ponto de vista de quem participa da comunidade, não tem importância”, acrescenta.



O comando dessas igrejas, geralmente, fica na mão do pastor que assume a coordenação do ritual e acumula as funções administrativas. Diferente das organizações religiosas mais tradicionais, o líder que vai ocupar essa função não precisa passar por uma formação específica em teologia.



Uma outra característica dessas igrejas é fazer uma referência às raízes primitivas do cristianismo, considerando-se herdeiras dele. Daí a adoção de nomes que remetem às primeiras comunidades como “Antioquia”, “Chama Viva do Espírito Santo”, dentre outras.



Mensagens sem obstáculos



O pastor Alex Guedes de Jesus, 33 anos, é o responsável pela Igreja Pentecostal Atos dos Apóstolos, localizada na Avenida San Martin. Com cinco anos de criada, essa denominação já começa a estender sua forma de organização, pois tem unidades também em Cajazeiras, Águas Claras, Tancredo Neves e até no interior, em Jaguaquara.



O crescimento já impôs a definição de uma igreja-sede, no caso a que fica em Sussuarana. A Atos dos Apóstolos segue bem o padrão dessa denominações tão pouco conhecidas: é uma organização surgida a partir de pessoas que saíram da Igreja Batista do Caminho das Árvores e da Assembléia de Deus.



“O Senhor é grande e mais forças só ajudam na sua obra. É uma forma de se expandir o Evangelho de Cristo”, analisa o pastor Alex. Ele não fez teologia, mas diz que se sentiu chamado por Deus para o serviço que atualmente realiza, o que considera o bastante para realizá-lo com segurança. “Não se pode colocar obstáculos para a glória de Deus”, diz.



A unidade da San Martin foi aberta há três meses e possui 100 membros efetivos chamados de congregados. Mas, segundo o pastor, os cultos costumam reunir 250 pessoas.



Tradicionais têm estrutura mais complexa



A Igreja Anglicana é um dos mais conhecidos ramos do chamado protestantismo histórico. Ela surgiu em 1534, com a separação da igreja da Inglaterra do Vaticano e com o tempo ganhou outros estilos como o evangélico. O Livro de Oração Comum é o traço de unidade entre os seus segmentos.



Mas, embora exista a diversidade de estilos, os anglicanos têm uma hierarquia bem parecida com a católica. O arcebispado mais importante é o de Cantuária na Inglaterra, atualmente ocupado pelo arcebispo Rowan William. Há dioceses e paróquias, pontos de missão, bem como bispos, reverendos-que tem as funções sacerdotais – e os diáconos.



No Brasil, a Igreja Episcopal Anglicana tem oito dioceses, sendo que a Bahia está vinculada à de Recife. “A Igreja tem seus fóruns próprios para se discutir as mais variadas questões, inclusive a criação de uma paróquia ou ponto missionário, que não pode ser feito sem o encaminhamento aos setores próprios para esse fim”, diz o reverendo Josafá Batista, responsável pela Paróquia do Cristo Salvador, em Itaparica e por três pontos missionários em Camaçari.



O reverendo explica que há outras comunidades anglicanas que se consideram independentes como a Igreja Episcopal Reformada do Brasil, e Igreja Episcopal Carismática do Brasil, dentre outras.



Já o ramo batista é agrupado por convenções. Os que estão fora delas vão formar o bloco dos independentes. “Há ainda o grupo dos pentecostais tradicionais, cujo exemplo maior é o pertencente à Convenção das Assembléias de Deus no Brasil, sem esquecermos dos neopentecostais, cujo expoente maior é a Igreja Universal do Reino de Deus”, completa o reverendo.



SAIBA MAIS



As igrejas mais tradicionais formaram o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs. (Conic). O objetivo é discutir temas comuns e reforçar o diálogo entre elas. Participam do Conic a Igreja Católica Apostólica Romana, a Igreja Católica Ortodoxa Siriana do Brasil, Igreja Cristã Reformada, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Metodista e Igreja Presbiteriana Unida.



Denominações de igrejas



Salvador:
Igreja Batista Vem Viver, Primeira Igreja Batista Noiva do Cordeiro, Igreja Evangélica Leão da Tribo de Judá, Igreja Volta de Cristo Universal Pentecostal, Igreja Batista Pentecostal Cristo tem Poder, Igreja Pentecostal Fogo Ardente, Igreja Evangélica Templo do Deus Vivo Sal da Terra, Congregação das Irmãs Filhas da Igreja, Igreja Pentecostal Labareda de Fogo.



Outras regiões do Brasil: Igreja Evangélica Florzinha de Jesus, (Londrina, PA); Igreja Pentecostal Esconderijo do Altíssimo (Anapólis, GO); Igreja de Deus que se Reúne nas Casas (Itaúna, MG); Ministério Favos de Mel (RJ); Igreja A Serpente de Moisés, a que Engoliu as Outras (RJ); Assembléia de Deus com Doutrinas e sem Costumes (RJ); Igreja Evangélica Pentecostal Cuspe de Cristo (SP)

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