SALVADOR
Subúrbio oferece mais do que belas paisagens
Por Mary Weinstein, do A TARDE
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Para chegar a Vista Alegre, é pegar a Suburbana ou a Estrada da Base Naval, ou do Derba. Passar pelo Viaduto de Águas Claras, atravessar um bambuzal e virar a primeira à esquerda. A paisagem que se abre é tranqüila e pouco densa. Até se vê um pastor conduzindo bois e vacas pela rua principal, a Franco Velasco, denominada assim em homenagem ao pintor ilusionista nascido em Salvador no século XIX, autor, por exemplo, do teto da Igreja do Bonfim e dos painéis inspirados na Paixão.
Estudante da 6ª série da Escola Monteiro Lobato, Denilson Barbosa, 16 anos, leva as 20 reses de seu Hermes para pastar dia após dia. Por isso, ganha R$ 150 ao mês. Assim, o patrão pode vender o leite que produz à vizinhança, a R$ 2 o litro.
Em Vista Alegre, o comércio é fraco, diferente de outros centros de subúrbios agitados. Não há farmácia, açougue, nem agência bancária. Em geral, os moradores detestam confusão e até nos bares o ritmo é lento. Apesar de quererem facilidades por perto, gostam da tranqüilidade e aproveitam a única área de lazer que têm: um campo de futebol grande e outro pequeno, disputadíssimos todos os domingos.
Na verdade, Vista Alegre de Coutos subdivide-se em três segmentos, e cada um deles tem uma representação comunitária. Os blocos de edificações são bem espaçados. São dois núcleos de prédios de conjuntos residenciais com até quatro andares que compõem o pedaço chamado de Vista Alegre de Cima e Vista Alegre de Baixo, e um outro de casas. O nome Vista Alegre vem da visão que se tem do alto de suas colinas, de onde se admira a Enseada de Tubarão, que precede a de Paripe, na Baía de Todos os Santos.
A presidente da Associação Shalom Clube de Mães de Vista Alegre de Baixo, Genilza Miranda, 40, conta como o bairro começou. “O Inocoop tinha construído as moradias para a classe média. Os proprietários devolveram as chaves porque não gostaram do lugar. O pessoal não quis vir morar aqui. Então, os pobres invadiram os apartamentos e acabaram ficando com os imóveis”, explicou, achando que nesse caso houve justiça, porque as unidades foram formalmente registradas em nome dos que passaram a usufruir delas, como donos dos imóveis.
Genilza acha que a falta de transportes é o principal problema de Vista Alegre e fala mal das muriçocas, surgidas do córrego que corta o lugar. “Precisamos de um centro social, que não tem. Aqui não tem onde pagar contas. Outro dia, recebi uma da Marisa, de R$ 2 e tive de gastar R$ 4 com ônibus para o meu nome não ir para o SPC”, indicou Genilda.
“O melhor de Vista Alegre é o sossego”, disse Isaque Rocha, 25, que estuda eletromecânica em Nazaré e se queixa do transporte. Ele acha que estar cercada por invasões, como a de Coutos, contribui para a ocorrência de violência. “Aqui estava tendo umas violenciazinhas. Agora, não. A polícia está trabalhando”, observou Cleodenício Souza Pinto, 40, solteiro, chapista, dono de uma Parati 98, que todo o dia faz o trajeto para Periperi, onde mora.
Vista Alegre tem todos os programas de saúde da família funcionando graças a enfermeiros e agentes que moram na região. Agora, médico, o posto de saúde não tem. Isso, há dois meses. Por conta dessa falta, Juliana, de 4 anos, com a mãe Josileide dos Santos e a irmã Crislei, teve que ir a Periperi para ser medicada. As meninas de Josileide têm que estudar em colégio particular, a R$ 45 mensais, cada, porque as duas escolas públicas do bairro não atendem às expectativas da mãe: “O ensino é fraco e nenhuma delas é em Vista Alegre de Cima. Fica longe descer para a Vista Alegre de Baixo”.
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