JUSTIÇA
Trabalhadores dos Correios buscam criminalização de assédio moral
Audiência pública no MPT revela omissão da direção da empresa diante de ocorrências
Por Priscila Dórea
Marcada por uma séries de depoimentos fortes, e falas pertinentes de representantes sindicais e de órgãos ligados ao mundo do trabalho, a audiência pública, na manhã da segunda-feira, 25, no Ministério Público do Trabalho (MPT), escancarou o comportamento omisso da direção da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Correios) diante do recorrente número de denúncias de assédio moral contra a empresa, que não enviou representante para a audiência.
Entre relatos e discussões em busca de uma solução para uma situação que só se agrava – não só na Bahia, mas em todo o Brasil – os próximos passos serão: tentar obter junto ao Senado uma audiência pública para discutir o assédio moral no setor público e agitar o legislativo para que haja celeridade na tramitação do Projeto de Lei (PL) que criminaliza o assédio moral.
Expectativa
“Esperamos que essa lei possa abolir, se não completamente, ao menos 90% dos casos de assédio. Não é fácil para as vítimas denunciarem, porque há muita coisa envolvida, mas isso tem mudado nos últimos anos. Precisamos pressionar os parlamentares para que essa tramitação saia do lugar e o assédio moral seja caracterizado como crime no Código Penal”, afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos no Estado da Bahia (Sincotelba), Josué Canto.
Entre sobrecarga de trabalho, imposição de tarefas fora do código de conduta - com a gestão, por exemplo, exigindo que funcionários coloquem “destinatário ausente” no status de encomendas que nem saíram da unidade -, ameaças administrativas e perseguição, a funcionária dos Correios, Roberta Santos (nome fictício), conta que os episódios começaram no final de 2013, quando a gestão passou a dar carta branca para que supervisores e gerentes da unidade agissem como bem quisessem.
“Procurei o serviço social e os recursos humanos da empresa, mas não fui bem recebida. Acredito que os cargos mais altos do Correios agem em conjunto contra os outros funcionários, principalmente contra os carteiros. A gente se sente muito pequeno no meio deles. Foi só quando procurei o sindicato que tive minha causa abraçada”, conta a funcionária que prefere não ser identificada.
Houve uma situação onde a sobrecarga de trabalho deu a Roberta duas hérnias de disco e ela precisou realizar uma cirurgia.
“Fiquei acamada por cerca de 10 meses sem poder trabalhar, e quando dei entrada no CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) com todos os documentos, o pedido foi recusado por todos os setores da empresa”, relata.
“Na nossa perspectiva é um problema de gestão em todas as unidades dos Correios e caracteriza violação dos direitos humanos. O que mais assusta é que as vítimas estão virando réus e os assediadores estão saindo livremente”, afirmou o procurador Ilan Fonseca, se referindo à prática de alguns dos acusados de entrarem com ações judiciais contra suas vítimas sempre que são denunciadas, enquanto os assediadores são mantidos nas funções.
Denúncia
De acordo com o advogado do Sincotelba, Marcus Vinicius Cruz Mello da Silva, a situação se mostrou crítica quando foi descoberto que mais da metade das advogadas da empresa na Bahia sofriam assédio moral.
“Eles fingem que o problema não existe, e por conta disso se ajuizou uma ação em nível nacional, porque percebemos que era um problema de todo o país. Essa audiência pública é uma forma primeiro de ouvir os funcionários e deixar evidente para a sociedade o grave problema existente nos Correios”.
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