SALVADOR
Tragédia aérea da TAM marca família baiana
Por Francisco Artur*

O mecânico de aeronave ultraleve Geraldo Silva Júnior se preparava para ir jogar futebol quando soube, há 10 anos e um dia, da queda do avião da TAM 3054, que partiu de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e colidiu com o prédio da própria companhia, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
O maior acidente da história da aviação brasileira transformou-se em uma tragédia particular para Geraldo, a esposa, Wilmária Sandra Leite Silva, e toda a família. Isso porque, na lista de 199 mortos constava o nome do filho caçula do casal, Janus Lucas Leite Silva, 26 anos.
"Estava esperando ele. Tínhamos marcado de pegar o baba juntos", lembra o pai, da expectativa de matar a saudade e dividir o campo com o filho flamenguista.
Analista de suprimentos da empresa Braskem, Lucas foi a trabalho para Porto Alegre. "Ele estava animado com o emprego e a empresa, onde contribuiu desde a época de estudante, quando era estagiário", diz Geraldo.
Além do entusiasmo com o ofício, o analista também tinha planos de casar com Clara Patrícia Guimarães. Eles eram noivos e dividiam o mesmo apartamento. Geraldo perdeu o contato com a antiga nora. Ele conta que a realidade da família mudou "radicalmente" depois do acidente.
"Saí de Salvador após a morte do meu filho. Tudo no meu antigo apartamento, no bairro do Rio Vermelho, me lembrava Lucas", explica Geraldo, que também ressalta o sofrimento da esposa.
Atualmente, a filha mais velha de Geraldo, Vênus Leite da Silva, mora no apartamento. O casal vive em uma casa na praia de Barra do Jacuípe, orla de Camaçari (Grande Salvador).
Geraldo ainda trabalha com manutenção de aviões, mas evita viajar. "E quando preciso ir para São Paulo, jamais pouso em Congonhas", revela.
Ao longo desses 10 anos, ele teve que fazer várias viagens à capital paulista para negociar a indenização com a TAM. A conversa foi mediada pela Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo TAM JJ 3054 (Afavitam).
"Para evitar o desgaste emocional, optei pelo acordo. O valor foi dividido entre eu e minha esposa, minha filha e a noiva de Lucas", finaliza. Nesta segunda-feira, 17, Vênus reuniu familiares para orar em memória do irmão.
Impunes
Uma década após o acidente com o voo 3054 da TAM, ninguém foi punido. O Ministério Público Federal (MPF) pediu, no ano de 2014, 24 anos de prisão para a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, e do então diretor de segurança de voo da TAM, Marco Aurélio dos Santos de Miranda, por atentado contra a segurança de transporte aéreo.
Para o MPF, Denise Abreu e Marco Aurélio Miranda teriam assumido o risco de expor a perigo as aeronaves que operavam no terminal.
No entanto, no mês passado, o Tribunal Regional Federal (TRF) inocentou os acusados. Os desembargadores que compõem o colegiado decidiram, por unanimidade, pela absolvição dos envolvidos.
* Sob a supervisão do editor-coordenador Luiz Lasserre
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