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Transporte público: desafio na vida dos soteropolitanos

Usuários do sistema relatam atrasos e superlotação; moradores de regiões periféricas são os mais prejudicados

Publicado quinta-feira, 01 de setembro de 2022 às 00:15 h | Autor: Jade Santana*
Usuários de ônibus têm reclamado da quantidade insuficiente  de veículos circulando  e da superlotação
Usuários de ônibus têm reclamado da quantidade insuficiente de veículos circulando e da superlotação -

Com atrasos, carros cheios e linhas descontinuadas, cidadãos soteropolitanos denunciam a falta de transporte público na capital baiana. De acordo com a Secretaria de Mobilidade de Salvador (Semob), atualmente 1.800 veículos circulam nas ruas da cidade, número que se encontra ajustado com a quantidade de usuários transportados pelo sistema.

"É humilhante a situação do transporte público em Salvador. Os pontos de ônibus estão cada vez mais cheios, carros superlotados e os ônibus passam em intervalos de 30 a 40 minutos. Me sinto humilhada ao utilizar o transporte na capital", diz Cristiane Cruz, estudante de Administração no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba). 

A estudante relata que depende do transporte público para se locomover para o Ifba e que vem encontrando, junto a outros colegas do Campus do Barbalho, problemas para fazer o mesmo desde o início da pandemia de Covid-19, momento em que linhas foram descontinuadas e a quantidade de veículos rodando na cidade diminuiu.  

"Como os ônibus demoram de passar durante todo o dia, os alunos que estudam de noite acabam chegando depois da meia noite em casa. Sinalizamos essa dificuldade a Secretaria de Mobilidade de Salvador no semestre passado, mas a diminuição no intervalo da passagem dos ônibus na região depois das 22h só aconteceu na semana passada, quando fizemos uma nova denúncia”, conta Cruz. 

“Agora, esperamos que esses ônibus extras passem todos os dias e não só na primeira semana após a reclamação dos alunos”, afirma.

Estudante do Ifba desde 2014, Silvana Lima conta que desde aquela época sofre com o uso do transporte público, mas que a situação dos transportes públicos ficou insustentável com a volta às atividades universitárias após a pandemia. 

De acordo com Lima, o principal ônibus que passa em frente ao Ifba ofertado no horário de término das aulas, 22h, o Macaúbas/Acesso Norte, não é suficiente para atender a demanda dos mais de 2 mil alunos no Ensino Superior, fora os servidores que fazem uso de transporte coletivo no período da noite. 

“Depois das várias denúncias que fizemos, finalmente colocaram mais um ônibus para a Estação Acesso Norte nesta semana, e senti uma diferença absurda no retorno para casa porque, pela primeira vez em cerca de 10 anos, foi possível pegar o metrô e o segundo ônibus na Estação Pituaçu com muito mais rapidez e segurança”, diz a também estudante de administração.

Problemas na cidade

Apesar da mobilização dos estudantes do instituto quanto a dificuldade de locomoção via transporte público na cidade, não são só os alunos do Ifba que têm reclamado do problema em Salvador. Segundo, Kilson Melo, presidente da Federação das Associações de Bairros de Salvador (FABS), todos os soteropolitanos, desde estudantes a trabalhadores e donas de casa, vêm sendo afetados pela falta de ônibus na capital. “Existe a necessidade urgente de se colocar mais transportes nas ruas com a qualidade que foi prometida, principalmente nos horários de pico”, afirma. 

“Salvador, como outras capitais, vem sofrendo muito com transporte público. Os bairros periféricos, principalmente, têm sofrido muito com o corte das linhas e com aumento do transporte sem a devida qualidade de serviço”, aponta Melo. 

“No centro da cidade você tem mais facilidade de pegar o transporte, além de uma quantidade maior de linhas, mas quando chega em alguns bairros mais distantes, é um sufoco muito grande para quem mora em bairros como Cabula, São Caetano, Subúrbio Ferroviário, Cajazeiras, Valéria e Pirajá, por exemplo”.  

“Nós da FABS recebemos centenas de queixas das outras associações espalhadas pela cidade, também já discutimos com a Secretaria sobre o problema, e pedimos mais linhas para esses bairros periféricos, principalmente no horário de pico, mas nada foi resolvido ainda. Já tivemos várias reuniões e não se tem uma solução concreta para ajudar as trabalhadoras e trabalhadores ”, relata. 

Segundo o presidente da federação, 40% das pessoas que moram nas periferias de Salvador hoje já não pegam mais ônibus por conta do preço alto e da baixa qualidade do serviço. 

Frota ajustada

Por meio de nota, a Semob explica que em 2019, antes da pandemia, o sistema contava com uma frota de aproximadamente 2.200 ônibus e transportava 20 milhões de usuários pagantes mensalmente. “Após a pandemia, a frota passou para 1.800 ônibus, transportando, entre janeiro e julho de 2022, aproximadamente 15 milhões de passageiros, uma redução de 25% dos usuários pagantes transportados. Portanto, mesmo com a redução da frota, esta se encontra ajustada com o número de usuários transportados pelo sistema”, diz o documento.

“Além disso, ajustes operacionais garantiram que linhas de maior demanda fossem reforçadas com aumento do número de viagens realizadas principalmente nos horários de pico, garantindo um atendimento mais rápido aos usuários. O sistema também tem passado por reestruturação buscando facilitar a integração entre ônibus e metrô, tornando o deslocamento pela cidade mais rápido e eficiente”, finaliza o órgão. 

Já a Integra, associação de empresas que administra as linhas de ônibus em Salvador, informou, através de Jorge Castro, diretor da instituição, que 1.672 carros rodam atualmente na cidade.

Em julho deste ano, o Conselho Estadual de Saúde (CES) cobrou da Semob o cumprimento das medidas acordadas entre as partes em janeiro, que dentre outras medidas, estabeleceu o aumento da frota de ônibus nas ruas da cidade em 100%, porém a instituição relata que desde o acordo, nada mudou. De acordo com Marcos Gêmeos, presidente do Conselho, desde o acordo, houve o aumento de cerca de apenas 60 carros, com a promessa de que logo mais ônibus voltariam para as ruas, mas que isso ainda não aconteceu. 

Gêmeos também contesta o número de carros que circulam em Salvador apresentado pela Semob. 

“De 2.200 ônibus que tínhamos circulando antes da pandemia, estávamos com 1.600 há pouco tempo e hoje em dia são 1.664. Mesmo com o aumento, a sensação que temos é que a quantidade continua insuficiente para a demanda da cidade, e não temos nenhuma promessa de aumento de linhas ou de carros nas ruas", diz.  Segundo ele, o CES recentemente enviou novo ofício à Semob reforçando a cobrança. 

 *Sob a supervisão do editor Rafael Tiago Nunes

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